Título: Ciro é convidado para novo gabinete sem o aval do PSB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2010, Politica, p. A6

A presidente eleita, Dilma Rousseff, convidou Ciro Gomes para integrar seu governo e revoltou o PSB. A conversa de Dilma com Ciro ocorreu na quinta-feira, após o presidente nacional do PSB, Eduardo Campos (PE), passar três dias em Brasília sem conseguir reunir-se com a presidente eleita. Na sexta, os dois se encontraram na Granja do Torto. Dilma comunicou o desejo de trazer Ciro para o governo. Irritado, Campos advertiu que, se ela o fizesse, seria na cota pessoal.

Segundo apurou o Valor , para dar um peso ainda maior ao seu gesto, Dilma insinuou que Ciro poderia ser indicado para uma pasta importante, como a Saúde, um dos ministérios para o qual ela tem enfrentado dificuldades de definir o ocupante. Campos insistiu que o destino de Ciro no governo Dilma seria uma decisão pessoal, isto é, ele não integraria a cota do PSB.

Campos deixou a Granja do Torto por uma porta lateral, sem falar com a imprensa, e se dirigiu à sede do PSB para conversar com líderes socialistas. Ao comunicar o ocorrido, deixou claro que foi criado cum impasse sobre a participação do partido na nova gestão.

A entrada de Ciro no rol dos ministeriáveis gera dois problemas. O mais grave, na opinião de líderes, foi o movimento de Dilma de procurar Ciro sem consultar Campos. Ciro pediu prazo - até quarta, dia 15 - para dar resposta. O deputado disse antes ao presidente do PSB que não tinha interesse numa vaga no ministério. O comando do PSB também confiava que as negociações para o ministério seriam feitas a nível institucional.

Para pessoas ligadas a Ciro, o gesto do político, que negociou diretamente com Dilma e ignorou a hierarquia partidária, seria a vingança dele por ter sido obrigado, por Campos, a abrir mão da disputa presidencial. Na ocasião, Campos operou para que o PSB apoiasse Dilma já na primeiro turno.

Integrantes do partido alertaram Campos de que um interlocutor oculto estaria atrapalhando negociações da legenda com a equipe de transição.

Além disso, começaram a surgir ataques a Márcio França, nome apoiado pela bancada do PSB no Congresso para ocupar a Secretaria dos Portos. Pessoas contrárias à escolha alegavam que o PSB paulista tem forte ligação com o PSDB de Geraldo Alckmin e que França tinha sido um dos principais entusiastas da candidatura de Ciro Gomes para governador de São Paulo. Como os militantes da legenda sabiam que essa era uma estratégia, na verdade, planejada pelo presidente Lula, com o objetivo de auxiliar a candidatura presidencial de Dilma - e não uma jogada criada pelo deputado paulista -, socialistas começaram a ver nisso o sinal de que alguém queria minar a força do partido junto à Dilma.

Com a entrada de Ciro no cenário, o quadro de indicações do PSB muda completamente. Até quinta, o cenário apontava para a indicação do Secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Fernando Bezerra Coelho, para ministro da Integração Nacional. O único empecilho, que parecia contornável, era a recusa do senador Antonio Carlos Valadares (SE) em aceitar ser ministro da Micro e Pequena Empresa para abrir a vaga de suplente para o presidente do PT, José Eduardo Dutra (SE).

Embora Dilma tenha usado o Ministério da Saúde para mostrar a Ciro sua intenção de contemplá-lo com uma pasta relevante, a aposta mais firme é que o ex-presidenciável pelo PSB vá para o Ministério da Integração Nacional. Com isso, Fernando Bezerra Coelho seria transferido para a Secretaria dos Portos e Márcio França ficaria sem nada. Num cenário rejeitado pelo PSB, Ciro assumiria a Integração Nacional e manteria o afilhado Pedro Brito na Secretaria dos Portos.