Título: Discurso dos líderes do partido fala em meta e gestão
Autor: Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 13/12/2010, Politica, p. A8

Um dos discursos mais recorrentes entre os quadros do PSB é o de que o partido não se atém a discussões ideológicas supostamente inócuas - o que o diferenciaria por exemplo da tradição do PT. Resultado, gestão, meritocracia são palavras que fazem parte do vocabulário compartilhado pelos integrantes da legenda. O que vale para a arena eleitoral serve também na hora de governar: pragmatismo.

"O importante é que o governo dê resultados para a população. O melhor discurso é o exemplo. Tem que ter metas, não pode gastar mais do que arrecada, enfim, são orientações que qualquer um aplica em sua casa", diz Beto Albuquerque (RS).

O princípio da boa gestão é um mantra que está na ponta da língua dos políticos do PSB. O modelo é o mesmo utilizado pelo ex-governador de Minas Aécio Neves, cuja administração ficou marcada por ter posto ordem na casa e reduzido a folha de pagamentos que comprometia até 70% do orçamento. É uma matriz que tem inspiração no Movimento Brasil Competitivo (MBC), criado pelo empresário Jorge Gerdau e que estimula a aplicação de métodos da iniciativa privada na gestão pública.

O modelo começou com Aécio, também é imitado pelo governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, mas parece ganhar impulso como prática de um partido pelo PSB. Em Pernambuco, Eduardo Campos monitora as ações de seu governo por meio de 606 cronogramas que estabelecem metas a serem rigorosamente cumpridas.

A metodologia é fornecida pelo Instituto de Desenvolvimento Gerencial (INDG), que também faz o acompanhamento dos resultados. A empresa de consultoria, criada pelo engenheiro Vicente Falconi, tornou-se a principal parceira para a aplicação das ideias defendidas pelo Movimento Brasil Competitivo. Falconi foi um dos responsáveis pela execução do chamado "choque de gestão" no governo Aécio Neves.

Os temidos cronogramas do INDG são a base de cobranças, de punições e premiações a integrantes dos diferentes escalões. Policiais e professores, por exemplo, podem receber um 14º salário, caso tenham tido um bom desempenho.

Além de Pernambuco, o esquema também é utilizado por Cid Gomes, no Ceará, e deve ser aplicado pelos novos governadores do PSB: Renato Casagrande (ES), Ricardo Coutinho (PB) e Camilo Capiberibe (AP).

Outra prática que atrai é a criação das chamadas organizações sociais (OS), pelas quais os funcionários do governo podem ser contratados e demitidos pelo regime da CLT.

"O modelo celetista permite sermos mais exigentes. A estabilidade do emprego leva à perda do poder gerencial", afirma Cid.

A importância dada a valores como eficiência e meritocracia faz com que o PSB se aproxime de um ideário mais identificado com o PSDB.

O partido, porém, tenta tirar desta bandeira sua conotação ideológica. O discurso é o de que ela consiste apenas de ferramentas essenciais para produzir e entregar bens públicos. E deveria ser encampada como o próximo ponto consensual da política brasileira. A boa gestão seria um novo indiscutível conceito, da mesma forma que o valor da democracia foi aceito por todos após o regime militar, no anos 80, e a ideia de responsabilidade fiscal prosperou, na década de 90, independentemente da visão ideológica.

Um sinal de que a bandeira da eficiência pública pode ser a bola da vez na agenda pública é a recorrente menção da presidente eleita Dilma Rousseff à meritocracia, palavra que desperta desconfiança e crítica entre militantes de esquerda.

Na quinta-feira da semana passada, Dilma convidou o empresário Jorge Gerdau a montar um núcleo com o objetivo de melhorar a gestão pública em seu governo. (CK)