Título: PMDB prefere Pasta com obras à Previdência
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 08/12/2010, Política, p. A10

O Ministério da Previdência transformou-se na principal divergência entre o governo de transição e o PMDB. O partido não quer assumir uma Pasta sem capacidade de investimento e com enorme potencial para desagradar eleitores, diante da necessidade de realização de reformas para conter o crescente déficit nas contas. Inicialmente cotado para assumir a Pasta, o senador eleito Eduardo Braga (PMDB-AM) disse aos seus pares que preferia ficar no Senado. A cúpula partidária apresentou como alternativa o nome do senador Garibaldi Alves Filho (RN), mas Dilma ainda aguarda para saber qual será a real posição do PMDB, pois a bancada do Senado segue insatisfeita com as opções reservadas ao partido. Articuladores políticos do partido afirmam que não podem assumir um Ministério tão complexo, com uma situação financeira explosiva a médio e longo prazo, sem ter a certeza do que o futuro governo fará na área. Reclamam também que no governo Lula controlavam o Ministério da Saúde, das Comunicações e a Integração Nacional e Dilma quer ceder a eles Turismo e Previdência. "Perdemos prestígio", reclamou um parlamentar do PMDB.

Braga tinha interesse em assumir um cargo no primeiro escalão, pois seu principal adversário ao governo do Amazonas, Alfredo Nascimento (PR), deve mesmo permanecer no comando do Ministério dos Transportes. Na manhã de ontem, os senadores propuseram aos deputados uma troca: a Previdência iria para a cota da Câmara, Wagner Rossi (indicado para o Ministério da Agricultura) assumiria o Ministério do Turismo e Eduardo Braga seria ministro da Agricultura.

Os deputados não aceitaram a troca. Além de acreditarem que a indicação para o Ministério da Previdência é problema dos senadores, Rossi é afilhado do vice-presidente eleito, Michel Temer, e já está no Ministério da Agricultura desde abril deste ano. Surgiu a ideia, então, de deixar que os líderes partidários negociem direto com a presidente eleita, afastando Temer desse papel por acreditar que ele faz jogo duplo - presidente do partido e integrante do governo. "Isso é uma briga interna do PMDB que não vamos nos meter. Para nós, o interlocutor continua sendo Temer", resumiu ao Valor um integrante da equipe de transição.

A presidente eleita já fez o convite formal - devidamente aceito - para os outros três integrantes do PMDB que farão parte do primeiro escalão ministerial: Wagner Rossi para a Agricultura, Edison Lobão para Minas e Energia e Pedro Novais, deputado maranhense ligado ao senador José Sarney, para o Turismo. Com Garibaldi, a conversa ainda não ocorreu, pois ninguém tem certeza se a indicação será mantida ou trocada novamente.

Ficou acertado também com Dilma que o ex-governador do Rio, Moreira Franco, assumirá a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), Pasta que ganha força com a aquisição do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social e a responsabilidade de elaborar um plano nacional de saneamento básico e de destinação de resíduos sólidos. Moreira só aceitou o cargo após as mudanças estruturais promovidas na secretaria.

A presidente eleita Dilma Rousseff deve conversar hoje com o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, para definir os espaços do PSB no governo federal. O partido recuperou o Ministério da Integração Nacional, que será ocupado pelo secretário de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, Fernando Bezerra. Vai manter também a Secretaria dos Portos, sob o comando de Pedro Brito.

O terceiro ministério do PSB será ocupado pelo senador Antonio Carlos Valadares (SE), que abrirá uma vaga no Senado para o presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra. Dilma avisou ao PSB que precisa de Dutra no Senado. Valadares e o PSB aceitam, mas não gostaram muito da alternativa apresentada por Dilma: assumir o Ministério da Micro e Pequena Empresa, que será criado em 2011, considerado inexpressivo no organograma político federal.