Título: Virou conflito
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 23/07/2010, Mundo, p. 16

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, aproveitou a presença midiática do ex-craque, Diego Maradona, técnico da seleção argentina, para um lance de efeito indiscutível e desdobramentos incalculáveis: rompeu todas as relações com o governo da Colômbia.

O chanceler Nicolás Maduro anunciou em seguida que os diplomatas colombianos teriam prazo de 72 horas para deixar o país. Momentos antes, o embaixador de Bogotá perante a Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Alfonso Hoyos, havia denunciado formalmente, em reunião extraordinária pedida por seu governo, a presença de 87 acampamentos da guerrilha colombiana em território venezuelano, custodiados de alguma maneira pelas Forças Armadas locais. Hoyos lamentou o rompimento e classificouo como uma decisão errônea de Caracas.

Chávez também decretou alerta na fronteira e mencionou explicitamente o risco de um confronto armado entre os dois países sempre atribuindo a responsabilidade ao presidente colombiano, Álvaro Uribe, a quem classificou como um doente, cheio de ódio. Uribe é capaz de mandar montar um acampamento simulado do lado venezuelano para bombardeálo e causar uma guerra, acusou, oficializando um conflito diplomático a pouco mais de duas semanas para a posse do sucessor de Uribe, Juan Manuel Santos. Isso me causa uma lágrima no coração. Espero que se imponha a racionalidade na Colômbia que pensa, completou.

Na sede da OEA, em Washington, o representante colombiano apresentou fotos e vídeos que comprovariam a presença guerrilheira do lado venezuelano da fronteira, incluindo registros de conhecidos comandantes das Farc, como Jesus Santrich e Pablito.

Vamos mostrar as imagens de três acampamentos das Farc, chamados Ernesto, Berta e Bolivariano, que ficam 23km no interior da Venezuela, afirmou Hoyos. O embaixador mencionou registros de conversas dos rebeldes para tráfico de armas e drogas, material que seria de interesse judiciário para sete países que não foram mencionados pelo nome.

Hoyos sugeriu à OEA que constitua uma comissão verificadora para visitar os lugares detalhados nas fotografias e comprovar se há ou não guerrilheiros. Se a Venezuela considera que isso é uma montagem, então não terá nenhum problema em deixar que entremos em seu território, afirmou, como se respondesse de antemão a Chávez. É necessário desenvolver essa missão de verificação nos próximos 30 dias, não deixemos passar mais tempo, pediu aos colegas.

Depois de chamar o colega de mentiroso, obsessivo e mafioso, o presidente venezuelano disse esperar que o novo governo colombiano contribua para que não ocorra um ato mais grave.

Sério e com olhar inquisitivo, Maradona perguntou a Chávez se Santos não é do mesmo caminho de Uribe. A pergunta provocou gargalhadas dos dois e dos jornalistas convidados ao Palácio de Miraflores. Agora, Maradona é jornalista e provocador: está tirando o lugar de alguns de vocês, brincou o anfitrião.

Ele não perdeu a chance de lembrar, em sua resposta, que Santos foi ministro da Defesa de Uribe e que teria dito certa vez que o presidente venezuelano era mais perigoso que as Farc. Maradona concluiu o encontro afirmando que a verdade é que o povo colombiano não tem culpa (pelos atritos externos de seu governo).

Ao fim da reunião extraordinária da OEA, o secretário-geral José Miguel Insulza tratou de colocar panos quentes na crise e pediu aos dois governos que acalmem os espíritos e busquem um caminho, pois avalia que esses temas devem ser primeiro abordados de maneira bilateral.

Manifestamos nossos bons ofícios, a OEA manifestou sua intenção de mediar, mas os que têm de dirimir isso são os dois países, em comum acordo.