Título: Cabral defende a ampliação do aborto legal
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 15/12/2010, Politica, p. A10

"Quem não teve uma namoradinha que precisou abortar?", indagou Cabral O governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), fez uma declaração polêmica ontem ao defender a legalização do aborto. "Será que está correto 1 milhão de mulheres todo ano fazerem o aborto, talvez mais, em que situação, de que maneira? Não vamos enfrentar, então está bom. Então o policial na esquina leva a graninha dele, o médico lá topa fazer o aborto, a gente engravida uma moça - eu não porque já fiz vasectomia e sou bem casado - mas engravidou. Quem é que aqui não teve uma namoradinha que precisou abortar?", disse Cabral em seminário sobre oportunidades de negócios no Rio promovido pela revista "Exame".

Depois, explicou que falava de homens com namoradas que engravidaram e abortaram em clínicas clandestinas. "É a vida como ela é. Só que o sujeito de classe alta tem uma clínica clandestina de aborto, mas em melhores situações", disse.

Cabral defende a ampliação dos tipos de casos em que o aborto é permitido. A lei brasileira permite a interrupção da gravidez a vítimas de estupro e de mulheres sob risco de morte. Segundo o governador, o tema foi mal explorado nas últimas eleições e precisa de nova e ampla discussão na sociedade. "Do jeito que está está errado, falso, mentiroso e hipócrita. É uma vergonha para o Brasil", afirmou. Durante a campanha, o candidato derrotado José Serra (PSDB) explorou o tema. Na época, a mulher do tucano, Mônica Serra, declarou que a presidente eleita e então adversária Dilma Rousseff era "a favor de matar criancinhas".

Para Cabral, "ninguém é a favor do aborto" e é preciso atender o direito da mulher a recorrer a um serviço público para interromper uma gravidez. "Imagino que não tem nenhuma mulher no mundo a favor e nenhum homem. Mas uma coisa é uma mulher, por necessidade física, psicológica, orgânica, psiquiátrica, desejar interromper uma gravidez. Acho que o poder público tem que estar preparado para atender essa mulher. Isso é uma hipocrisia", disse.

Em 2007, Cabral chegou a defender a legalização do aborto como política de segurança pública. O governador argumentava que a taxa de natalidade em favelas superava a de bairros ricos e chamou a Rocinha de "fábrica de produzir marginal". (Com agências noticiosas)