Título: Indústria terá 8º ano de expansão acima do PIB
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 16/12/2010, Especial, p. A16

Enquanto o governo brasileiro tenta minimizar a tese de desindustrialização nacional, as autoridades na Argentina sustentam a teoria de que o país vive um processo de reindustrialização desde a crise econômica de 2001 e 2002. A ministra da Indústria, Débora Giorgi, afirma que o setor caminha para o oitavo ano seguido de crescimento superior ao do PIB. Segundo ela, haverá expansão de 8,2% em 2010, enquanto a economia como um todo aumentará 7,6%.

Em duas recentes apresentações a investidores estrangeiros, Giorgi enumerou quatro pilares para justificar o movimento de reindustrialização: a manutenção de uma taxa de câmbio competitiva, uma política de desendividamento e de redução da volatilidade financeira, um mercado doméstico em expansão acelerada e uma estratégia clara de proteção à indústria contra a "concorrência desleal". "Não vamos cair novamente no canto da sereia e exportar apenas commodities. Só com o fortalecimento da indústria é que vamos dar trabalho a 40 milhões de argentinos."

Graças a essas políticas, de acordo com Giorgi, a produção industrial cresceu mais nos últimos anos do que em qualquer outro período recente. Os dados do ministério apontam que o setor teve expansão de 45% entre 1990 e 1998, depois recuou 30% entre 1999 e 2002, e cresceu 81% entre 2003 e 2008.

Para os pesquisadores Ricardo Ortiz e Martín Schorr, da Universidade Nacional de San Martín, que fizeram um estudo sobre o assunto, houve um movimento de recuperação após um longo período de desindustrialização nos anos 90. Mas esse processo esteve sustentado pela megadesvalorização do peso, em 2002, e se concentrou na primeira metade da década. Como participação no PIB, segundo os dois pesquisadores, a indústria passou de 15,4% em 2001 para 16,8% em 2004, mas patina desde então. No período, a substituição de importações e a ociosidade das fábricas puxaram a indústria.

No entanto, Ortiz e Schorr dizem que não houve uma "redefinição do perfil de especialização industrial da Argentina" e que o país continua dependendo de multinacionais e de recursos naturais - agroindústria, petróleo, químicos, aço e alumínio. O secretário-geral da União Industrial Argentina (UIA), José Ignacio de Mendiguren, reclama: "Com a exceção de setores menos dinâmicos, como calçados e têxteis, não há uma estratégia industrial de longo prazo".

A Fundação Mediterrânea, um centro de estudos mantido pelo setor privado, avalia que o crescimento da indústria na Argentina está cada vez mais atrelado ao desempenho da economia no Brasil. Neste ano, o mercado brasileiro deverá alcançar participação recorde de 50% como destino das exportações industriais argentinas. Essa fatia havia chegado a 49% em 1997, durante o governo Menem, mas caiu progressivamente até atingir 26,8% do total em 2003.

O economista Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb, diz que um número crescente de empresas brasileiras se instala no país para se aproveitar do câmbio mais competitivo e exportar para o Brasil. Segundo ele, a presença de companhias brasileiras mais do que quadruplicou desde 1998, subindo de 63 firmas para as atuais 280.

Na Argentina, o número de empresários e economistas que apontam um processo de desindustrialização é bem menor do que no Brasil, mas eles existem. Um deles é Paolo Rocca, presidente do grupo Techint, que vê a economia argentina acompanhando um processo de "primarização" de toda a América Latina. Estimativas projetam um superávit comercial de US$ 12 bilhões neste ano, mas as importações de produtos industriais deverão superar as exportações em mais de US$ 18 bilhões. Os maiores déficits estão nos setores de máquinas, autopeças, químicos e plástico e borracha. (DR)