Título: Ajuste fiscal e câmbio são os desafios para AL, avalia BID
Autor: Rittner , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 20/12/2010, Brasil, p. A4
A saúde das contas públicas e o enorme fluxo de dólares à região são desafios para a América Latina em 2011, diz o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno. "Estamos vivendo a década da América Latina. Conseguimos uma estabilidade muito importante, temos uma cesta de produtos básicos muito demandada e uma classe média crescente. Mas não há dúvida que, na macroeconomia, vamos enfrentar desafios", afirmou Moreno ao Valor, em um intervalo das reuniões que manteve em Foz do Iguaçu, durante a 40ª cúpula de presidentes do Mercosul, na semana passada.
"Há um tsunami de dólares buscando oportunidades. As oportunidades buscam os países onde há crescimento e não há dúvida que os fluxos de capitais continuarão chegando", comenta. Discreto em suas avaliações, ele não dá um receituário aos governos da região, mas opina que "a consolidação é o grande debate do momento" e adverte que manter o rigor nas contas públicas pode desagradar aos políticos, "mas é sempre boa decisão no longo prazo".
O BID não faz projeções macroeconômicas, mas Moreno acredita que a América Latina crescerá entre 4,5% e 5% no próximo ano. Fazendo a ressalva de que nem todos os países da região são afetados da mesma forma pelo desempenho da China, ele lembra que um fator externo importante é "quanto cresce a capacidade de consumo".
Argentina, Brasil e Chile - e o Peru em menor medida - são os latino-americanos cujo comércio exterior mais depende dos chineses, segundo o presidente do BID. "Pode até ser que a economia chinesa diminua o ritmo, mas o que importa é sua capacidade de consumo. O país já concentra 25% do mercado de luxo do mundo, por exemplo."
Observador da reunião de cúpula do Mercosul, Moreno sugere acelerar o processo de integração na América do Sul e lembra que "às vezes isso esbarra em detalhes". Segundo ele, "há espaço para uma integração mais pensada nas cadeias de valor. Há um aspecto político, mas também um aspecto de execução. Digamos que amanhã se construa uma rodovia conectando o Brasil à Colômbia, diminuindo o tempo de viagem dos caminhões. Não se pode chegar à aduana e ficar parado quatro horas na fronteira".
Mesmo dizendo-se favorável à liberalização comercial, Moreno reconhece que há dificuldades políticas que impedem a aceleração de negociações com os países industrializados. "Os EUA têm acordos com a Colômbia e com o Panamá, que estão bloqueados no Congresso americano há quatro anos. E a ameaça comercial do Panamá aos Estados Unidos é zero."
Citando uma recente pesquisa divulgada no "The Wall Street Journal", ele lembra que 52% dos americanos se dizem contrários ao livre comércio. "Eu menciono isso, porque obviamente seria muito bom ter acordos comerciais com os países industrializados, mas politicamente há dificuldades grandes em acelerá-los - seja pelo alto desemprego ou pela sensação de que o comércio com os emergentes traz mais ameaças do que vantagens."
Paradoxalmente, segundo ele, foram as economias latino-americanas - onde o comércio exterior representa uma proporção menor do PIB - que atravessaram a crise financeira mundial com menos problemas.
"Nas economias centro-americanas, mais de 50% do PIB é comércio exterior. Não é o caso dos países do Mercosul. De certa forma, isso os ajudou na crise, já que têm um mercado interno forte. O canal de transmissão da crise na América Latina não foi financeiro, mas o comércio exterior", argumenta o presidente do BID.
A direção do banco tem se reunido com autoridades do governo federal e do Rio de Janeiro para apoiar projetos que ajudem a deixar um legado positivo dos grandes eventos esportivos, a Copa do Mundo e a Olimpíada, que o Brasil receberá nos próximos anos. Com as 12 cidades que sediarão a Copa, o BID tem um relacionamento histórico. Considerando-se as operações em preparação, no período entre 2000 e 2014, o conjunto de investimentos financiados pelo órgão acumula US$ 8,3 bilhões.
No Rio de Janeiro, especificamente, o banco apoia projetos do Prodetur (desenvolvimento do turismo), do Procidades (revitalização urbana e melhoramento integrado de bairros) e o Favela-Bairro (adotado para urbanizar as favelas cariocas).