Título: Com Padilha, PT retoma pasta do PMDB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 21/12/2010, Política, p. A7
O novo ministro da Saúde, Alexandre Padilha, não era a primeira opção para o cargo. Médico infectologista formado pela Unicamp, com especialização pela USP, Padilha começou a ser cotado para o Ministério da Saúde diante das dificuldades enfrentadas pela presidente eleita, Dilma Rousseff, para conseguir um técnico para ocupar uma das duas pastas escolhidas por ela como vitais em sua gestão - a outra é a Segurança Pública. No primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva a pasta era do PT (Humberto Costa) mas depois foi para as mãos do PMDB (José Gomes Temporão).
A ideia inicial de Dilma era indicar o sanitarista Sérgio Cortês, secretário de Saúde do Rio e criador das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), mas ele foi anunciado prematuramente pelo governador Sérgio Cabral , obrigando Dilma a desautorizá-lo e retomar as consultas.
A presidente passou a dar sinais de que queria um grande nome da área, fora dos partidos. Padilha começou, então, a intensificar o lobby para assumir a pasta. Contando com o apoio da bancada do PT no Congresso, ele articulou apoio junto a governadores, prefeitos, aproveitando os contatos políticos iniciados quando foi subchefe de Assuntos Federativos da Presidência, entre janeiro de 2007 a setembro de 2009, e o périplo que fez na campanha deste ano para formar as chapas do governo nos Estados, especialmente a montagem das disputas ao Senado.
Padilha também fez contatos com as associações médicas e de profissionais de saúde, para que seu nome ganhasse ainda mais influência. Um integrante da equipe de transição disse ao Valorque o poder de convencimento de Padilha é grande. "Eu não sei o que ele faz, mas é impressionante que onde ele vai sempre tem uma claque enorme atrás", disse um nome certo na equipe de Dilma Rousseff.
Entre 2000 e 2004, Padilha coordenou o Núcleo de Extensão em Medicina Tropical do Departamento de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da USP. Nesse período, foi coordenador de Projetos de Pesquisa, Vigilância e Assistência em Doenças Tropicais, no Pará, um trabalho realizado em parceria com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS) e o Fundo de Pesquisa em Doenças Tropicais da Organização Mundial da Saúde.
Em 2004, foi trabalhar como assessor para a prefeita Maria do Carmo, em Santarém (PA) e, no mesmo ano, ingressou definitivamente no governo federal, ao ser convidado para assumir o cargo de diretor Nacional de Saúde Indígena da Funasa, no período mais agudo de morte de bebês indígenas em Dourados (MS).
A partir de 2005, Padilha, militante petista desde a juventude - em sua posse como ministro o presidente Lula brincou que, se soubesse o quão petista ele era, teria pensado duas vezes antes de nomeá-lo - deixou de lado a administração médica e intensificou seu trabalho político. Fez carreira na Secretaria de Assuntos Federativos, começando como chefe de gabinete, passando para subchefe e assumindo a pasta com a saída do titular, Vicente Trevas.
Com o apoio da bancada petista, assumiu a articulação política quando o então ministro José Múcio Monteiro foi indicado ao Tribunal de Contas da União. Na campanha de Dilma, auxiliou na montagem de palanques estaduais. Acertou na composição do palanque único no Piauí, mas não conseguiu ajudar na recomposição PT-PMDB no Pará.