Título: IED e gastos em alta devem elevar déficit externo em 2011
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 22/12/2010, Finanças, p. C3
O Banco Central (BC) ampliou para US$ 64 bilhões a projeção para o déficit em transações correntes do país no próximo ano. A estimativa original para o rombo nas contas externas em 2011 era de US$ 60 bilhões, segundo cálculos do BC divulgados em setembro.
Em percentual do Produto Interno Bruto (PIB), o déficit esperado passou de 2,76% para 2,85%. De acordo com o chefe do Departamento Econômico (Depec) do BC, Altamir Lopes, os novos números refletem a conjuntura atual de retomada do Investimento Estrangeiro Direto (IED), que havia decepcionado no primeiro semestre, e a perspectiva de aumento dos gastos dos brasileiros com viagens internacionais e das despesas com aluguel de máquinas e equipamentos por parte das empresas brasileiras decorrente dos maiores investimentos feitos no ano.
O BC ampliou a perspectiva de gastos no exterior por turistas brasileiros de US$ 11,5 bilhões para US$ 12 bilhões no próximo ano. Para as despesas com aluguel de equipamentos, a autoridade monetária elevou a projeção de US$ 13 bilhões para US$ 14,5 bilhões.
Para os números de 2010 o BC também revisou para cima suas projeções para essas duas rubricas. Dispêndio com viagens passou de US$ 10 bilhões para US$ 10,5 bilhões, enquanto gastos com aluguéis de máquinas foi de US$ 11 bilhões para US$ 13,5 bilhões.
Ainda com relação aos dados de 2010, o BC manteve a expectativa de fechar o ano com um déficit em transações corrente de US$ 49 bilhões, ou 2,49% do PIB.
A conta de transações correntes do Balanço de Pagamentos brasileiro foi deficitária em US$ 4,696 bilhões, maior valor da série para meses de novembro. No acumulando do ano, o rombo chega a US$ 43,459 bilhões, ou 2,34% do Produto Interno Bruto (PIB). A expectativa do BC para dezembro é de novo déficit de US$ 5,5 bilhões.
O BC alterou ainda a perspectiva de saldo positivo da balança comercial deste ano, que subiu de US$ 15 bilhões para US$ 17 bilhões. Também revisou a entrada de investimentos externos diretos (IED), de US$ 30 bilhões, como estimado em setembro, para US$ 38 bilhões, agora. "Ouso dizer que deve ultrapassar essa projeção", disse Lopes. Até novembro o IED acumula US$ 33,136 bilhões. Em dezembro, até o dia 21, os investimentos já somam US$ 4,6 bilhões, com previsão de chegar a US$ 4,9 bilhões até o dia 31, segundo estimativa do BC.
"Mais importante é que são investimentos difusos, do ponto de vista de volume e na distribuição setorial, o que é extremamente positivo", completou Lopes. Ele lembrou que, no passado, os investidores estrangeiros concentravam aplicações de longo prazo no setor de serviços. Para 2011, a previsão de US$ 45 bilhões em IED foi mantida.
Por outro lado, o BC acredita em menores remessas de lucros e dividendos tanto para este ano quanto para 2011. A projeção caiu de US$ 32 bilhões para US$ 28,7 bilhões em 2010 e de US$ 36 bilhões para US$ 33 bilhões na estimativa feita para o próximo ano. Segundo Lopes, os números refletem um certo desaquecimento da atividade econômica no país, o que evidentemente reduz os lucros e por consequência as remessas. Além disso, diz o chefe do Depec, como o país cresce mais do que o resto do mundo, as multinacionais tendem a ampliar os reinvestimentos no país, como forma de capitalizar esses ganhos.