Título: Governo estuda trens de passageiros
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2010, Brasil, p. A2
O transporte ferroviário de passageiros, modalidade praticamente extinta no Brasil, poderá voltar à carga com a inauguração das ferrovias em construção pela Valec. O plano do governo, segundo José Francisco das Neves, presidente da estatal, prevê que os 9,7 mil km de malha ferroviária em construção no país sejam usados para o transporte de pessoas, além do escoamento de carga. "Essa demanda partiu do presidente Lula e será contemplada em todas as concessões que fizermos a partir do ano que vem", diz Neves.
As estradas de ferro da Valec - - Norte-Sul, Centro-Oeste, Oeste-Leste e Transnordestina - poderão receber trens com velocidade de até 200 km por hora. Paralelamente, segundo Neves, há projetos em análise para a criação de ramais em Estados. O antigo projeto de criação de um trem de alta velocidade entre Brasília e Goiânia, foi refeito e já está na Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). O custo da obra é estimado em R$ 1 bilhão. Outra iniciativa prevê a ligação da Norte-Sul até o Rio de Janeiro. "São obras que terminaríamos em no máximo dois anos", comenta Neves.
A revolução logística que o governo desenha a partir das novas ferrovias destoa completamente da realidade atual da malha férrea do país. Segundo Bernardo Figueiredo, presidente da ANTT, dos atuais 28 mil km de ferrovias do país, a maior parte está subutilizada. "Hoje há 9 mil km de malha sem uso. Em outros 10 mil km, só passa um trem por dia", comenta Bernardo.
Embora os balanços do setor indiquem que atualmente 25% da carga transportada no país utiliza o modal ferroviário, Figueiredo acredita as ferrovias respondam por apenas 10% do transporte. "Ainda faltam estudos detalhados e atualizados sobre isso, mas o que já podemos identificar é que a participação é muito inferior ao que se imagina", diz o diretor da ANTT.
Na semana passada, a ANTT abriu a consulta pública do novo ordenamento para o setor ferroviário, que reformula regras como direito de passagem e tráfego mútuo nas ferrovias, acabando com a exclusividade de concessão de trechos. O objetivo do governo é estimular a concorrência entre as empresas interessadas em operar nas malhas e ampliar a utilização das estradas de ferro. (AB)