Título: Licença ambiental adia construção da ferrovia da soja para o ano que vem
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2010, Brasil, p. A2
O governo até que tentou, e o Ministério dos Transportes ainda sustentou, no início deste mês, que as obras da Ferrovia de Integração Centro-Oeste (Fico) começariam antes do fim do ano. Mas elas ficaram para 2011.
A ferrovia que promete mudar a face do escoamento de grãos do país é uma das obras tocadas pela Valec, estatal que foi reativada para ampliar a malha nacional de trens de carga. O atraso no projeto, diz José Francisco das Neves, presidente da empresa, se deve à falta de licença prévia, documento que ainda não foi emitido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
Segundo Neves, a empresa de desenvolvimento de projetos Eneferjá está instalada na cidade de Água Boa (MT) para detalhar a execução do projeto básico e executivo da ferrovia. "Infelizmente não conseguimos cumprir o prazo que estava previsto, mas com certeza vamos iniciar a obra até abril de 2011", afirmou Neves.
A Fico será executada em duas etapas. A primeira fase começa em Campinorte (GO), onde se integra à Ferrovia Norte-Sul. Dali, a ferrovia cortará o Estado de Mato Grosso até chegar em Lucas do Rio Verde, num trecho de 1.040 quilômetros. Nesta etapa o investimento previsto é de R 4,1 bilhões, recurso que sairá do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O segundo trecho da obra, orçado em mais R 2,3 bilhões, seguirá de Lucas do Rio Verde até o município de Vilhena (RO), somando mais 598 quilômetros de malha.
Quando estiver pronta, afirma Glauber Silveira da Silva, presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja/MT), a Fico vai baratear em até R 1 bilhão o custo do frete que hoje é pago pelos produtores da região. Esse impacto, no entanto, ainda levará tempo para ser sentido pelos empresários. A previsão de conclusão da ferrovia é 2014. "Antes de pensar na ferrovia, nós contamos com a conclusão da BR-163", diz Silva.
A rodovia federal que liga a capital do Mato Grosso, Cuiabá, a Santarém, no Pará, começou a ser construída no fim dos anos 60 e até hoje ainda faltam 40% dela para terminar. A conclusão da obra, que prevê a pavimentação de 1.055 quilômetros da rodovia, tem investimento total de R$ 1,4 bilhão e é prevista para dezembro do ano que vem.
Segundo Maurício Tonhá, prefeito de Água Boa, município que será cortado pela Fico, hoje o custo do frete para transportar uma tonelada de soja da região até os portos de Santos ou Paranaguá varia entre R$ 150 e R$ 200. "Eu imagino que teremos um ganho de competitividade entre 30% e 50% com a chegada da ferrovia, já que passaremos a ter acesso a outros portos", comenta Tonhá. "Dependendo do destino da mercadoria, poderemos acessar o porto de Itaqui, no Maranhão, ou Vila do Conde, no Pará."
No pico das obras, a Fico deverá envolver a mão de obra de até 20 mil trabalhadores. A ferrovia é a primeira parte de um projeto ainda mais ambicioso da Valec, a chamada Ferrovia Transcontinental (EF-354), planejada para ter 4,4 mil quilômetros de extensão. Do lado leste, a malha segue para a região Sudeste, cortando o Distrito Federal e Minas Gerais, até atingir o litoral fluminense. No sentido oeste, parte de Rondônia para o Acre, chegando até a fronteira com o Peru.