Título: Dissidentes articulam Aldo à presidência da Câmara
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2010, Política, p. A6

A oficialização ontem do apoio do PSDB e do DEM ao candidato do governo a presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), acirrou as divergências dentro da base aliada e da oposição e gerou um efeito contrário ao pretendido: viabilizou o início da pré-campanha de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) para o cargo.

O grupo que vinha articulando uma candidatura alternativa (PSB, PCdoB, PDT e PRB) acertou com dissidentes de partidos da oposição (PSDB, DEM e PPS) e da base governista (PMDB, PP, PR e PTB) o início de uma consulta aos deputados de seus partidos para verificar as chances de uma candidatura contrária a do petista. O prazo final dessa consulta é 15 de janeiro.

"O processo de escolha da presidência da Câmara, da forma como vem sendo conduzido, causou grande insatisfação em deputados de todos os partidos, por isso iniciamos um processo de consulta a todos os partidos para ver a viabilidade de uma candidatura alternativa", afirmou ontem Aldo, que disse também que o grupo "suprapartidário" que fará as consultas ainda não tem um nome prévio para apresentar. "Não é o nome que vai desencadear o processo. É o processo que desencadeará o nome", afirmou. Do grupo há integrantes de todos os partidos, á exceção do PT.

Basicamente, os deputados contestam o acordo de rodízio da presidência da Casa assinado entre PT e PMDB para a próxima legislatura. Afirmam que não podem as duas bancadas decidir o futuro da Mesa para os próximos quatro anos. Na noite de anteontem, parte do grupo reuniu-se na residência do líder do PDT, Paulo Pereira da Silva (SP), e decidiu iniciar as consultas em janeiro. O anúncio de PSDB e DEM, porém, precipitou esse processo, potencializado pela reação negativa de deputados de diversas legendas ontem.

Almeida e Bornhausen justificaram o apoio a Marco Maia utilizando como argumento o respeito à proporcionalidade das bancadas para a composição da Mesa, ou seja, a maior bancada escolhe o presidente, a segunda maior bancada a vice-presidência, e assim vão se distribuindo os cargos até a menor bancada.

Com isso, os dois líderes garantiram a presença em cargos importantes da Mesa, já que os tucanos têm a terceira maior bancada e o DEM, a quinta. No acordo, costurado com eles pelo líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), inclui-se também rodízio de relatorias de projetos importantes e presença mais forte nas comissões temáticas da Casa.

Isso, contudo, não impediu que fossem criticados por correligionários. O principal motivo é que nenhum dos dois permanecerá líder em 2011, quando as bancadas receberão novos deputados que, afirmam, não foram ouvidos sobre a questão. Almeida não foi reeleito para o cargo e Bornhausen deve ocupar um cargo de secretário no governo do Estado de Santa Catarina. Além disso, houve grande renovação nas bancadas dos dois partidos e esses novos deputados não foram ouvidos.

O PSDB, por exemplo, tem reunião marcada para 26 de janeiro, onde seria escolhido o novo líder e seria tomada uma decisão sobre a eleição para a Mesa, que ocorre em 1º de fevereiro. No DEM, houve incômodo, pois nenhum dos líderes anteriores foi ouvido - Ronaldo Caiado (GO), ACM Neto (BA) e Onyx Lorenzoni (RS) -, nem o presidente da legenda, Rodrigo Maia (RJ), também deputado.

Afirmam ainda que já houve quebra da regra da proporcionalidade em outras eleições, como a que elegeu o tucano Aécio Neves (MG), em 2000, contra Inocêncio Oliveira (PE), então no PFL, a maior bancada naquele ano. "A tradição da Casa é da democracia e da eleição. O presidente da Câmara é eleito, não nomeado", afirmou Aldo.