Título: Maioria projeta Ibovespa na casa dos 80 mil em 2011
Autor: Monteiro, Luciana; Cutait, Beatriz
Fonte: Valor Econômico, 23/12/2010, Investimentos, p. D4

O otimismo dos analistas com o Índice Bovespa em 2011 está bastante calcado na expectativa de recuperação das ações de companhias ligadas ao setor de commodities. Além disso, o mercado interno deve seguir aquecido, beneficiando mais uma vez os papéis de consumo. Como o juro no mercado internacional deve continuar baixo, o fluxo de recursos para os emergentes deve se manter em alta, favorecendo a bolsa brasileira.

Com projeção de um Ibovespa aos 85 mil em 2011, a HSBC Global Asset Managementavalia que o cenário é bastante benéfico para as commodities no ano que vem, o que deve turbinar a bolsa brasileira. Na visão de Mário Felisberto, diretor de investimentos da gestora, o mundo deve crescer 4,2% em 2011, puxado principalmente pelos emergentes, grandes demandantes de matérias-primas.

O executivo não vê a Europa trazendo muita volatilidade ao mercado, pois acredita que, quem precisar de crédito, terá suporte. Já a China deverá registrar uma desaceleração, mas de maneira ordenada. Os Estados Unidos, por sua vez, deverão continuar com crescimento baixo, puxados por programas de ajuda do governo. "O crescimento baixo e as taxas de juros próximas de zero nos países desenvolvidos farão com que o Brasil continue atraindo capital, já que o cenário é amplamente favorável aos emergentes", diz.

Mônica Araújo, estrategista-chefe da Ativa, projeta um Ibovespa nos 82 mil pontos no fim do ano que vem. "É possível que tenhamos recuperação das ações ligadas a commodities, , dependendo da recuperação de países desenvolvidos", afirma Mônica.

Com o Ibovespa com pontuação próxima à máxima histórica atingida em 2008, de 73.516 mil pontos, Alan Gandelman, diretor-presidente da corretora Icap, avalia que a economia interna continuará dando alegria aos investidores. O mercado brasileiro passa por uma mudança de patamar e o setor de consumo tende a continuar subindo por causa do aumento de renda, avalia o executivo.

A liquidez abundante no mundo, crises localizadas e juros baixos nos países desenvolvidos devem fazer com que o Brasil continue a atrair recursos estrangeiros, avalia Gandelman. "Estamos perto do teto do Ibovespa, mas isso não significa que ele vai desabar; será construído outro teto." Para ele, se nenhuma grande crise estourar lá fora, o potencial é de alta de 20% do Ibovespa, o que significa um índice próximo dos 85 mil pontos.

A Petrobras poderá causar a reviravolta do mercado acionário brasileiro, avalia Hamilton Alves, analista-sênior da BB Investimentos, fazendo com que o Ibovespa seja impulsionado para os 86 mil pontos em 2011. "Temos um cenário otimista para o próximo ano, com os setores de construção civil e consumo ainda com espaço para crescer, assim como as "blue chips", como Vale e siderúrgicas", avalia.

Com os Estados Unidos voltando a se expandir, aumentam-se as importações da China e, com isso, o país mantém seu crescimento, o que favorece o Brasil, afirma Alves. Os problemas fiscais enfrentados por países da zona do euro representam um estresse momentâneo e não devem atrapalhar o desempenho das bolsas ao longo de 2011, diz.

Na cena local, mais um fator deve ajudar o Ibovespa a superar seu recorde: "Nosso cenário para 2011 ainda pressupõe que o Brasil ganhe mais um degrau no grau de investimento no primeiro semestre, com o país continuando a fazer sua lição de casa", afirma Alves. "O que pesa no mercado é o temor de alta de juros, mas, de toda forma, os efeitos sobre as bolsas passarão no início do ano", avalia.

Outro otimista com a trajetória da bolsa no próximo ano é Marco Antonio Melo, chefe da área da Análise e Pesquisa da Ágora Corretora. "Ficamos bem tranquilos em dizer, até de forma conservadora, que o Ibovespa poderá fechar aos 86 mil pontos, mas temos de avaliar as questões internacionais, que chegaram a prevalecer em alguns momentos de 2010, tiraram a liquidez e trazem incertezas para 2011", diz.

Ele explica que, em primeiro lugar, há a preocupação com a capacidade de solução das dívidas soberanas europeias, que ainda leva a uma situação de grande incerteza e desequilíbrios nos mercados. A segunda questão diz respeito ao quadro macroeconômico brasileiro, que, embora com menor peso que a situação europeia, leva a um temor no que tange à condição de política monetária.

O terceiro aspecto citado por Melo está relacionado à recuperação da economia americana e à China, diante da possível adoção de medidas de contenção de sua expansão. Se a análise fosse apenas corporativa, o quadro seria bem azul. Isso porque, de um total de 100 empresas analisadas, a Ágora espera um crescimento do lucro por ação de até 30% em 2011.

"O ano que vem deve ser relativamente parecido com 2010, com as empresas ligadas à economia doméstica com espaço para recuperação", afirma João Pedro Brugger, analista da Leme Investimentos. "Mesmo as companhias ligadas ao consumo, que parecem um pouco caras, têm espaço para valorização."

Em sua avaliação, empresas relacionadas a questões estratégicas - como logística, infraestrutura e transporte - também deverão ter um desempenho favorável não apenas em 2011 como nos próximos anos. O setor de energia elétrica ainda deverá se beneficiar com o aumento da inflação.

Entre os papéis ligados às commodities, destaque para siderurgia. "Em parte, as ações prometem uma melhora por estarem com preços um pouco defasados, mas também por conta das medidas adotadas pelo governo, relacionadas à importação de aço, que também podem ajudar", diz Brugger.

O coro dos analistas sobre o bom desempenho do Ibovespa no ano que vem, no entanto, não é unânime. Lika Takahashi, estrategista-chefe da Fator Corretora, projeta o Índice Bovespa em 75 mil pontos no fim de 2011. "É um retorno pífio contra o da renda fixa, ainda mais com um cenário de alta de juros", diz. Para ela, a bolsa já está cara e não compensa a relação risco/retorno. "Em saúde mesmo, não se encontra mais nada com preços atrativos."

Para ela, há uma bolha se formando nas economias emergentes, com o Brasil incluído nesse grupo. "Há um superaquecimento das economias emergentes e a maioria dos países não conta com um mecanismo de desaceleração saudável, avalia Lika. "Numa bolha, há um aumento de correlação e de volatilidade entre os mercados e é exatamente o que estamos vendo", afirma.

Para ela, os múltiplos - parâmetros usados para saber se uma ação está cara ou barata - mostram que a bolsa brasileira já está com preço elevado. Segundo os cálculos da analista, a relação justa de P/L para o Ibovespa seria algo na casa de 12 vezes. Mas, para o ano que vem, Lika estima um P/L de 15 vezes. O único papel que Lika diz ter tranquilidade para recomendar é Petrobras. "Depois de 30% de queda, a ação já reflete tudo que poderia haver de incerteza."

Há espaço para alta, dada a depreciação de alguns papéis como Petrobras, mas ainda teremos muitas emoções no meio do caminho, com bastante volatilidade no primeiro semestre, avalia Julio Hegedus, economista-chefe da corretora Interbolsa do Brasil. "O mercado ainda deve piorar um pouco antes de melhorar dado o menor crescimento da China, reestruturação das dívidas soberanas dos países periféricos da zona do euro e crescimento lento nos EUA", avalia o executivo, que projeta um Ibovespa em torno de 78 a 82 mil pontos em 2011.