Título: Petrobras inverte foco de refinarias premium
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2010, Empresas, p. B9

Petróleo: Com expansão do consumo de derivados, novas unidades no MA e CE vão atender só o mercado interno

Costa, diretor: "Estamos convencidos de que a refinaria do Ceará também será somente para o mercado interno" A mudança de patamar de crescimento da economia brasileira, o chamado Produto Interno Bruto (PIB) potencial, da casa dos 3% para entre 4,5% e 5% ao ano, conforme avaliação de economistas das mais variadas correntes, está modificando a estratégia da área de abastecimento da Petrobras. As refinarias "premium" de petróleo previstas para o Maranhão e o Ceará, concebidas principalmente para exportar óleo diesel, deverão ser totalmente voltadas para abastecer o mercado interno. A informação é do diretor de Abastecimento da estatal, Paulo Roberto Costa.

Segundo o executivo, que, tudo indica, permanecerá no cargo no governo da presidente eleita Dilma Rousseff, a reavaliação não toma por base apenas a perspectiva de crescimento econômico elevado e contínuo. O fato incomum de o consumo de combustíveis ter crescido em 2010 mais do que a economia como um todo -10%, contra um PIB estimado de 7,5%-, também com perspectiva de continuidade, acendeu a luz amarela no planejamento.

"Sempre o mercado de derivados teve elasticidade menor do que um, ou seja, cresceu abaixo do PIB. O movimento de cerca de 20 milhões a 25 milhões de pessoas mudando de classe social (e de consumo) provocou esta virada. Muita gente que só viajava de ônibus agora está viajando de avião", analisou.

Os números preliminares da estatal indicam que as vendas de querosene de aviação cresceram 15% este ano e as de gasolina aumentaram 19%. No começo deste ano, na entressafra do álcool combustível, a Petrobras importou, depois de muitos anos, cerca de 3 milhões de barris de gasolina, equivalentes ao consumo médio de dez dias (300 mil barris por dia). "Agora, estamos com problema de safra (do álcool) novamente. É provável que voltemos a importar gasolina", disse.

Há alguns meses a estatal já havia decidido que a refinaria do Maranhão, que será a maior do país, com capacidade para processar 600 mil barris de óleo por dia, teria como prioridades abastecer o Norte e, especialmente, o Centro-Oeste do país, utilizando a Ferrovia Norte-Sul, ainda em construção, como seu maior canal de transporte.

Segundo Costa, o Centro-Oeste, maior polo de expansão do agronegócio do país, é abastecido por um poliduto que parte de Paulínia (SP) para Brasília e que está praticamente no limite da capacidade. Em 2011 ele receberá reforços na capacidade de bombeamento para elevar a capacidade de transporte nos últimos 30% adicionais. O abastecimento adicional da região é feito por caminhão, modal pouco eficiente para esse tipo de transporte.

"Hoje estamos convencidos de que a refinaria do Ceará também será somente para o mercado interno", afirmou o diretor da Petrobras a respeito da unidade de refino para 300 mil barris de óleo por dia que será feita em Pecém, no Ceará. Costa explicou que, segundo o novo planejamento, a refinaria cearense vai substituir a parcela do abastecimento do Nordeste que é feita por navios de cabotagem ou com produtos (diesel, basicamente) importados.

Enquanto a refinaria do Maranhão, que está em obras de terraplenagem, tem seu cronograma praticamente inalterado, estando sua operação inicial prevista para 2014 (pelo projeto original ela entraria em 2013), a refinaria cearense está parada.

A área escolhida tornou-se objeto de disputa entre o governo do Estado e indígenas da etnia Anacé e não tem prazo para ser liberada. O diretor da Petrobras afirma que esta é a única razão pela qual ela está sendo postergada para 2017. Inicialmente a refinaria de Pecém entraria em operação em 2014. As refinarias do Maranhão e do Ceará são investimentos estimados em US$ 31 bilhões, mas a Petrobras contratou um estudo a uma empresa americana para torná-las mais baratas.

O diretor da Petrobras informou também que o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), formado por uma refinaria com capacidade para 330 mil barris por dia em duas etapas de 165 mil barris diários - uma prevista para operar em 2013 e a outra para 2018 e mais um complexo de produção de produtos petroquímicos (previsto para 2017) - começa a receber os primeiros equipamentos em janeiro de 2011.

Segundo o diretor da estatal, se o crescimento do consumo de produtos petroquímicos mantiver a tendência de alta apresentada este ano é provável que a etapa petroquímica do complexo seja concluída mais cedo, como estava previsto. A parceira da Petrobras na etapa petroquímica deverá ser a Braskem, controlada pelo grupo Odebrechte da qual a estatal é o segundo maior acionista, com 32% do capital. O grupo baiano é o maior controlador da empresa, com 34%.