Título: Eu não sou traidor nem oportunista
Autor: Fraga, Alberto; Taffner, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 26/07/2010, Cidades, p. 20

entrevista - Alberto Fraga

Compor aliança com o adversário Roriz foi a saída que o deputado federal Alberto Fraga encontrou para poder concorrer ao Senado

Um dos únicos políticos que permaneceram ao lado do ex-governador José Roberto Arruda (sem partido) após a operação Caixa de Pandora, o deputado federal Alberto Fraga (DEM) foi alçado a um lugar privilegiado no cenário eleitoral. Nas próximas eleições, ele concorrerá ao cargo de senador na coligação de Joaquim Roriz (PSC), que já foi aliado e ultimamente é rival de Arruda. Com a saída do ex-governador da disputa, Fraga se viu obrigado a buscar uma aliança com o adversário. Só me sobraram duas opções: ir para o PT ou ficar com ele. Como não fico vermelho nem quando estou com raiva, tive de fazer a coligação com Roriz, explica o deputado.

Fraga tentou ser candidato a governador por duas vezes neste ano, na eleição indireta realizada pela Câmara Legislativa e para as eleições diretas. Foi vencido nas duas tentativas por manobras de correligionários, motivos pelos quais chegou a chamar de gagá e sem voto os colegas de partido Osório Adriano e o senador Adelmir Santana. Em um momento de raiva falei aquilo, mas já pedi desculpas publicamente, diz o deputado.

Os recentes desentendimentos com os membros da coligação provocaram reações negativas dos militantes. No primeiro comício ao lado de Roriz, Fraga foi vaiado e não conseguiu discursar. Segundo o parlamentar, as críticas eram fogo amigo de pessoas do próprio DEM. Agora, ele diz que é hora de unir a coligação para vencer as eleições. Se não tiver união, vai ser complicado, analisa.

O senhor é a favor da volta das vans? Eu sou contra, por uma razão muito simples. O sistema implantado não permite esse tipo de veículo por ele não possuir corredores. Com isso, não tem como instalar uma catraca. Existiam dois tipos de vans: as chamadas legalizadas e as ilegais. O novo marco dos transportes, implantado através do programa Brasília Integrada, não prevê no seu perfil as vans. Por isso, as substituímos pelos micro-ônibus. A população, no início, ficou chateada porque a van pegava a pessoa na porta de casa. Mas isso aí é táxi. É por isso que ficava uma bagunça generalizada. Uma van daquela lucrava livre, por mês, R$ 25 mil. Quem perdeu essa guarida não vai bater palmas para mim.

Qual deve ser o foco do próximo governo na área de transportes? O próximo governo tem de concluir todos os projetos de transportes que são importantes para a cidade. Seja quem for o governador. Quem não quiser levar adiante o VLT (veículo leve sobre trilhos) ou é cego ou tem má-fé. Porque o VLT é muito importante para tirar mais de 800 ônibus do centro de Brasília. Não se pode deixar de levar adiante o projeto da Linha Verde, que não é só a EPTG. Ele tem início na Hélio Prates (em Ceilândia), na Fundação Bradesco, com corredores exclusivos. Depois do SIA, tem uma bifurcação. Uma linha continua pela Epig, cai no Eixo Monumental e vai para a Rodoviária. A outra linha entra pelo Setor Policial e segue para o terminal da Asa Sul. Lá a pessoa escolhe se pega o metrô ou o VLT. Isso é para descongestionar o centro da cidade, que não aguenta mais a quantidade de veículos.

Por que o senhor quis concorrer ao Senado? Eu tenho três mandatos de deputado federal e 11 leis aprovadas. Faça uma pesquisa e veja quais deputados de Brasília têm mais de duas. Que eu conheça, só o Arruda e o Agnelo tiveram uma lei. Eu tenho 11 e já cumpri o meu papel como deputado federal. Eu sei que estou em último lugar nas pesquisas, mas as pessoas talvez nem saibam que sou candidato ao Senado. Eu não tenho medo nenhum de disputar essa eleição.

Mas foi difícil conquistar essa vaga na coligação. Na verdade, eu tinha como objetivo uma candidatura ao governo, até mesmo para criar mais alternativas para a população de Brasília. Isso não foi possível por falta de alianças. Eu não tinha o direito de sacrificar os deputados distritais do partido nas eleições proporcionais. Exatamente a pedido deles, nós desistimos da candidatura. Aí, só me sobraram duas opções: ir para o PT ou ficar com o Roriz. Como não fico vermelho nem quando estou com raiva, tive de fazer a coligação com o Roriz.

Foi difícil fazer essa aliança, uma vez que o senhor andou rachado com o Roriz? Isso é natural. As discordâncias no mundo político são naturais. Eu fui eleito deputado federal duas vezes com ele, quando estava no PMDB. Veja como são as coisas. O homem que se separa da esposa pode voltar. O político parece que, quando briga, não pode mais voltar. Eu voltei para a coligação. Fiquei muito triste, chateado, porque depois de sair de uma crise muito grave em Brasília, sem ter o meu nome manchado, quando fui recebido pelo grupo de Roriz, fui praticamente hostilizado. Isso hoje acabou.

Está se referindo às vaias que recebeu recentemente? Só aconteceu uma vez, no primeiro comício, onde percebi que existiam umas 20 ou 30 pessoas me vaiando. Por incrível que pareça, essas pessoas portavam bandeiras do Democratas. Era fogo amigo. Mas eu já superei isso, porque podem falar o que quiserem de mim, mas eu não sou covarde. Eu não sou traidor nem oportunista. Quando converso com o Roriz eu digo: Estou aqui e vou defendê-lo. Agora, a minha amizade com o Arruda existe e não tem nada a ver uma coisa com outra.

O senhor mantém contato com o ex-governador José Roberto Arruda? Mantenho e não desejo o que ele passou nem para o meu pior inimigo. O homem errou, mas o governador nunca errou. Ele deixou um legado de grandes obras para a população. Se ele chegou ao ponto de ter 82% de aprovação, é porque fez um bom trabalho. Agora, o ato praticado por ele, como foi dito pelo próprio (presidente) Lula, foi o caixa dois, praticado por 99% dos políticos.

Qual foi o maior erro dele? Não ter se explicado de imediato (após a Operação Caixa de Pandora). Até hoje tem gente que pensa que ele recebeu aquele dinheiro das imagens enquanto era governador. E aquelas imagens são de 2006. Isso são coisas do passado, que não quero voltar a comentar, mas não é porque ele cometeu aqueles erros que eu ia deixar de falar com ele ou fingir que não o conheço.

O que Arruda achou dessa aliança com Roriz? Ele não tem falado mais sobre política. Quando comuniquei o fato, ele só olhou para mim e disse que não havia sobrado muita opção, que era melhor ficar com Roriz. O dia a dia da vida dele é acordar, caminhar, malhar, brincar com a filha e escrever. Ele não tem mágoa de ninguém. Eu acho que o partido se precipitou (quando o expulsou). Os mensaleiros do PT estão todos aí, belos e formosos, promovidos, reeleitos, ministros. E os dos outros partidos também. O grande erro nessa história toda foi a tentativa de suborno de um jornalista. Eu sou amigo do Edson Sombra. Se eu soubesse daquilo, jamais teria deixado acontecer.

Como está o relacionamento interno na coligação? Eu já sinto a coisa melhorando. Quem tem me dado muito apoio e muito carinho são as filhas dele (Roriz). Ele também já conversa mais comigo. Sinto que o apresentador dos comícios, quando vai apresentar a Abadia, faz uma cena danada, mas quando vai apresentar o meu nome, só diz: Com vocês, o candidato ao Senado Fraga. Eu entendo tudo isso, que faz parte da questão da lealdade. As divergências políticas sempre vão existir. Agora, eu nunca desrespeitei o governador Roriz.

E no Democratas? O senhor tentou ser candidato nas eleições indiretas para governador E o DEM me puxou o tapete.

O senhor tentou ser candidato ao governo para as próximas eleições, mas também foi vencido. Agora, recebe vaias de pessoas ligadas ao partido. Nós temos alguns candidatos de grande densidade política e algumas pessoas acham que não precisam dos outros. Se eu tivesse o dinheiro que essas pessoas têm, eu não seria candidato a nada. Recebo dois excelentes salários, como deputado e coronel, e não tenho pretensões de fortuna na minha vida, mas algumas pessoas acham que o dinheiro está acima de qualquer coisa.

Onde enfrenta as maiores resistências? Acho que hoje não tenho mais, mas eu tive problemas. Veja, temos quatro deputados. A Eliana Pedrosa é muito independente. Ela disse que não precisa de ninguém. Já o Raad Massouh é meu amigo de ordem pessoal. Agora, essa campanha política vai ser diferente das outras, porque será totalmente franciscana. Eu não tenho recursos para bancar a estrutura de um deputado que pede, por exemplo, R$ 300 mil. Com toda a certeza, esse deputado pode me ajudar na campanha ao Senado, mas eu não tenho como pagar 300 cabos eleitorais de um candidato. Parece que isso é mal-entendido. Tem deputado que pede R$ 1 milhão para poder ser apoiado. Está fora da realidade. Temos de estar unidos para fazer com que essa coligação vença as eleições. Se não tiver união, vai ser complicado.

Não é desagradável ter de fazer campanha ao lado das pessoas a quem chamou de gagá e sem voto? As pessoas sabem que sou um cara que não gosto de ser cutucado. Eu falo que o quero. Eu pedi desculpas e tenho um carinho muito especial pelo (senador) Adelmir Santana. Não foi pejorativo, mas Brasília inteira sabe que foram eles que mais me atrapalharam. Eu ficava triste porque tenho uma densidade política na cidade e não me deixaram fazer nada. O Osório Adriano é o pai que perdi cedo demais. Sempre tratei ele com carinho e me senti apunhalado. Eu tinha os votos para ser governador (na eleição indireta). O acordo que fizemos na Executiva Nacional era para eu abrir mão da presidência do partido para ser o indicado. Eu declinei a presidência para o senador (Adelmir) porque ele tinha mandato e poderia defender o partido na tribuna. Não esperava nunca que, no dia seguinte, o Osório lançasse a candidatura para disputar a eleição do mandato-tampão. Todo mundo sabe que quem montou o diretório provisório foi o Osório e o (senador) Marco Maciel. Como eu vou concorrer com esse pessoal? Então, em um momento de raiva, falei aquilo. Já pedi desculpas publicamente ao Osório. Ele não está gagá, está é muito esperto.

Qual será o caminho da coligação caso Roriz perca a candidatura devido a Lei da Ficha Limpa? Espero que ele não perca. Nunca discutimos isso. Ele mesmo disse que não tem plano B.

Colocaria o seu nome para substituí-lo? Não. Acho que meu nome não cabe nessa composição. Aí iria aparecer oportunismo. O nome da (Maria de Lourdes) Abadia poderia ser muito bem colocado. Tem muita gente aí na coligação. Aos trancos e barrancos, acabou se formando uma grande coligação.

Mas nem todos estão se entendo e participando da campanha. É verdade. Falei em um discurso que não se justifica ter bandeira sem o nome do Roriz. Todo o meu material de campanha tem o nome da Abadia e do Roriz. Os deputados distritais têm de trazer o nome da coligação. Ou tem vergonha, ou não sei o que está acontecendo. Em Brasília já voltou a situação de azul contra vermelho. Será esquisito votar no Fraga e no Cristovam Buarque, ou no Rodrigo Rollemberg e na Abadia. Está polarizado. Eles estão muito bem, mas isso vai mudar na hora em que começar a nossa campanha na televisão, até porque tenho 2 minutos e 21 segundos.

Acredita na sua eleição com Abadia? Vamos lutar juntos. Só digo que não vão eleger Cristovam e Rollemberg. Vocês todos vão ter muitas surpresas. Não acredito que o PT tenha esse carinho todo pelo Cristovam. Só se não tiver vergonha na cara, porque quando ele saiu do partido, saiu batendo no PT.

Seus suplentes têm condições de ser senadores por Brasília? Minha primeira suplente é a Anna Christina Kubitschek (DEM), que nem sei se vai poder ser candidata (por conta de uma pendência eleitoral). O nome da Anna Christina foi escolhido pela minha mulher pelo simbolismo do nome Kubitschek, pelos 50 anos de Brasília, por ser uma pessoa que faz um belo trabalho no Memorial JK. O meu segundo suplente era o João Batista (PMN), empresário e meu amigo. Houve um contratempo no PSDB, porque o Osório Adriano foi ser suplente lá, o Roriz tinha prometido uma vaga e deu uma confusão. Para diminuir esses atritos, o governador me pediu para abrir mão do segundo suplente e colocar o presidente do PTdoB, o Paco Britto. Mas está aí e não vejo nenhum problema.

Conversou com Paulo Octávio sobre a escolha da suplente, que é mulher dele? Ele me perguntou por que eu tinha escolhido ela. Ele tem uma boa estrutura política, que pode me ajudar. Agora eu preciso de ajuda. Uma campanha para o Senado é pesada. Então, ele pode me ajudar junto com o Paco, que por enquanto não me ajudou em nada. A conversa é que o Paulo Octávio é o cara mais pão-duro que existe em uma campanha política. Mas eu quero a ajuda dele não em dinheiro, mas para me ajudar a ter uma boa briga.