Título: Preços do petróleo atingem maior pico após crise global
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 30/12/2010, Empresas, p. B10

Às vésperas de 2011, os preços do petróleo atingiram na segunda-feira seu maior pico de alta, passada a crise financeira global. A recuperação das cotações da commodity não é considerada um movimento isolado, como reflexo do inverno rigoroso nos países do Hemisfério Norte. A expectativa é de que os preços deverão se manter firmes ao longo do ano que vem, com a retomada, ainda que lenta, da economia americana, a contínua demanda dos países emergentes e a volta do interesse dos investidores em commodities, de acordo com analistas ouvidos pelo Valor.

"O petróleo passou por um período de alta volatilidade nos últimos dois anos, mas agora segue uma rota de alta", afirmou Lucas Brandley, especialista em petróleo da Geração Futuro.

Ontem, as cotações do petróleo Brent (segundo contrato) encerraram a US$ 93,98 o barril, recuo de 0,22% sobre o dia anteiro. Na comparação com os últimos 12 meses, a elevação é de 20,01% e em 24 meses, valorização de 117,55%. No caso do WTI, o barril fechou a US$ 91,90 (segundo contrato), queda de 0,36% em relação ao dia anterior. No acumulado dos últimos 12 meses, contudo, a alta é de 15,47%. Em 24 meses, 113,97% de elevação.

Analistas já fazem suas apostas na recuperação da demanda mundial e menor volatilidade dos preços das commodities em 2011. O mercado projeta que a demanda mundial por petróleo permaneça em ascensão, reflexo do equilíbrio entre oferta e demanda global. Contudo, eventual oscilação do dólar e incertezas quanto ao crescimento econômico mundial podem adicionar volatilidade às cotações, observam analistas do Banco Fator. Para o Brasil, o banco estima maior demanda de óleo, gás e derivados, uma vez que a economia nacional segue aquecida.

A alta dos preços do petróleo terá impacto direto nas cotações da nafta, principal matéria-prima para a produção de resinas termoplásticas. A expectativa é de que as cotações do produto também deverão seguir firmes durante 2011, passado o ciclo de baixa do setor petroquímico. Ontem, a cotação da nafta ARA, com base nos portos europeus (Antuérpia, Roterdã e Amsterdã), região importadora, fechou a US$ 853 a tonelada, de acordo com levantamento da Bloomberg. Nos últimos 12 meses, a valorização da matéria-prima é de 25,81%. O último maior pico do produto foi de US$ 844 em 29 de setembro de 2008.

"Não enxergo petróleo abaixo de US$ 80 no ano que vem. A volta dos agentes financeiros, que buscam "hedge" para inflação e câmbio, também deve dar sustentação às cotações", afirmou Brandley. A expectativa é de que a commodity rompa a barreira dos US$ 100 por barril no próximo ano, mas ainda é muito cedo para afirmar qual o teto que o petróleo poderá atingir nos próximos meses.

Desde 2008, quando as cotações do petróleo atingiram o pico de quase US$ 147 o barril (base Brent), a posição comprada dos investidores era recorde, observam analistas ouvidos pelo Valor. Naquele ano, o preço médio do barril ficou em torno de US$ 98. Em 2009, caiu para cerca de US$ 62. Até o dia 27 de dezembro, a cotação média do petróleo estava em US$ 79,50. Para 2011, a expectativa é de que os preços médios fiquem em US$ 85, de acordo com levantamento da Geração Futuro.

Em 2010, houve uma recuperação no consumo do petróleo - a estimativa é de que a demanda média no ano fique em 85,5 milhões de barris por dia, com destaque para o crescimento nos países emergentes e estagnação nos desenvolvidos. Apesar da variação positiva, o consumo permaneceu abaixo do alcançado em 2007 e 2008. Entre os motivos, seguem as incertezas relacionadas à recuperação econômica nos EUA e União Europeia, risco de insolvência de alguns países europeus e os esforços para controle do crescimento chinês, segundo relatório do Fator. A saúde da economia europeia ainda está mais debilitada que a dos EUA, observou Brandley.

Para 2011, a oferta de petróleo dos países não pertencentes à Opep (Organização dos Países Produtores de Petróleo) deve crescer 800 mil barris/dia, comparado ao 1 milhão de barris/dia neste ano. Os países-membros da Opep devem manter suas cotas de produção ajustadas à diferença entre crescimento da demanda e da oferta no restante do mundo, na tentativa de reduzir a volatilidade de preço.

Mesmo com os esforços de alguns países para substituir a matriz energética fóssil por renovável, a participação do petróleo no mercado continuará significativa nos próximos anos. Muitas empresas químicas estão apostando em novas tecnologias para a produção de resinas verdes (à base de etanol) como alternativa ao petróleo, lembrou o especialista da Geração Futuro.