Título: Palocci tenta se descolar da imagem de superministro
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2011, Política, p. A5

Na posse de ministro mais concorrida até agora, Antônio Palocci assumiu ontem o comando da Casa Civil tentando passar a ideia de que exercerá a nova função com discrição, longe dos holofotes e sem os poderes, já atribuídos a ele, de super ministro.

No curto discurso, de 14 minutos, Palocci revelou que várias atribuições da Casa Civil serão remanejadas para outras áreas e que o órgão terá uma "ação mais interna" e voltada ao atendimento das prioridades da presidente Dilma Rousseff.

"A Casa Civil não é um ministério autônomo, de ideias e projetos próprios. É um órgão da Presidência, dedicado a servir a suas determinações e auxiliar no preparo de suas altas decisões", discursou Palocci para uma plateia repleta de empresários, ministros e parlamentares. "Não me cabe emitir opiniões sobre todas as coisas", disse depois, reforçando a ideia de que agirá com reserva na nova função.

Segundo o ministro, em sua gestão, a Casa Civil não será a responsável pela condução dos temas políticos centrais do governo. "Fica a Casa Civil concentrada em suas funções originais e sua total dedicação às ações de apoio à presidente", declarou Palocci, para em seguida acrescentar que a articulação política continuará sob o comando da Secretaria de Relações Institucionais da presidência da República, cujo titular é o ministro Luiz Sérgio.

A declaração de Palocci teve dois objetivos. O primeiro foi tentar desfazer a ideia de que ele será um ministro capaz de fazer sombra à presidente. O segundo foi procurar sair da linha de tiro da oposição e mesmo de aliados no Partido dos Trabalhadores (PT), insatisfeitos com a sua volta ao poder.

A política, que com Antônio Palocci na Casa Civil irá além dos partidos e incluirá contatos com empresários e banqueiros, será a principal missão do novo ministro. Ele foi, durante a campanha eleitoral e a formação do ministério, o principal operador político de Dilma. Quando conversou com ela sobre sua participação no governo, explicou, segundo apurou o Valor, que, para se dedicar mais às tarefas políticas, seria necessário "desidratar" a Casa Civil.

Palocci deixou claro que sua Casa Civil será bem diferente daquela que seu principal adversário no PT, o ex-ministro José Dirceu, montou no início do primeiro mandato do governo Lula. Dirceu, além de ficar responsável pela articulação política, levou para o órgão a coordenação das principais ações administrativas do governo.

Com Palocci, a Casa Civil passará por um verdadeiro desmonte daquele modelo. A gestão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e do Minha Casa, Minha Vida será entregue ao Ministério do Planejamento, que é comandado por Miriam Belchior. A Secretaria de Administração será remanejada para a Secretaria-Geral da Presidência, cujo titular agora é Gilberto Carvalho, chamado por Palocci de "nosso guia espiritual", uma referência à religiosidade do colega, um ex-seminarista. O Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) ficará a cargo, por sua vez, do Ministério da Defesa. Já o Arquivo Público Nacional será devolvido ao Ministério da Justiça.

Com a nova função, Palocci volta ao primeiro escalão do governo depois de quase cinco anos, quando perdeu o cargo de ministro da Fazenda, acusado de envolvimento na quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa - em agosto de 2009, ele foi inocentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Prestigiaram a posse do novo ministro empresários como Jorge Gerdau (grupo Gerdau), Paulo Simão (presidente da Confederação Brasileira da Indústria da Construção Civil), Roger Agnelli (Vale) e Robson Andrade (presidente da Confederação Nacional da Indústria), além dos governadores Eduardo Campos (Pernambuco) e Cid Gomes (Ceará) e do vice-diretor gerente do Fundo Monetário Internacional, Murilo Portugal.

Durante o discurso, feito em voz alta e de forma incisiva, o novo ministro destacou os pontos que considera centrais no discurso de posse de Dilma. "(A presidente) ressaltou um compromisso inequívoco com a estabilidade de preços, com a qualidade do gasto público e com as reformas necessárias para eliminar os entraves do vibrante empreendedorismo do Brasil, do nosso empresariado, do grande ao micro, do agronegócio à agricultura familiar."