Título: Gilbertinho, quero você ao meu lado para me dizer as verdades, diz Dilma
Autor: Romero, Cristiano; Oliveira, Ribamar
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2011, Política, p. A7

O novo secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, assumiu ontem o cargo afirmando que vai honrar a missão dada a ele para manter o diálogo com os movimentos sociais. Ele disse que a conversa com a presidente Dilma Rousseff no ato do convite para o cargo foi muito simples. "Gilbertinho, eu quero você ao meu lado para me dizer as verdades, dizer o que acontece e me trazer a sensibilidade e os sofrimentos do povo brasileiro."

Em um tom extremamente emocional e diante de uma plateia de quase 600 pessoas, Gilberto - que chorou duas vezes durante seu discurso - confidenciou que, antes da cerimônia, ligou para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para agradecer pelo apoio e pelo convívio de nove anos, oito de governo e um de campanha. "Foi a presidente Dilma que me perguntou se eu já tinha ligado pro Lula hoje (ontem)", disse ele, arrancando risos da plateia, já que durante os dois mandatos do ex-presidente Gilberto Carvalho exerceu o cargo de chefe de gabinete da Presidência da República.

O novo secretário-geral reservou ao ex-chefe um dos momentos mais marcantes de seu discurso de posse. Disse que Lula o apoiou nas horas mais difíceis e que, nas situações mais críticas, poderia "ter se livrado de mim". Foi uma referência à época em que o Senado começou a investigar, na CPI dos Bingos, o assassinato do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel.

Gilberto foi convocado, no fim de 2005, para responder às acusações de que o assassinato de Celso Daniel estaria ligado a um esquema de caixa 2 na Prefeitura de Santo André. "Lula atrasou uma viagem marcada para me esperar em minha sala e dizer: Gilbertinho, vem cá tomar uma cachacinha comigo para esquecer essas coisas e tocar a vida em frente". Emocionado, Gilberto afirmou à plateia: "por este homem, eu seria capaz de morrer."

O secretário-geral da Presidência lembrou também a época em que trabalhou nas favelas e acompanhava o enterro de crianças, a maioria delas vítimas de desnutrição e broncopneumonia. Durante os enterros, ele conta que, ao jogar a areia em cima dos caixões, jurava a si mesmo que lutaria até o fim para combater a miséria. "Hoje (ontem) peço que renovemos esse compromisso perante todos e perante Deus: acabar com a miséria e implantar no país a justiça e a fraternidade."

A exemplo de Dilma em seu discurso de posse no Congresso, Gilberto dedicou o evento a todos os companheiros que ficaram pelo caminho ajudando a construir os movimentos sociais, o movimento sindical e os partidos de esquerda neste país. "É por causa de vocês que nós estamos aqui."

O ex-ministro Luiz Dulci afirmou que a maior homenagem que a presidente Dilma poderia prestar à sua pasta era indicar Gilberto Carvalho para sucedê-lo. Citou as 73 conferências realizadas durante o governo Lula e disse que um dos maiores méritos da gestão do petista foi estabelecer uma nova relação do Estado com os movimentos sociais. "Para se fazer políticas públicas é preciso ouvir o povo. Isso não pode ficar a cargo apenas dos gestores governamentais", acrescentou o ex-ministro.