Título: Novo câmbio preocupa venezuelanos
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 03/01/2011, Internacional, p. A17
Agências internacionais A oposição ao presidente Hugo Chávez na Assembleia Nacional criticou ontem a decisão do governo de eliminar a taxa dupla do câmbio e, assim, desvalorizar a moeda pela segunda vez em 12 meses. A medida permitirá ao governo aumentar a receita sob o risco de elevar ainda mais a inflação.
O governo anunciou na semana passada que passa a valer no país apenas a cotação de 4,30 bolívares por dólar - desaparecendo a relação de 2,60 bolívares por dólar para a importação de produtos essenciais, como alimentos e remédios. A medida entrou em vigor na sexta-feira.
Segundo o deputado Julio Borges, uma das primeiras ações da oposição depois que os parlamentares voltarem do recesso será pedir à equipe econômica do governo explicações sobre as medidas. Além da desvalorização, o governo Chávez decidiu aumentar o Imposto sobre Valor Agregado (IVA).
A desvalorização da moeda local ajudará a reduzir o déficit orçamentário do governo na medida em que ela impulsionará o valor, em bolívar, das exportações de petróleo do país. "A desvalorização tem benefícios fiscais mas também prejudica a atividade econômica da Venezuela", disse Orlando Ochoa, professor de economia da Universidade Católica Andres Bello, em Caracas.
A inflação venezuelana é a mais alta entre os 78 países monitorados pela Bloomberg - 27%. "O ajuste para uma única taxa cambial afetará a inflação para 2011", disse Ochoa. Com o dólar mais caro, os preços tendem a subir.
De acordo com Borges, a desvalorização afetará 3 mil produtos de consumo nacional, o que representa praticamente a metade das importações. Ele calcula que os medicamentos poderão ser reajustados em "pelo menos 65%". "O governo deve responder porque esta polícia seria favorável às pessoas", contestou.
Para a oposição, as medidas de austeridade devem ser aplicadas ao governo e não à população. "quem tem que apertar o cinto é o governo. Não é possível que [o governo] se financie com o sacrifício dos mais pobres", disse Ochoa.