Título: Dilma tenta conter crise com o PMDB
Autor: Lyra, Paulo de Tarso; Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2011, Política, p. A9

Os ministros da Casa Civil, Antonio Palocci, da Saúde, Alexandre Padilha, e das Comunicações, Paulo Bernardo, foram designados pela presidente Dilma Rousseff para tentar conter a crise do PMDB com o governo. O objetivo do grupo é conciliar o desejo do PMDB por cargos e o de Dilma em privilegiar nomes técnicos, e não políticos, na formação do segundo escalão do governo federal. Pela presidente, a reformulação ocorrida nos Correiosse repetiria em todas as estatais. Uma contradição, porém, pois nos Correios a troca de diretores se deu com indicações políticas, desta vez do PT.

A eleição de Marco Maia (PT-RS) para a presidência da Câmara não parece estar ameaçada pela insatisfação do PMDB, mas existem temas delicados no Congresso, como a votação do salário mínimo e da proposta de emenda constitucional que cria um piso nacional para policiais militares e bombeiros (PEC 300). O PMDB já avisou que precisa ser convencido das razões que levaram o governo a definir um mínimo de R$ 540. O líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), foi ontem ao ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio, pedir que ele marque para uma reunião com Guido Mantega na segunda quinzena de fevereiro. "Dizer que o governo quer um mínimo de R$ 540 não é argumento. Queremos ajudar a Dilma, mas queremos ser convencidos", disse.

Os partidos aliados da presidente, especialmente o PMDB, ameaçam aprovar um salário mínimo superior aos R$ 540 decretados pelo governo, se não tiverem atendidas suas reivindicações por cargos e liberação de emendas ao Orçamento da União. Num primeiro momento, os descontentes prometiam dar o troco na eleição de Maia a presidente da Câmara, ameaça que perdeu fôlego com a decisão da oposição de respeitar o princípio da proporcionalidade (de acordo com o tamanho das bancadas eleitas) na partilha de cargos no Congresso. Alves avisou que o PMDB cumprirá o acordo de apoiar o petista.

O temor do governo é a pressão que acontecerá depois caso a crise que atinge os dois principais partidos da base aliada não seja debelada logo. "Marco Maia assumiria uma Câmara em clima de total insegurança. Além do salário mínimo, temos matérias que podem provocar rombos no Orçamento, como a PEC 300", declarou um interlocutor do governo.

A escolha da trinca de ministros serve também para blindar a presidente Dilma do desgaste com o principal aliado. Políticos próximos lembram que ela tem um estilo diferente do antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O Lula fazia vistas grossas para essa questão de cargos e cobrava apenas fidelidade nas votações. Aprovava o que queria e depois ia para o povo capitalizar", disse um petista com livre trânsito no quarto andar do Palácio do Planalto.

Para este interlocutor, Dilma está muito atenta à questão programática e à escolha de perfis técnicos para o segundo escalão. "Eu já a vi pressionando ministros para tirar apadrinhados e colocar nomes mais qualificados. Por ela, a atitude de Paulo Bernardo nos Correios se repetiria nas demais nomeações do governo".

O grande nome do grupo de bombeiros é Palocci. Durante a reunião da coordenação política na noite de segunda-feira, quando o vice-presidente Michel Temer propôs a suspensão, até fevereiro, das nomeações do segundo escalão, Palocci concordou e convenceu Dilma de que esta era a posição mais oportuna.

O anúncio foi feito ontem por Temer. As negociações serão retomadas após as eleições dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Até lá, o PMDB vai apresentar um quadro de cargos dos quais não abre mão, especialmente no setor elétrico e na Fundação Nacional da Saúde (Funasa).

Após reunião no apartamento de Temer, entre dirigentes e líderes do PMDB, o líder Henrique Alves afirmou que o partido quer saber quais foram os "parâmetros" para fixação do valor do mínimo, para ser "convencido" de que ele deve ser adotado. "O Legislativo não é mero carimbador. Não conhecemos os parâmetros que motivaram a fixação em R$ 540 e quais as consequências para Estados e municípios. Precisamos ter todas as informações para nos convencer", disse Alves.

Nos últimos dois dias, a cúpula petista e o ministro das Relações Institucionais, Luiz Sérgio (PT), tentaram agir para conter a insatisfação do PMDB. O presidente da Câmara, Marco Maia, e deputados da sigla reuniram-se com Temer e Henrique Alves na segunda-feira e comprometeram-se a defender que o governo retome o diálogo com o PMDB na composição do governo.

Dirigentes do PT criticam a "precipitação" de ministros do partido, que afastaram servidores indicados pelo PMDB sem negociar com o aliado, que é estratégico. Para essa ala do partido, o PT não pode exigir "porteira fechada" em suas Pastas, já que há petistas em cargos importantes de ministérios que são do PMDB - como o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), órgão do Ministério de Minas e Energia, e a secretaria-executiva do Ministério da Previdência.

A bancada do PT na Câmara mostra preocupação porque o PMDB terá a segunda maior bancada de deputados (79, atrás do PT, que terá 88) e os dois partidos precisam atuar juntos para barrar um aumento maior do salário mínimo e a aprovação da PEC 300.

Segundo o líder do PMDB, Henrique Alves, a interrupção no processo de nomeações para os cargos do segundo escalão vai evitar que os aliados se atropelem na ânsia pela ocupação de espaço. "Essa parada é boa para o governo ter ideia dos espaços de cada partido da base, uma visão mais correta desse mosaico. A partir desse levantamento, voltaremos a conversar sobre as indicações, dentro de critérios técnicos, como quer a presidente, mas evitando atropelos."