Título: PT e PMDB defendem pacto para conter crise
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2011, Política, p. A5
Preocupados com as consequências do embate entre PMDB e PT na composição do segundo escalão do governo, dirigentes dos dois partidos defendem a pactuação de um novo padrão de relacionamento político, para evitar problemas à gestão de Dilma Rousseff. Dirigentes do PMDB admitem que o partido conduziu mal a negociação em torno da formação do governo, perdeu espaço e saiu enfraquecido. Por outro lado, petistas avaliam que a reação - considerada "estridente" - dos pemedebistas foi provocada pela falta de diálogo.
No momento, há uma trégua. Ontem, o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), divulgou nota para negar que o partido pretenda usar a votação do salário mínimo em retaliação ao avanço do PT sobre cargos comandados por pemedebistas. Na véspera, ele havia dito que o partido não está "convencido" de que o valor de R$ 540 fixado pelo governo seja o maior possível.
Na nota, disse que o partido quer é "buscar números e razões para enfrentar este debate, que não pode ser emocionalizado nem demagógico". Alves afirmou também que "misturar esse tema com a definição de cargos na composição natural do nosso governo é uma absurda e imperdoável irresponsabilidade".
Em São Paulo, o vice-presidente da República, Michel Temer, declarou que o seu partido não vai criar dificuldades para governo no Congresso.
"O que o PMDB tem dito é que indo para o Congresso haverá discussão. Mas o PMDB só vai fazer aquilo, volto a dizer, que seja possível para o Tesouro Nacional. Fora daí, digamos, o PMDB não vai votar contra o governo. Vai votar tudo de acordo com o governo", completou Temer após participar de missa em memória do ex-governador Orestes Quércia, falecido em 24 de dezembro.
Temer ressaltou ainda que pediu calma para a bancada do PMDB nas discussões sobre cargos. "Estamos conversando sobre isso com toda tranquilidade. O que há é um certo açodamento, aliás, não só do PMDB, mas do conjunto [de partidos]", afirmou.
Na terça-feira, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos descontentes com o avanço do PT no segundo escalão, afirmou que apresentará emenda para elevar o mínimo para R$ 560. "Eduardo Cunha faz o que quiser, mas não fala pela bancada, pelo partido. Em princípio, se o governo Lula, nosso governo, fixou esse patamar, é porque deve ser o valor possível, até porque tem repercussão nos municípios e Estados", disse Alves ao Valor, desautorizando a versão de que se trata de ameaça.
Na véspera, após entendimento entre petistas e pemedebistas, do qual participou o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais), o governo decidiu suspender as nomeações para os cargos do segundo escalão até fevereiro. Temer, presidente licenciado do PMDB que não se livrou da atuação partidária, participou das conversas. A ideia é retomar as negociações após as eleições para os presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado.
A suspensão das nomeações mostra, por um lado, disposição do PT para negociar, evitando novas insatisfações do PMDB. Por outro lado, pemedebistas avaliam que a estratégia é ruim para o partido, que perderá uma moeda de troca importante: o apoio ao candidato do PT a presidente da Câmara, Marco Maia. Deixando as nomeações para depois, Maia estará eleito e o PMDB não terá como mudar de posição.
Henrique Alves trabalha pela candidatura de Maia, para honrar compromisso assinado por Temer e pelo presidente do PT, José Eduardo Dutra, para que haja rodízio na presidência da Casa em 2014. Alves quer suceder Maia. Há, no entanto, articulações de partidos da base para lançamento de outros nomes, como Sandro Mabel (PR-GO), Júlio Delgado (PSB-MG) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP).
Uma ala do comando do PMDB - insatisfeita com a condução das negociações com o governo - diz que o PT está tentando, além de avançar sobre o espaço pemedebista no governo, enfraquecer politicamente o partido, com vistas às eleições de 2012 e 2014.
O PMDB perdeu as diretorias da Empresa de Correiose Telégrafos (ECT) e a Secretaria de Atenção à Saúde (Ministério da Saúde) e corre o risco de perder cargos importantes como a Fundação Nacional da Saúde (Funasa), a presidência e diretorias da Eletrobrás, a presidência e diretorias de Furnas, entre outros.
Reunidos na casa da governadora Roseana Sarney (MA) em Brasília, na noite de terça-feira, ministros e integrantes da cúpula partidária decidiram que, quando as negociações forem retomadas, o PMDB vai apresentar ao governo a relação de cargos dos quais o partido não abre mão. Da lista, constarão Furnas, diretorias da Eletrobrás, Funasa, vice-presidências do Banco do Brasile da Caixa Econômica Federal, Eletronuclear, e outros.
Os pemedebistas fizeram acordo para que o partido mostre coesão e que as nomeações sejam tratadas como questão partidária e não individual. A intenção é que cada indicação seja bancada pelo partido como um todo, e não seja apresentada como de um político. Persiste uma desconfiança entre o grupo da Câmara e o do Senado, comandado pelo presidente da Casa, José Sarney (AP), e o líder, Renan Calheiros (AL).
O PMDB quer de volta a liderança do governo no Congresso, vaga que ocupava até março de 2009, quando a sigla apoiou a designação da petista Ideli Salvatti (PT), hoje ministra, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na reunião na casa de Roseana, os pemedebistas acertaram que também vão exigir compensação para cada espaço que o PT queria tirar do partido. O PMDB sonha, por exemplo, tirar do PT o comando do Banco do Nordeste.
O líder do PMDB na Câmara diz que o partido quer ser consultado se algum ministro do PT quiser substituir um servidor de sua Pasta que seja do PMDB. Cobra que o PT mantenha indicados do PMDB com perfil técnico, como fez o ministro Pedro Novais (Turismo), do PMDB, que manteve Mário Augusto Lopes Moysés, ligado ao PT, na presidência do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur).
"Avaliamos o perfil do ocupante e vimos que é o melhor possível. Para quê trocar? Luiz Sérgio assumiu agora e não tem esse mapeamento ainda. Tem cargos que são ocupados por indicação de partidos aliados há seis, sete anos. Então é preciso ter esse cuidado", disse.
Dirigentes do PT afirmam que é preciso haver esse "cuidado" sim. E que os dois partidos estabeleçam um padrão de convivência no governo. Trata-se de "um ajuste inicial" ou um "freio de arrumação", segundo petistas. (Colaborou Fernando Taquari, de São Paulo)