Título: Planalto mantém controle sobre a crise
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 06/01/2011, Política, p. A6

A crise entre PMDB e PT é consequência de um desequilíbrio na representação de alguns partidos no governo, desproporcional, sobretudo no que se refere aos pemedebistas, à importância de cada um na Câmara dos Deputados. A situação requer ajuste, mas por enquanto está sob o controle do Palácio do Planalto e não ameaça os projetos que a presidente Dilma Rousseff enviar ao Congresso, neste início ano, inclusive o valor que o governo considerar compatível para o salário mínimo, fixado em R$ 540 por medida provisória.

A trégua entre PT e PMDB é providencial. Os pemedebistas assimilaram os cargos já perdidos, mas colocaram um pé na porta. O PT também se deu conta de que também tem muito a perder com a disputa, assim no Executivo como no Legislativo. A presidente agiu de modo a esfriar a crise, o que parece demonstrar uma mudança de estilo no Palácio do Planalto, de onde muitas crises antes saíram maiores do que entraram. Para citar um caso ainda inconcluso, basta olhar para a polêmica com o Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a extradição do italiano Cesare Battisti.

Todo começo de governo é nervoso, as forças políticas disputam para demarcar espaço. A crise atual - também inflada por interesses contrariados de deputados e senadores que não mais estarão no Congresso em fevereiro - foi agravada pelo fato de o PMDB ter entrado no governo Dilma menor do que saiu do governo Lula, apesar de ter feito parte da aliança eleitoral com o PT. É um desenho insustentável a longo prazo, na medida em que o governo é submetido a um processo de desgaste natural, como aliás aconteceu na metade do primeiro mandato de Lula, quando o PT teve reduzida sua presença hegemônica no governo.

Merece atenção especial a eleição para a presidência da Câmara (a situação está equacionada no Senado), em fevereiro. Fosse outro o equilíbrio do gabinete de Dilma Rousseff, com o PT menos preponderante na Esplanada, o natural seria a eleição de um petista para o cargo.

Um acordo entre as duas siglas prevê o revezamento entre eles no cargo, começando pelo biênio do PT, que apresentou como candidato o deputado Marco Maia (RS). A base se dividiu e outros nomes analisam se lançar na disputa, como o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e o líder do PR, Sandro Mabel (GO). No limite, o governo pode abandonar Marco Maia para assegurar um candidato vinculado ao Planalto. Com 62% de expectativas positivas da população, Dilma inaugura o ano Legislativo com a força de todo governo que acabou de ser sagrado nas urnas.