Título: PDT adia apoio a Maia e pede cargos
Autor: Agostine, Cristiane; Taquari, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2011, Política, p. A6

O PDT adiou o anúncio de apoio ao candidato do PT à presidência da Câmara dos Deputados, Marco Maia (RS), como forma de pressionar o governo federal pelo aumento do salário mínimo para R$ 580. Ao negociar com o PT, o partido pediu também a indicação dos presidentes de Itaipue da Eletrosule uma maior participação nos cargos de direção da Câmara.

Reunidos ontem com deputados do PT e com o presidente da Câmara, em São Paulo, parlamentares do PDT não chegaram a um acordo sobre a sucessão de Maia. Dos 28 deputados eleitos pelo partido em outubro, nove participaram da reunião. A decisão foi adiada para quarta-feira, quando a bancada se reunirá em Brasília.

O presidente do diretório estadual de São Paulo e líder do partido na Câmara, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, pediu a Maia que discuta com o governo federal a reabertura das negociações do valor do mínimo com as centrais sindicais. "Poderemos chegar a um entendimento que não seja os R$ 580, mas também não fique nos R$ 540", comentou Paulinho.

Maia, no entanto, desconversou. Empenhado em sua reeleição, o petista afirmou que não é responsabilidade da presidência da Câmara definir se o valor do mínimo será "a, b ou c". "Cabe à presidência da Câmara conduzir o debate. Vai vencer aquele que tiver capacidade de convencer de forma mais adequada", declarou.

O presidente da Câmara se comprometeu a conduzir de forma equilibrada a discussão sobre o reajuste. "Quando o governo manda a proposta do mínimo para o Parlamento, ele precisa entender que ali também é um espaço de discussão e debate. Esperamos que tanto o governo quanto os deputados estejam dispostos a essa discussão", disse, após se reunir com deputados do PDT.

A MP do salário mínimo deve ser discutida em fevereiro, no início da próxima legislatura. Paulinho apresentou duas emendas ao texto: uma para fixar em R$ 580 o valor do mínimo e outra para aumentar em 10% o salário dos aposentados. O pedetista quer também a correção da tabela do Imposto de Renda. Nesta proposta, o deputado do PDT tem um aliado no PT, o deputado Carlos Zarattini (SP), um dos seis parlamentares petistas que participaram do encontro ontem.

Na reunião com o presidente da Câmara, Paulinho apresentou uma lista de projetos que o PDT quer discutir neste ano. Entre eles, estão a redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais e o fim do fator previdenciário. O deputado pediu também mais espaço na relatoria de projetos, nas comissões e a aprovação de mais projetos de sua legenda. O dirigente defendeu que a divisão dos cargos na Câmara seja feita de acordo com o tamanho da bancada partidária.

Maia concordou com os pedidos ligados aos trabalhadores e, ao fim da reunião, o PT viu no PDT uma sinalização clara ao candidato à reeleição. O apoio ao petista deve acabar com a tentativa de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) de ser candidato à presidência da Câmara. "Sem o PDT, a candidatura de Aldo ficará enfraquecida. Ele perderá o apoio da esquerda", disse Zarattini. Aldo teria entre seus aliados parlamentares do bloco de esquerda, formado por PCdoB, PDT e PSB, e da bancada ruralistas, composta em sua maioria pelo PMDB.

Na reunião com o PT, foi discutida também a participação do PDT no governo Dilma Rousseff. Paulinho reforçou a intenção de indicar os presidentes de Itaipu e da Eletrosul, mas indicou que não fará chantagem com o governo. O deputado afirmou que o PDT não vinculará as indicações à aprovação do salário mínimo, nem à disputa pela presidência da Câmara.

Maia também procurou desvincular a eleição do Congresso à distribuição de cargos do governo. Segundo o petista, é legítimo que partidos que apoiaram a presidente Dilma Rousseff reivindiquem espaço. "Não acredito que isso venha a contaminar o debate na Câmara".

O PMDB, no entanto, ameaça o governo com a proposta de emenda de R$ 560, para o reajuste do mínimo, por conta da insatisfação com o avanço do PT nos cargos do segundo escalão.

Depois do encontro com o PDT, Maia entrou em contradição com seu partido. Questionado se colocará em pauta a reforma política se for reeleito, o presidente da Câmara afirmou que não considera o tema como prioridade da próxima legislatura. "Temos que romper essa visão de que o país só anda com grandes reformas", comentou.

Com a declaração, o petista vai na contramão do discurso da presidente Dilma Rousseff, que durante a campanha eleitoral pregou a necessidade de o país passar por uma reforma política. O PT propôs a criação de uma Assembleia Constituinte exclusiva para debater a reforma, com o engajamento do ex-presidente Luz Inácio Lula da Silva.