Título: PT e PSB do Nordeste unem-se por cargos
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2011, Política, p. A7

Insatisfeito com a distribuição de cargos no primeiro escalão, o PT do Nordeste aliou-se ao PSB para impedir que o PMDB avance sobre os postos estratégicos existentes na região. Ambos trabalham para desbancar o grupo do ex-ministro da Integração Nacional Geddel Vieira Lima (BA) da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) e fatiá-la entre as maiores lideranças do Piauí, o governador Wilson Martins (PSB) e o senador eleito Wellington Dias (PT).

Com esse acordo, o Banco do Nordeste (BNB) seria mantido para o PT cearense e a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) continuaria nas mãos do PSB. Nessa configuração, avaliam, estaria representado o resultado das urnas. Dos nove Estados do Nordeste, o PSB elegeu quatro governadores - Pernambuco, Ceará, Paraíba e Piauí - o PT, dois - Bahia e Sergipe -, e o PMDB, um - Maranhão.

Os pemedebistas, porém, querem utilizar a mesma tese explicitada na composição ministerial - de manutenção dos cargos do governo passado - e ficar com duas das cinco principais estatais nordestinas: a Codevasf e o Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), que está com um aliado do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

A estratégia de jogar ao lado do PSB é uma tentativa dos petistas nordestinos de se fortalecer, após a frustração com a conquista para o PT nordestino de apenas dois dos 17 ministérios obtidos pelo PT na Esplanada: Desenvolvimento Agrário e Promoção da Igualdade Racial. Um desequilíbrio, argumentam, sobre o resultado das urnas, já que a região deu mais de 18 milhões de votos a Dilma - 33% do total - e elegeu 24 dos 88 deputados do partido, números que, esperavam, iriam cacifá-los para a ocupação de maiores espaços na Esplanada.

Individualmente, contudo, avalia-se que o governador da Bahia, Jaques Wagner, saiu-se bem, pois, embora não tenha conseguido ficar com a Integração Nacional, influenciou na indicação do ministro das Cidades, Mário Negromonte (PP-BA), e assegurou a presidência da Petrobraspara o baiano José Sérgio Gabrielli. Além disso, Desenvolvimento Agrário ficou com um indicado seu.

As tratativas entre PT e PSB para os cargos do segundo escalão antecede um movimento que deve prevalecer pelo menos até 2014: o de PT e PSB jogarem juntos quando o assunto for Nordeste. "O melhor caminho hoje é nos unirmos. Temos força no Congresso, eles têm força nos Estados", afirma o deputado José Guimarães (PT-CE), um dos principais articuladores nordestinos em Brasília.

Ele pretende coordenar a bancada do Nordeste na Câmara e desenha uma estratégia de fortalecimento não só dos nordestinos petistas, mas de todos os parlamentares da região. A ideia é fazer valer o "olhar regional" sobre todos os projetos que tramitem pelas duas Casas, distribuindo representantes em todas as comissões temáticas por onde os projetos de lei passam, requerendo a relatoria de propostas que atinjam diretamente a região e unindo forças em torno de reivindicações regionais junto ao Executivo.

"Aqui dentro os ruralistas, quando querem, são ouvidos para renegociarem suas dívidas. A bancada do Rio é ouvida e mexe na questão dos royalties. Agora, quando mexem em interesses do Nordeste ninguém fala nada", diz Guimarães, que será o coordenador dos 151 deputados eleitos da região na última eleição.

Sexto irmão de uma família de 11 na qual o primogênito é o ex-deputado José Genoino (SP), Guimarães segue para seu segundo mandato na condição de segundo mais votado em seu Estado. Teve quase o triplo de votos do que em 2006, a despeito de indiretamente ter sido atingido pelo escândalo do mensalão em 2005.

Em junho daquele ano, era deputado estadual quando o então secretário de organização do PT-CE, José Adalberto Vieira da Silva, lotado em seu gabinete na Assembleia Legislativa, foi preso no aeroporto de Congonhas com US$ 100 mil escondidos na cueca e R$ 200 mil em uma bolsa. O episódio entrou para o folclore político mas não impediu seu crescimento. É cotado para liderar a bancada do PT ainda nesta legislatura e disputar um cargo majoritário por seu Estado em 2014.

No Estado do presidente do PSB, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, o PT também defende a aliança. "Há uma convergência muito forte, o que não significa que não haja disputa. Vamos fazer um esforço de continuar construindo caminhos conjuntos. Mas o futuro nunca se sabe", diz o deputado Pedro Eugênio (PT), ele mesmo um egresso do partido de Miguel Arraes, de quem foi secretário de Estado.

Professor de economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é uma espécie de consultor informal de economia da bancada e forte defensor de políticas específicas de desenvolvimento regional no país por meio da criação e unificação de fundos constitucionais. Seu perfil técnico, todavia, não o impede de dizer que a expectativa de participação no primeiro escalão era maior: "Havia esse sentimento na bancada desde a eleição".

O sentimento a que se refere, na verdade, vem desde a reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. O Nordeste lhe deu votos mas não houve espaço em ministérios e, como agora, buscou-se articular o fortalecimento da região via bancada. "Somos 151 deputados mas com participação ativa fica entre 40 e 80, a depender do tema e do projeto. Precisávamos de uma mobilização maior", diz Zezéu Ribeiro (PT-BA), coordenador da bancada nordestina de 2007 a 2010. "É difícil fazer prevalecer a visão regional. São nove Estados com todos seus recortes partidários e questões regionais", diz.

Ainda assim, dá dois exemplos de situações em que conseguiu impor o olhar nordestino sobre projetos que tramitaram na Casa. Um deles, o que direciona parte dos recursos do fundo social do pré-sal para o "desenvolvimento regional, na forma de programas e projetos nas áreas de combate à pobreza e de desenvolvimento". O outro, a renegociação das dívidas dos agricultores que integram o Pronaf.

Em contraposição, as derrotas se acumularam. A mais relevante delas - e que deve nortear a discussão nessa legislatura - é a maior execução dos recursos dos fundos setoriais de ciência e tecnologia e sua conversão em fundos constitucionais, o que garante a remessa por parte da União. Outra questão que deve pautar a bancada nesta legislatura é o fortalecimento da Sudene. "A Sudene está em uma situação crítica", diz Zezéu Ribeiro.