Título: Região já rivaliza com setores industriais do Brasil
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2011, Especial, p. A12

De Buenos Aires

Os exportadores brasileiros foram prejudicados pelo aumento da produção de telefones celulares na Terra do Fogo, que já atendia 29% do consumo da Argentina no acumulado do ano até outubro, segundo levantamento da consultoria IES. Para o Ministério da Indústria, essa fatia deverá aumentar até o fim de 2010 e corresponder a 40% dos novos aparelhos em uso. A previsão oficial é de que a demanda atinja 12 milhões de unidades.

O efeito disso tem sido a queda das importações, que diminuíram em volume (de 8,3 para 6,6 milhões de aparelhos) e em valores (de US$ 925 milhões para US$ 679 milhões), na comparação entre os dez primeiros meses de 2009 e de 2010. Já as compras de partes e peças tiveram aumento de 322% no período.

O Brasil foi duplamente afetado. Em primeiro lugar, porque a Argentina era e continua sendo nosso maior mercado de exportação para celulares. Depois, porque os telefones brasileiros tiveram a maior queda entre os principais fornecedores da Argentina. Isso ocorre porque o Brasil disputa justamente com a Terra do Fogo o abastecimento de aparelhos de menor valor - os celulares brasileiros foram importados pelo país vizinho a uma média de US$ 81 por unidades; os chineses, de onde provem a maioria dos "smart phones", valem US$ 157 e os mexicanos, US$ 154 por unidade.

Por isso, de janeiro a outubro, as importações argentinas de celulares brasileiros caíram 39%, totalizando US$ 399 milhões, segundo a IES. As compras provenientes da China aumentaram 41% e as do México tiveram alta de 9%. Mesmo assim, quase três em cada quatro telefones importados vendidos na Argentina são fabricados no Brasil (incluindo Manaus). De acordo com as regras do Mercosul, bens produzidos em Manaus e na Terra do Fogo, por tratar-se de zonas francas, não se beneficiam da tarifa zero da área de livre comércio. (DR)