Título: Produção cresce, mas importação assusta
Autor: Fontes, Stella; Laguna, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 07/01/2011, Empresas, p. B8

Embora comemore mais um ano de vendas e produção recordes, a indústria automobilística brasileira assiste cautelosa ao crescimento, até agora consistente, da participação dos veículos novos importados no mercado nacional. Em 2010, automóveis fabricados principalmente na Argentina, Coreia do Sul e México representaram 18,8% do volume comercializado no país. Neste ano, devem alcançar participação de 22%, com mais de 800 mil unidades, conforme previsão da Anfavea, acima da fatia histórica registrada em 1995. Naquele ano, os importados representaram 21,4% do mercado, de 1,73 milhão de automóveis, na esteira da derrubada da alíquota de importação de carros, de 70% para 30%.

No ano passado, até novembro, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), mais de 634 mil carros importados entraram no país, uma alta de 50,9% frente ao mesmo período de 2009. A Argentina manteve-se como principal origem, com 337,3 mil unidades, 53,2% do total importado, e alta de 38,2% ante o ano anterior. Em seguida, aparecem Coreia do Sul, com 137,8 mil carros, e México, com 66,5 mil unidades.

O avanço dos importados ajuda a explicar a expectativa de que a produção brasileira, prevista em 3,68 milhões de veículos em 2011, fique abaixo do volume total de vendas do mercado nacional, outra situação que não ocorre desde 1995. Mas a atividade do setor deve ser pressionada ainda pelo arrefecimento das exportações. Nas estimativas da Anfavea, as vendas externas das montadoras brasileiras devem cair 4,7% neste ano, para 730 mil unidades. Em 2010, somaram 765,7 mil, com expansão de 61,1% sobre as exportações de 2009, período em que a demanda externa foi mais severamente afetada pela crise financeira.

A China, que começa a se consolidar como importante polo mundial de produção automobilística, ainda aparece no ranking da Secex com volume relativamente pequeno de importações para o Brasil - 20,114 mil unidades em 2010, ante 3,535 mil em 2009, o que gera variação significativa, de 469%. Mas o receio que o país asiático motiva na indústria brasileira não é proporcional. "O grande risco, no longo prazo, é que a China vire plataforma de produção e exportação das grandes montadoras, que já estão lá", afirmou o presidente da Anfavea, Cledorvino Belini.

Segundo o executivo, que preside a Fiatno país, as importações, favorecidas sobretudo pelo nível de câmbio atual, já afetam a rentabilidade das montadoras que produzem no país. Esse efeito, em sua avaliação, deve ser ainda mais notável nos próximos anos com a chegada em maior escala de concorrentes chineses.

Atento ao movimento de sobe-e-desce das importações e exportações, o governo brasileiro está perto de concluir um estudo sobre a competitividade da indústria automobilística nacional, que deve orientar a produção de medidas que incentivo. Conforme Belini, a expectativa é a de que o estudo fique pronto em abril. "Por enquanto, não temos reunião agendada com o governo, mas isso deve ocorrer mais à frente", disse.

Apesar das previsões negativas, Belini elogiou as mais recentes medidas anunciadas pelo Banco Central para conter a valorização do real. "Esperamos que o dólar dê uma reagida ou deixe de cair. É uma medida saudável a todo o setor manufatureiro." Considerando-se toda a cadeia automobilística brasileira, que inclui o setor de autopeças, o déficit na balança comercial do setor somou US$ 5,7 bilhões entre janeiro e novembro do ano passado. Em todo o ano de 2009, havia sido de US$ 3,7 bilhões.

As vendas de veículos novos no Brasil, entre nacionais e importados, totalizaram 3,515 milhões de unidades no ano passado, com crescimento de 11,9% na comparação com 2009. Já a produção das montadoras brasileiras alcançou 3,638 milhões de veículos, alta de 14,3%. A expectativa da entidade é de novo recorde em 2011, com a comercialização de 3,63 milhões de veículos zero quilômetro.