Título: PMDB negocia compensações por perda de cargos no setor elétrico
Autor: Lyra , Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2011, Política, p. A6

Paulo de Tarso Lyra | De Brasília O PMDB acertou com o Palácio do Planalto as compensações para as possíveis perdas de postos estratégicos no setor elétrico. Em troca do apoio incondicional do governo à sua reeleição para a Presidência do Senado, José Sarney (PMDB-AP) concorda em abrir mão da presidência da Eletrobras para Flávio Decat, indicado pela presidente Dilma Rousseff. Negocia, contudo, outros cargos importantes no setor. "Não creio que o Sarney vai entregar o ouro do setor elétrico em troca apenas da Presidência do Senado", disse uma autoridade da área.

O PMDB também não vê objeções em tirar das mãos de Eduardo Cunha (RJ) o comando de Furnas. A sugestão é que o PMDB mineiro assuma esse papel a partir de agora. "O PMDB vai discutir tudo partidariamente. Não existe cargos de A, B ou C. Existem cargos do PMDB", resumiu ao Valor uma liderança fluminense. Mas pemedebistas lembram, contudo, que a bancada do Rio é a maior do partido na Câmara e que terá, necessariamente, de ser compensada caso perca espaço em Furnas.

Depois das críticas contundentes de Dilma e do chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, sobre a postura pública do PMDB na disputa por cargos, as lideranças do partido resolveram agir silenciosamente. Sarney conversa diariamente com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Líder do partido no Senado, Renan Calheiros (AL), também mantém um canal de diálogo constante. "Renan está com a calculadora política na mão. Ele sabe que este é o momento de negociar para surgir mais à frente, fortalecido", disse um interlocutor do partido, lembrando que Renan apoia a reeleição de Sarney.

Pessoas próximas ao presidente do Senado afirmam que Sarney é muito pragmático. Ao perceber a disposição de Dilma em confirmar Flávio Decat na presidência da Eletrobras, buscou assegurar sua continuidade no comando da Casa Parlamentar. "Sarney é muito inercial. Ele prefere assegurar as coisas que têm na mão do que ficar se preocupando com aquilo que está voando sobre sua cabeça".

A dúvida é qual posto no setor elétrico atrairia a cobiça do presidente do Senado. Políticos que acompanham as negociações afirmam que uma alternativa seria uma diretoria em uma das subsidiárias, como a Eletronorte, por exemplo, ou em Furnas. A estatal deverá ter uma troca de comando, já que Luiz Otávio não foi eleito para o Senado e a vitória de Jader Barbalho (PMDB) para o Senado foi impugnada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com base na Lei da Ficha Limpa.

O atual presidente da Eletrobras, José Antonio Muniz Lopes Filho, já foi presidente da Eletronorte. Mas há quem acredite que uma mera recondução ao posto anteriormente ocupado seria um sinal de perda de prestígio. Na avaliação deles, nenhum outro cargo tem a projeção política e orçamentária equivalente à de presidir a holding do setor elétrico. No caso de Furnas, está em jogo, além da presidência da estatal, o comando do fundo de pensão Real Grandeza, que tem uma carteira de investimentos de R$ 4,8 milhões.

A nova postura do PMDB começou após o partido ser repreendido duramente por Dilma e Palocci. Como mostrou o Valor, Dilma escalou Palocci para negociar com os pemedebistas, mas adiantou estar "preocupada com o clima de instabilidade que a crise no relacionamento estava causando no governo". Palocci disse a lideranças pemedebistas, incluindo o vice-presidente Michel Temer, que o partido não era "aliado e sim, governo e tinha que comportar-se como tal".

Um político que acompanha as conversas lembrou que este é o momento perfeito para negociar espaços com o PMDB. "Eles estão incomodados com o carimbo que receberam nestes primeiros dias de que só querem negociar espaços, sem importar-se com os problemas do país", disse um petista próximo da presidente Dilma.