Título: Balcão ganha mais transparência
Autor: Ragazzi, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2011, Eu & Investimentos, p. D1

Além de liderar em volume a negociação de papéis estrangeiros na bolsa americana, o Brasil deve aumentar a presença em número de companhias listadas nos Estados Unidos. O Bank of New York Mellonespera crescimento na quantidade de empresas brasileiras que iniciam a exposição no mercado internacional via American Depositary Receipts (ADRs) de nível 1, que são negociados em balcão.

"As empresas, normalmente, começam por aí, o que já garante a elas uma maior visibilidade externa e que possui custos de negociação mais reduzidos", afirma Curtis Smith, diretor regional do Bank of New York Mellon.

Ele conta que este segmento de balcão americano, de dois anos para cá, teve muitos ganhos em termos de transparência.

"Antes era difícil mensurar o volume negociado nesse ambiente, pois as transações costumavam ser, inclusive, fechadas por telefone", diz. Agora, segundo Smith, houve uma evolução considerável. "Houve um incremento tecnológico e é possível obter cotações em tempo real com um tipo de funcionamento próximo aos sistemas adotados por uma bolsa", diz.

A razão para as melhorias, explica, foi o fato de que, depois da crise financeira global de 2008, muitas grandes companhias europeias migraram da listagem em bolsa, mais custosa, para o segmento de balcão, que tem custos de manutenção menores. Entre elas, nomes como Adidas, British Airwayse Air France.

"Essas empresas puderam optar pela migração, o que acabou contribuindo para o aperfeiçoamento do balcão, porque, no caso delas, de 80% a 90% do volume que suas ações negociam está nas bolsas europeias e apenas os 20% restantes, em Nova York", afirma.

No caso das companhias brasileiras, a migração não aconteceu nem é esperada porque hoje a negociação desses papéis está metade na Nysee metade na BM&FBovespa. Porém, diante do maior status que o segmento adquire, tende a atrair mais integrantes.

Por conta do aumento da transparência, o Bank of New York Mellon conseguiu compilar dados dos ADRs em balcão em 2010. Entre os papéis brasileiros, a OGXliderou os negócios, com US$ 712 milhões ou 33% dos US$ 2,1 bilhões movimentados no balcão americano por 40 companhias brasileiras - dez iniciaram os programas no ano passado.

O papel do Banco do Brasil (BB) foi o terceiro mais negociados, com US$ 275 milhões, e, segundo os cálculos do banco, com um aumento de 8.000% em relação a 2009.

Segundo o vice-presidente de finanças, mercado de capitais e relações com investidores do BB, Ivan Monteiro, a oferta de ações, que movimentou R$ 9,8 bilhões em julho, deu grande contribuição, já que houve aumento da base de acionistas e o capital em circulação chegou a 34,1%. Após a oferta, a liquidez das ações na Bovespa subiu 70%.

Na captação, ele conta que houve foco na distribuição para o investidor de varejo local. O estrangeiro levou 39% das ações, mas tem mostrado interesse crescente pelos papéis. "Muitos investidores preferem trabalhar no horário de Nova York."

Para o executivo, o programa, apesar de não ser de nível 2, capturou vários objetivos, pelo fato de a instituição estar mais exposta à avaliação dos analistas estrangeiros, ganhando visibilidade internacional, o que também contribui para melhorar seu custo de captação. O investidor estrangeiro já responde por 17% do capital do banco.

Monteiro conta que, dentro do BB, não há uma decisão de avançar para o nível 2, mas que o banco tem tomado as iniciativas que o habilitam para isso, perseguindo, por exemplo, os requisitos da lei Sarbanes Oxley, que rege o mercado de capitais americano, e as adequações ao IFRS.

Também se destacaram no balcão americano os ADRs nível 1 de Usiminas, com US$ 293 milhões; Cielo, com US$ 224 milhões; e Cyrela, com US$ 150 milhões.