Título: Brasil no topo
Autor: Ragazzi, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 10/01/2011, Eu & Investimentos, p. D1
Os papéis do Brasil lideraram em 2010, pelo terceiro ano seguido, o volume negociado com American Depositary Receipts (ADRs), os recibos de ações de empresas estrangeiras listados na Bolsa de Nova York.
No ano passado, as transações com ADRs de 27 empresas brasileiras movimentaram US$ 744 bilhões, ou 24% do total de US$ 3,1 trilhões girados por companhias internacionais que negociam nos Estados Unidos, conforme dados compilados pelo Bank of New York Mellon. Em relação a 2009, o crescimento de transações com papéis brasileiros foi de 21%.
"O interesse do investidor internacional por papéis da América Latina, e em particular do Brasil, é imenso", afirma Scott R. Cutler, vice-presidente executivo da Nyse Euronext.
A bolsa americana espera que mais empresas acessem o mercado a partir deste ano e setores que tendem a se destacar são consumo, tecnologia, financeiro, indústria e setor imobiliário.
"O IFRS, novo padrão contábil adotado pelas empresas brasileiras, é aceito pela SEC, o que vai reduzir os custos para as companhias se listarem", afirma Alexandre Ibrahim, diretor administrativo da Nyse Euronext, destacando que a exigência de balanços em US Gaap, padrão americano, era um dos principais pontos a encarecer os custos de negociação de papéis na bolsa americana.
Para Curtis Smith, diretor regional do Bank of New York Mellon, deverá aumentar a adesão de companhias já abertas no Brasil ao mercado americano. "Não esperamos que as ofertas inicias saiam com a dupla listagem porque é muito complicado, neste momento, lidar com dois órgãos reguladores", diz.
Segundo os executivos da Nyse, a gigantesca oferta de ações da Petrobrasano passado ofuscou tanto os volumes quanto os planos de outras companhias para lançar papéis lá fora.
"Da parte da distribuição da petrolífera alocada nos Estados Unidos, mais de 60% foi para o investidor de varejo, o que mostra a força do papel por aqui e também o interesse em relação ao Brasil", dizem. A expectativa pela operação inibiu novos negócios.
As transações com os ADRs da mineradora Vale, representativos de ações ordinárias (com direito a voto) e preferenciais (sem voto), somaram US$ 243 bilhões e superaram os volumes, também de ONs e PNs, de Petrobras, que tradicionalmente tinham a liderança e giraram menos, US$ 225 bilhões. A oferta afetou a liquidez dos ADRs da petrolífera, assim como no Brasil.
Conforme cálculos do Valor Data, de janeiro a setembro do ano passado, portanto antes da concretização da oferta da petrolífera, os ADRs que representam ONs da Vale tinham média diária de negócios de US$ 750 milhões. Depois da oferta, de setembro a dezembro, esse valor baixou para US$ 643 milhões. No caso da Petrobras, ocorreu movimento inverso. Antes da distribuição, negociavam US$ 616 milhões ao dia, em média, e depois alcançaram US$ 720 milhões.
O volume somado de ambas responde por 63% de tudo o que se negocia, em Nova York, com papéis brasileiros.
As duas companhias estão entre as dez com mais transações nos Estados Unidos. Na lista de 2010 que mostra os ADRs mais negociados, o portal de buscas chinês Baidu vem em primeiro lugar, com US$ 249 bilhões, mas está listado na Nasdaq. A Vale vem em segundo lugar, com movimento de US$ 243 bilhões, mas entre os papéis da Nyse tem a liderança. A Petrobras, que girou US$ 225 bilhões, ficou em quarto lugar na lista geral. O Itaú Unibancoficou em oitavo, com US$ 63 bilhões.
O recorde de negociações com ADRs brasileiros foi em 2008, quando somaram US$ 848 bilhões - ou 23% do total de US$ 3,6 trilhões girados. De 2006 até agora, apenas em 2007 o Brasil não esteve à frente das negociações, posto ocupado pelas empresas chinesas.