Título: Chuvas no Tietê não garantem recuperação de reservatórios
Autor: Máximo, Luciano; Maia, Samantha
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2011, Brasil, p. A4
As cheias de verão semanais, às vezes diárias, dos rios Tietê e Pinheiros, que flagelam a população da cidade de São Paulo, podem dar a impressão que, pelo menos do ponto de vista da geração de energia hidrelétrica, São Paulo e o país não têm o que lamentar. É uma verdade apenas parcial. Como o Tietê é considerado um rio auxiliar no sistema de geração hidrelétrica brasileira, se as chuvas que caem na sua bacia não forem tão abundantes em outras regiões, a recuperação geral dos reservatórios esvaziados no período seco (maio a novembro) é pequena.
Análise dos dados diários divulgados pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revela que, na segunda-feira, dia 10, o nível médio do conjunto dos reservatórios de todas as regiões produtoras de energia hidrelétrica do país estava abaixo do nível do dia 10 do ano passado. Na região Sudeste/Centro-Oeste, que responde pela maior parte da capacidade geradora do país, o nível dos reservatórios estava em 52,39%, muito abaixo dos 73,9% de janeiro do ano passado e também inferior aos 58,6% de janeiro de 2009.
Mesmo assim, o ONS está satisfeito com o ritmo de recuperação dos reservatórios este ano, ainda que permaneça a torcida para que as chuvas persistam, especialmente no Sudeste. O atual verão está sob a influência do fenômeno natural denominado La Niña (esfriamento anormal das águas do oceano Pacífico tropical), cujas características hidrológicas -basicamente, seca no Sul e chuvas no Norte e Nordeste- são menos constantes do que as do El Niño (aquecimento anormal das águas do Pacífico tropical), que provoca seca no Norte-Nordeste e cheias no Sul.
A maior prova é que, embora em alguns municípios do Rio Grande do Sul esteja faltando água para beber, o nível dos reservatórios do Estado e de toda a região Sul iniciou há poucas semanas um processo de recuperação. No dia 10, estavam em 71,81%, dentro da média histórica de janeiro dos últimos quatro anos. Em dezembro, os reservatórios do Sul estavam em níveis preocupantes, obrigando o ONS a utilizar termelétricas (mais caras) e a suprir parte da carga sulista com energia do Sudeste. Agora, o Sul já está ajudando a abastecer a região vizinha. Como o Sul tem reservatórios pequenos, que enchem e esvaziam rapidamente, a preocupação maior dos técnicos é com o Sudeste-Centro-Oeste e com o Norte e Nordeste.
Apesar de o Tietê ter capacidade geradora próxima a 2 mil megawatts nas usinas situadas abaixo da capital paulista, os rios considerados decisivos para a geração de energia no Sudeste/Centro-Oeste são o Grande e o Paranaíba que se juntam para formar o Paraná (Itaipu). Com o Grande e o Paranaíba bem, o Paraná também está bem, é o raciocínio dos técnicos.
O reservatório da usina de Furnas, o mais importante do Rio Grande, estava a 58,11% da capacidade em 31 de dezembro e subiu para 67,57% no dia 9 deste mês. Em 9 de janeiro de 2010, estava 91,18% cheio. Apesar da diferença, a situação do rio Grande é considerada animadora desde que começou o período chuvoso.
No Paranaíba, o ritmo foi preocupante em dezembro, mas melhorou muito em janeiro. O reservatório de Emborcação, o mais importante do rio, estava a apenas 24,19% da capacidade no dia 31 de dezembro. Saltou para 32,80% no dia 9 deste mês, mas está longe dos 54,80% do mesmo dia do ano passado. Resumindo: a situação do Sudeste depende muito da continuidade das chuvas.
O mesmo acontece no São Francisco, responsável por praticamente toda a energia hidrelétrica gerada no sistema Nordeste. Está chovendo muito na região que fica antes do reservatório de Três Marias (MG), mas nem tanto entre Três Marias e Sobradinho (BA). Sobradinho está a 38,85% da capacidade Há um ano estava em 69,20%. Na região Norte, embora o reservatório de Tucuruí (rio Tocantins) esteja a 30,88% da capacidade (53,74% em janeiro de 2010), a afluência de água já é grande, devido às chuvas no Araguaia (afluente do Tocantins), e não preocupa o ONS.
Como o período chuvoso está no começo, a expectativa dos técnicos é que, em maio, todas as regiões estejam em níveis satisfatórios. Isso permitiria retardar o uso de termelétricas para poupar água dos reservatórios até o fim de novembro, quando começa uma nova estação chuvosa, barateando o custo da energia ao longo do ano.