Título: Presidente avisa a PMDB que basta de brigas públicas
Autor: Romero, Cristiano; Bittar, Rosângela
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2011, Política, p. A7

A presidente Dilma Rousseff e o chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, avisaram ontem ao PMDB que acabou o tempo da briga pública entre o partido e o PT por cargos no segundo escalão do governo. Dilma está incomodada com a instabilidade política que a situação causou, e Palocci avisou ao vice-presidente, Michel Temer, "não estar gostando da maneira como as coisas estavam sendo discutidas nos jornais". Durante reunião na manhã de ontem entre Palocci, Temer, o ministro da coordenação política, Luiz Sérgio, e o líder do PMDB na Câmara, Henrique Alves (RN), Palocci foi explícito. "Nós somos governo e temos que agir como governo", disse o chefe da Casa Civil.

Um dos principais expoentes do partido, Henrique Alves também teve que se explicar para Palocci. Ele negou ter dito que a briga por cargos no segundo escalão era uma "traição" ao acordo PT-PMDB. "Eu jamais falei isso porque Palocci, em hora nenhuma, vinculou as nomeações da Embratur às escolhas para a Funasa", disse o líder pemedebista. Henrique Alves disse que Palocci, como sempre, foi muito franco ao expressar a necessidade de recomposição dos dois partidos. "Palocci é essencial para o presente e para o futuro do governo Dilma", elogiou Henrique Alves.

Foi a primeira das diversas reuniões que aconteceram ao longo do dia de ontem, após o auge da crise que culminou com o cancelamento da reunião de coordenação política do governo na manhã de segunda. Após a reunião no gabinete da Vice-Presidência, Temer seguiu para a Câmara para encontrar-se com o candidato a presidente da Casa pelo PT, Marco Maia (RS). O vice-presidente foi reafirmar o apoio à candidatura do petista para manter o clima de governabilidade pelos próximos quatro anos. Se o PMDB romper o acordo agora, o PT se sentirá livre para fazer o mesmo daqui a dois anos, abrindo espaço para candidaturas avulsas na Casa.

À tarde, Henrique Alves foi ao Ministério da Saúde "fazer as pazes" com Alexandre Padilha. Na semana passada, os dois se agrediram verbalmente após a sugestão de trocas no comando da Funasa e na Secretaria de Atenção à Saúde (SAS). "Recompusemos as relações. Padilha foi um dos ministros que mais ajudaram o PMDB na época em que era coordenador político", disse o líder do PMDB. "Eu estou aberto a receber sugestões de todos para compor minha equipe ou qualquer outro cargo do setor de saúde", assegurou Padilha.

No início da noite, Temer recebeu o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) e o presidente em exercício do partido, Valdir Raupp (RO). A partir de agora, a estratégia será negociar "até a saliva secar", nas palavras de um interlocutor do PMDB. Para um parlamentar diretamente envolvido nas negociações, não existem razões, neste momento, "para tumultuar ainda mais o ambiente. Temos que desanuviar o cenário". O PMDB abriu mão de apresentar uma lista dos nomes e cargos que pretende indicar para o segundo escalão, especialmente para o setor elétrico e quer debatê-los com calma com o governo. Para Henrique Alves, os debates devem ser retomados apenas após a eleição para as mesas diretoras do Congresso.