Título: Novo round das Teles
Autor: Mainebti, Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 29/07/2010, Economia, p. 18

Com aval dos mandatários brasileiro e português, operação casada garante compra da Vivo pela Telefônica por 7,5 bilhões de euros e entrada da Portugal Telecom na Oi pelo valor de R$ 8,44 bilhões

Doze anos depois da privatização do Sistema Telebrás e de uma longa novela que envolveu as gigantes das telecomunicações Telefônica, Portugal Telecom e Oi, as empresas anunciaram ontem um acordo para fechar duas importantes operações no Brasil. A primeira delas é a compra pela Telefônica da participação da Portugal Telecom na maior empresa de celular brasileira, a Vivo, velho objeto de desejo. Esse negócio dará fôlego à segunda operação: a compra das ações da BNDESPar e de fundos de pensão de empresas estatais Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras) e Funcef (Caixa) na brasileira Oi pela Portugal Telecom, satisfazendo a vontade da companhia portuguesa de permanecer no mercado do país.

A decisão da Portugal Telecom de sair da Vivo aconteceu depois que a Telefônica que já era acionista da empresa brasileira aumentou pela terceira vez a sua oferta pela participação do grupo português na operadora de telefonia móvel. A venda foi fechada em 7,5 bilhões de euros (R$ 17,2 bilhões), garantindo à Telefônica 60% do capital total da Vivo e 88% do capital votante.

Segundo comunicado da Oi, a companhia portuguesa vai agora pagar até R$ 8,44 bilhões para obter uma participação total, em termos de valor econômico, de 22,4% na Telemar Norte Leste, braço operacional do Grupo Oi. Como estão previstos aumentos de capital, a Brasil Telecom terá, na prática, 10% do controle por meio de participação direta na Telemar Participações. A empresa brasileira, por sua vez, terá 10% de participação na portuguesa, que custará R$ 1,8 bilhão aos cofres da Oi.

Em maio, os espanhóis já tinham feito uma proposta para adquirir o controle da Vivo, mas o próprio primeiro-ministro português, José Sócrates, bloqueou a operação. Ele quis assegurar que a Portugal Telecom entrasse na Oi antes de deixar a Vivo e manifestou sua preocupação em conversas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o aval do premier português, os acionistas da Brasil Telecom chamaram os sócios controladores da Oi para uma negociação, na semana passada.

Nos convidaram para ter uma reunião, fomos a Lisboa, nos encontramos na quarta-feira à noite e nos reunimos até sábado, onde concluímos ser possível fazer essa associação. Fui eu e o Pedro Jereissati (presidente da Telemar Participações e acionista do grupo Jereissati), disse ao Correio o presidente da holding Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo. Os grupos Andrade Gutierrez e Jereissati continuarão como controladores da Oi. A entrada da Portugal Telecom no negócio se dará por meio de compra de uma fatia da participação da BNDESPar e dos fundos de pensão. Haverá também aumentos de capital na Telemar Participações, na Tele Norte Leste (TNL) e na Telemar Norte Leste (TMar).

Segundo Azevedo, futuramente, a Brasil Telecom e a Oi pretendem investir no Programa Nacional de Banda Larga brasileiro, uma prioridade do governo Lula e da candidata à Presidência Dilma Rousseff. Será feita também uma joint-venture entre as duas empresas para investimentos em outros países da América Latina e na África, que já está recebendo apelidos criativos de analistas. Como esperado, pouco tempo depois de criada, a supertele nacional () dará espaço à LusoFone, diz relatório divulgado ontem pela Link Investimentos.

Consumidor O valor dos papéis(1) da Oi caiu ontem após o anúncio, movimento que analistas atribuíram ao temor de acionistas minoritários de que suas ações se diluíssem após o aumento de capital. Independentemente da queda nas ações, a Oi se tornará uma marca mais forte, afinada com os planos de internacionalização do governo brasileiro. Para a Brasil Telecom é importante, num momento em que a economia portuguesa está passando por problemas, ter um investimento diversificado em outro mercado, o Brasil. E a Telefônica poderá avançar na convergência das operações de telefonia celular e fixa, diz o sócio da Brand Analytics, Eduardo Tomiya.

Ainda não há consenso entre os analistas sobre os efeito para o consumidor das operações. Este setor precisa de muitos investimentos e a competição entre grandes grupos pode ser positiva para o consumidor, acredita o sócio da Tendências Consultoria Adriano Pitoli. Para o ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros, é importante que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) exerça o papel de garantir que a operação resulte em ganho para o consumidor. Vejo com bons olhos as operações. Mas, ao dar anuência aos negócios, a Anatel deveria aplicar condicionantes para proteger o consumidor, afirma.

1 - Mercado As ações ordinárias (com direito a voto) da Telemar (holding) tombaram 15,99%, a R$ 35,20. As preferenciais caíram 11,21%, a R$ 27,17, Já as da Telemar Norte Leste (operadora) PNA recuaram 8,55%, a R$ 48,01. As ON da operadora caíram 7,37%, a R$ 62,99. A ação preferencial da Vivo teve alta de 3,95%, para R$ 48,15. As ações ordinárias (ON), com direito a tag along para os minoritários, dispararam 10,77%, para R$ 108. A Vivo teve lucro líquido de R$ 236 milhões no segundo trimestre, que corresponde a uma alta de 29,9 % em relação ao mesmo período de 2009.

entrevista - otávio azevedo Internet será a prioridade

A participação no Plano Nacional de Banda Larga (PNBL) é uma das prioridades da nova Oi, agora mais fortalecida com a injeção de recursos da Portugal Telecom, que será dona de 22,38% do grupo. Em entrevista ao Correio, Otávio Azevedo, presidente da holding Andrade Gutierrez um dos controladores da operadora brasileira revelou que o objetivo é investir pesadamente no programa de internet rápida do governo, que recentemente ressuscitou a Telebrás para a função. Ele conta também que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi um entusiasta do negócio. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Como será o processo de participação da Portugal Telecom na Oi? Será uma aliança estratégica com simetria. Eles vão ter 10% de participação direta na Telemar Participações, além de controle indireto na Telemar Participações. Depois haverá aumentos de capital. Vão colocar R$ 2 bilhões na TNL (Tele Norte Leste) e R$ 1,7 bilhão na TMAR (Telemar Norte Leste). Com isso, vão estar com 10% na Telemar Participações e 22,38% na estrutura de capital do grupo todo. Vão ser o maior sócio do ponto de vista de valor econômico. A Oi vai ter na Portugal Telecom 10%. Torna-se o maior acionista da PT, com direito a participar das decisões.

Em que países vocês pretendem atuar conjuntamente? Do ponto de vista internacional, vamos ampliar o foco desse vínculo para investimentos conjuntos na África e na América Latina. Essas empresas vão estar muito líquidas. No caso da Oi, nossa prioridade será comprar 10% na Portugal Telecom, renegociar dívidas mais caras e passar a investir mais pesadamente no programa de banda larga no Brasil.

Como a Oi planeja investir no plano de internet do governo? O plano é uma oportunidade. É um negócio que o povo quer. Não tem oferta hoje. A gente precisa fazer o plano e cumprir o programa de investimentos com a Portugal Telecom.

O presidente Lula manifestou-se em relação à operação? Todo o conhecimento que tivemos direto do presidente é que ele é um entusiasta da união das empresas de língua portuguesa. Porque essas empresas, a longo prazo, serão instrumento importante de preservação da própria língua portuguesa. Hoje, temos aqui espanhol, italiano. A produção de conteúdo básica deles é toda em espanhol, italiano e inglês.

A operação aumenta a competitividade da Oi no mercado interno? A companhia, além de ficar menos alavancada (endividada), vai passar a ter presença bem mais forte na banda larga, na telefonia celular. E com isso vamos ter condições de competir de maneira muito mais agressiva do ponto de vista mercadológico. Mas não somos uma fábrica de loucura. Temos a noção muito clara da criação de valor que é necessária para acionistas da companhia.

Planalto impõe limites à venda

Presidente diz que a participação de portugueses no capital da Oi não irá muito além dos atuais 22,4%. Ordem vale pelo menos até dezembro

Apesar de trabalhar arduamente nos bastidores para convencer o governo português a permitir a entrada da Portugal Telecom no capital da Oi, o presidente Lula negou que a operação contrarie os projetos do governo de ter uma companhia de telefonia com controle totalmente brasileiro. Posso garantir que, enquanto for presidente (do Brasil), a Oi será uma empresa nacional, disse. Em dezembro de 2008, sob o argumento de que o país precisava de uma supertele, com capital verde-amarelo, para competir com as estrangeiras que atuam no setor, o governo mudou a legislação e permitiu a compra da Brasil Telecom pela Telemar, o que deu origem à Oi.

Segundo Lula, setores do governo, como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), um dos principais acionistas e credores da Oi, acompanham de perto o fechamento da compra de 22,4% das ações da empresa pelos portugueses. Indagado se pode fazer algum tipo de ressalva ao negócio, fixando limites para a união da Oi com PT Telecom, o presidente limitou-se a dizer que, por ser uma operação privada, é preciso respeitar a soberania das empresas, sobretudo porque elas têm papéis listados em bolsa de valores. Queremos que seja um bom negócio para o Brasil, afirmou.

Reestruturação Para o ministro das Comunicações, José Artur Filardi, a parceria entre a Oi e a Portugal Telecom permitirá o aumento dos investimentos em banda larga no país, que hoje é uma das prioridades do governo. O investimento é para melhorar a qualidade do serviço. E, como é a meta do governo, a expansão da banda larga beneficia o consumidor, disse o ministro. A ideia é que, juntos, a Oi e os portugueses passem a operar o Plano Nacional de Banda Larga, concebido quando a candidata petista à Presidência da República, Dilma Rousseff, comandava a Casa Civil. Assim como Lula, o ministro assegurou que a entrada da Portugal Telecom na Oi não muda a estrutura de controle da companhia, que continuará nacional, como é interesse do governo.

Orientado pelo Palácio do Planalto a dar total suporte ao casamento entre a Oi e a PT Telecom, o BNDES informou que considera bastante positiva a operação A iniciativa garante que os pressupostos da reestruturação societária apoiada pelo banco em 2008 serão integralmente mantidos. Ou seja, a empresa continuará a ser uma companhia de telecomunicações com controle brasileiro, capaz de competir com eficiência no país e ocupar espaços também no mercado internacional, destacou em nota.

Posso garantir que, enquanto for presidente (do Brasil), a Oi será uma empresa nacional Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República