Título: Avulsos resistem e mantêm candidatura
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 14/01/2011, Política, p. A8

A despeito das pressões dos ministros e dos presidentes dos seus partidos, os três pré-candidatos a presidente da Câmara mantiveram a decisão de levar adiante suas pré-candidaturas e se reúnem na próxima semana para definir a estratégia para os últimos 15 dias antes da eleição, marcada para o dia 1º de fevereiro. Sandro Mabel (PR-GO), Julio Delgado (PSB-MG) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) deverão se encontrar para consolidar a tese de que, em uma eventual disputa contra o candidato do PT e do Palácio do Planalto, Marco Maia (SP), serão mais fortes levando adiante suas pré-candidaturas e concorrendo na eleição, tentando levá-la ao segundo turno.

O calculo é de que, para garantir uma segunda votação, cada um precisaria convencer mais alguns deputados. Estima-se que os três tenham, isoladamente, cerca de 75 apoiadores, e, somados, perto de 240 deputados. Como são 513 parlamentares na Casa, precisariam somar 258 votos para levar a eleição ao segundo turno.

A estratégia de dividir as candidaturas deve-se aos diferentes perfis dos três e a avaliação de que, sozinhos, dificilmente conseguiriam alcançar os 258 votos. Mabel atrai deputados considerados à direita no espectro político, ligados ao setor produtivo e que temem que a longa trajetória sindical de Maia possa limitar o avanço de matérias de interesses dos empresários na Câmara. Aldo puxa para si tanto deputados progressistas quanto boa parte de ruralistas, devido ao seu papel como relator do Código Florestal. Delgado, assim como seu partido, tem bom transito na oposição e nos partidos considerados de esquerda, como o PDT.

Além disso, todos têm conseguido aglutinar insatisfações deixadas pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e mantidas na gestão da presidente Dilma Rousseff, como o contingenciamento de emendas parlamentares, o veto de Lula à mudança na divisão dos royalties do pré-sal, o acordo assinado entre PT e PMDB para comandarem a Casa nas duas próximas legislaturas e espaços não concedidos no primeiro e segundo escalões do atual governo.

A pressão para que desistam, porém, é forte. O Palácio do Planalto, por exemplo, deslocou o vice-presidente Michel Temer para uma conversa com Mabel na próxima semana. Anteontem, Temer conversou com o deputado Silvio Costa (PTB-PE). O partido de Costa ameaçara lançar o parlamentar em protesto contra a possível perda de espaço na composição da Mesa. "Ele me falou que seria importante para a governabilidade, neste primeiro ano, a base estar unida", disse Costa.

O presidente do PR e ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, disse algo semelhante a Mabel e defendeu que a bancada apoie Marco Maia. Pelo PSB, quem tomou a frente na tentativa de demover Delgado foi o governador do Ceará, Cid Gomes, que em troca lhe prometeu apoio na disputa pela liderança da bancada.

No entanto, o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, adotou postura diferente e declarou serem legítimas as candidaturas alternativas. "Achamos que o processo de escolha do presidente da Câmara deve ser democrático, ouvindo todas as forças e envolvendo todos os partidos, indo muito além do rodízio fechado entre alguns partidos", defendeu em seu blog.

O efeito dessas pressões, por ora, é parcial. Os partidos têm se manifestado oficialmente a favor de Maia, como já fez o PSDB e o DEM em dezembro, o PP anteontem e como o PR deve fazer na próxima semana. Isso, contudo, não significa que todos os deputados da bancada estejam fechados com Maia, ainda mais em uma votação secreta, onde os dissidentes poderão manifestar sua posição sem receio de intimidação por parte das cúpulas partidárias e do governo.