Título: Petrobras vira Cinderela
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 18/01/2011, Eu & Investimentos, p. D1

Gata borralheira da bolsa no ano passado por conta das dúvidas com o processo de capitalização, a Petrobras virou Cinderela neste ano e é destaque entre as sugestões dos analistas para a Carteira Valor Longo Prazo. Depois de uma queda de 22,96% em 2010, as preferenciais (PN, sem direito a voto) da estatal do petróleo aparecem na liderança entre as recomendações das corretoras. Das oito instituições que compõem o portfólio, sete citaram os papéis. A ideia por trás da indicação é buscar um ativo que estaria bastante descontado e, portanto, teria um potencial de valorização grande.

Criada em janeiro de 2008, a Carteira Valor Longo Prazo tem por objetivo oferecer ao investidor opções que, em tese, valem a pena manter a despeito das oscilações do mercado ao longo do ano. E a paciência em conservar os papéis, mesmo com os altos e baixos do mercado, vem premiando os investidores. Entre 20 de janeiro de 2010 (data em que o portfólio foi publicado pela última vez) e ontem, a Carteira Valor Longo Prazo apresentava rentabilidade de 9,51%, ante 3,53% do Índice Bovespa no mesmo período.

Ao lado da Petrobras, ainda na área de commodities, aparecem as preferenciais classe A da Vale, que foram recomendadas por quatro das oito corretoras. Empatadas com três indicações ficaram as PNs de Itaú Unibanco e as PNs da siderúrgica Gerdau. Já as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da construtora Eztec foram citadas por duas corretoras. Completam o portfólio recomendado para 2011 OGX Petróleo ON, Bradesco PN, Hypermarcas ON, Lojas Americanas PN e CCR Rodovias ON - todas com uma indicação cada.

No portfólio da Gradual Investimentos, as ações preferenciais da Petrobras têm lugar de destaque. A corretora estima preço-alvo para os papéis de R$ 37,50 em 12 meses, o que embute um potencial de valorização de 36,6% ante o fechamento de ontem. "Entre as grandes petrolíferas, a Petrobras é a que possui maior potencial de crescimento de operações nos próximos anos", ressalta Paulo Roberto Esteves, chefe da área de análise de investimentos da Gradual. "Dada a relevância estratégica do pré-sal e a magnitude dos investimentos envolvidos, a companhia será a grande catalisadora das atenções do mercado e deverá ter atenção especial da presidente Dilma", avalia.

O cenário atual aponta que os problemas climáticos que estão ocorrendo no exterior devem fazer com que o preço do petróleo se mantenha em alta nos primeiros meses de 2011, o que será benéfico para a empresa, diz Pedro Galdi, analista de investimentos da SLW Corretora. A forte queda do papel no ano passado confere à estatal maior atratividade quando comparada às suas concorrentes no exterior, afirma.

A recuperação esperada pelo papel também foi o motivo de a Geração Futuro também colocar as PNs da Petrobras em seu portfólio recomendado, diz seu diretor, Wagner Salaverry. Na área de commodities, a instituição colocou também as PNAs da Vale entre suas sugestões. "A demanda por minério de ferro continua alta e os preços devem se manter elevados, trazendo resultados maiores para a empresa", diz o executivo. Segundo ele, pelo critério Preço/Lucro (P/L, que dá uma ideia do prazo para o investidor obter retorno com o papel), as ações da Vale estariam sendo negociadas a 7,8 vezes. Já suas concorrentes estariam com P/L médio de 8,6 vezes. "É um desconto que não tem razão de ser", diz Salaverry.

Os desempenhos econômico e financeiro sólidos, crescimento da produção, entrega de novos projetos e cenário de demanda alta resultam em perspectivas positivas para a Vale no próximo ano, afirma Esteves, da Gradual. Pelas estimativas da corretora, o preço-alvo para as PNAs da Vale em 12 meses é de R$ 60,50, o que embute potencial de valorização de 14,4% ante o fechamento dos papéis ontem.

O segmento de bancos se destaca na Carteira Valor Longo Prazo, com Itaú Unibanco e Bradesco. O Itaú sofreu por conta da queda de lucro do segundo para o terceiro trimestre do ano passado dadas as despesas com migração das agências na integração com o Unibanco, lembra Salaverry, da Geração. As PNs do banco subiram 5,47% em 2011, enquanto as do Bradesco, 12,13%. Muitos analistas acreditam que os papéis do setor deveriam ter acompanhado a forte valorização registrada pelas ações de empresas voltadas ao mercado interno.

Patinho feito no ano passado, com queda de 20,94%, as preferenciais da siderúrgica Gerdau também se mostram uma aposta das corretoras na recuperação dos papéis em 2011. Isso porque a empresa captura no mercado interno o incentivo dado ao setor de construção civil e reformas, além dos projetos em desenvolvimento para infraestrutura para a Copa e a Olimpíada.

Apesar da piora do cenário de siderurgia no Brasil, o forte fluxo de investimentos que ocorrerá nos próximos cinco anos, incluído PAC, Minha Casa Minha Vida, Olimpíadas e Copa do Mundo, tendem a fortalecer o desempenho da Gerdau e de suas ações, diz Galdi, da SLW. "Outro ponto que vai favorecer a empresa virá da melhora da economia dos Estados Unidos", avalia.

Com preço-alvo de R$ 18,00 em 12 meses, a Gradual colocou em seu portfólio recomendado as ONs da Eztec. Pelo preço de fechamento de ontem, o potencial de valorização é de 22,1%. A Eztec é uma construtora com histórico de alta rentabilidade, ressalta Esteves, da Gradual. As margens líquidas da empresa ficaram na faixa de 40% nos últimos cinco anos, por conta de uma estrutura verticalizada que embolsa ganhos da fase de construção até a venda, diz o analista.

A Geração Futuro optou por colocar entre suas recomendações dois papéis ligados ao setor de concessões: Cemig e Comgás, boas pagadoras de dividendos. "A intenção foi dar um caráter um pouco mais defensivo para a carteira", diz Salaverry. As duas ações têm um retorno com dividendos (o chamado "dividend yield") entre 9% e 10%, o que se mostra bastante interessante, avalia o executivo. No caso da Cemig, as ONs registram um desconto em relação às PNs, diferença que deve diminuir, diz.