Título: Encontro Dilma-Obama vai discutir comércio e energia
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2011, Brasil, p. A4

Energia, comércio e projetos conjuntos em terceiros países estão entre os principais temas que a presidente Dilma Rousseff pretende levar ao encontro com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. A presidente e seus principais assessores estão preocupados com o crescente déficit comercial com o país que já foi o principal parceiro do Brasil, e quer discutir formas de mudar a situação. O déficit no comércio com os EUA subiu 75% no ano passado - de cerca de US$ 4,5 bilhões para quase US$ 8 bilhões. Apesar do aumento de 24% nas exportações ao mercado americano, as importações aumentaram em mais de um terço.

Com 24 mecanismos de diálogo, em áreas tão diferentes quanto biocombustíveis e direitos das mulheres, EUA e Brasil mantêm reuniões técnicas a um ritmo médio de duas por mês, mas os dois governos tentam dar uma coordenação a esses encontros, divididos pelas diversas agências de governo americanas e ministérios brasileiros, algumas vezes influenciados pela competição entre as burocracias dentro dos próprios países. Há expectativa no governo brasileiro de medidas para trazer mais resultados dessa cooperação.

Sem perspectiva de terminar tão cedo uma das negociações de maior interesse para o setor privado - contra a bitributação das empresas que atuam nos dois países -, Brasil e EUA tentam concluir antes de março a discussão do acordo de troca de informações em matéria tributária, que poderá facilitar a colaboração entre a Receita Federal brasileira e o IRS americano. O governo também espera ratificar no Senado, a tempo da visita de Dilma, o Acordo de Cooperação em Matéria Econômica, assinado ainda na década de 90, que permitirá um papel mais eficaz do USTR (United States Trade Representative, ou Escritório do Representante do Comércio dos Estados Unidos) em temas como as barreiras sanitárias e fitossanitárias a produtos brasileiros.

A agenda de Dilma incluirá discussões para aumentar a atuação conjunta em matéria de energia, um dos temas preferidos da presidente. Os americanos têm interesse em maior participação na exploração do petróleo da camada pré-sal no Brasil, e ações conjuntas em energia renovável e novas tecnologias no setor. O assunto é tratado por um grupo de trabalho, que não teve resultados significativos até hoje mas deve ganhar impulso, por interesse do Planalto.

A agenda de Dilma inclui um forte componente político, mas os dois governos manejam para evitar que a ênfase das discussões e declarações públicas caia em temas onde é clara a divergência entre os dois países, como Irã e a paz no Oriente Médio. Na agenda que começa a ser esboçada, terão grande espaço a crise financeira internacional, a emergência da China e o papel do G-20, o grupo dos mais influentes do planeta.

Há um grande esforço das diplomacias brasileira e americana para enfatizar a agenda positiva entre os dois países, o que deve garantir destaque para os mecanismos de cooperação criados nos últimos anos, como o que trata de experiências contra a desigualdade racial e pela promoção da igualdade de gêneros. Diplomatas dos EUA e Brasil já vem discutindo propostas de atuação conjunta em terceiros países, tomando como referências as experiências brasileiras de programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.