Título: Brasil deve perder o 3º cargo mais importante no FMI
Autor: Lima, Aline; Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2011, Finanças, p. C8

De Washington

O Brasil deve perder o terceiro cargo mais importante na hierarquia do Fundo Monetário Internacional (FMI) com a saída em março do atual subdiretor-geral do organismo, Murilo Portugal. O substituto será uma escolha pessoal do diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. O mais cotado é o atual consultor especial Min Zhu, da China, cuja confirmação deverá marcar a ascensão da nova potência econômica aos escalões mais altos do organismo

Não será surpresa, porém, se um brasileiro assumir no próximos anos o comando máximo do FMI. Depois da crise financeira mundial e do crescimento de países emergentes, como a China e o Brasil, a tradicional divisão entre americanos e europeu nos postos-chave dos organismos multilaterias com sede em Washington começou a ser colocada em xeque.

A reforma nas cotas e poder de voto dentro do FMI, com maior peso para economias emergentes, e outras reformas na estrutura do organismo aumentam as chances de Strauss-Kahn ser substituído por um não europeu. Entre os nomes sempre lembrados nos círculos de Washington está o ex-presidente do BC Armínio Fraga, que tem bom trânsito na Europa e EUA.

Na atual partilha de poder, o cargo de diretor-gerente do FMI sempre ficou com um europeu. Os Estados Unidos indicam o segundo nome mais importante no organismo, hoje o primeiro subdiretor-geral, John Lipsky, e tradicionalmente ficam com o comando do Banco Mundial. O Japão costuma indicar um dos subdiretores-gerais no FMI.

Portugal subiu por mérito próprio, sem interferência do governo brasileiro, ao cargo mais importante que, até então, podia ser ocupado por alguém vindo de um país emergente. Ele foi uma escolha pessoal feita em 2006 pelo então diretor-gerente do FMI, o espanhol Rodrigo de Rato. Substituiu o mexicano Agustin Carstens, e seguiu no cargo na gestão Strauss-Kahn.

Murilo acompanha, até março, as relações do FMI com 80 países, incluindo 18 economias da Europa, 21 da América Latina e Caribe, 21 na África e 20 na Ásia e Oceania. Suas tarefas incluem aprovar o relatório técnico do chamado artigo IV, em que os funcionários do FMI fazem a revisão da economia de cada uma dos países membros e propõem reformas e ajustes.

Murilo foi representante do Brasil no FMI entre 1998 e 2005, época em que se aproximou de Rato. Esse cargo, hoje ocupado pelo economista Paulo Nogueira Batista Jr., é uma escolha do governo do Brasil, que tem o maior poder de voto entre os nove países representados pela cadeira. (AR)