Título: Estrangeiro conta com um Copom linha dura
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2011, Investimentos, p. D2

O mercado inteiro esteve ontem de olho na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do governo Dilma Rousseff. Um grupo específico de investidores tinha um interesse especial pelo resultado da reunião: os estrangeiros. Segundo analistas, a continuidade do fluxo de entrada desses investidores no pregão da bolsa depende de uma sinalização do governo de qual será o seu nível de agressividade para conter a alta da inflação.

O processo inflacionário nos emergentes, como Brasil e China, vem incomodando esses investidores pois ameaça o crescimento das economias e das empresas. Portanto, eles esperam uma política monetária agressiva desses países. Mas, no Brasil, a expectativa é que o novo Banco Central siga uma estratégia de aumentar a taxa de juros em doses homeopáticas.

Alguns economistas defendem um aumento de até um ponto percentual nas próximas reuniões do Copom. Só assim o governo sinalizaria logo de cara que deve segurar a inflação com rédea curta. Esses profissionais acreditam que poucos, mas fortes aumentos de juros dão mais resultado do que vários aumentos menores.

"Desde o segundo semestre do ano passado, o investidor estrangeiro tirou o pé das aplicações no Brasil especialmente por causa da inflação e da falta de uma atuação mais forte do governo para contê-la", diz o experiente chefe da mesa de operações de um banco estrangeiro.

Fluxo positivo depende de política monetária agressiva

Ele lembra que, adicionalmente ao repique da inflação, a oferta de capitalização da Petrobras e o início da recuperação americana levaram os estrangeiros a aplicar em outras terras, principalmente nos Estados Unidos. "Não foi à toa que, entre os emergentes, o Brasil foi o que menos captou em fundos internacionais em 2010", ressalta.

Os primeiros números deste ano mostram ânimo do estrangeiro com o mercado brasileiro. Neste mês, até o dia 17, o saldo líquido (diferença entre compras e vendas) de estrangeiro está positivo em R$ 2,043 bilhões, um volume expressivo para tão pouco tempo.

Mas o executivo do banco estrangeiro acredita que este é um movimento pontual e que a tendência para o ano é de um fluxo positivo, mas de entradas bem mais modestas.

"Só uma política monetária mais agressiva deve mudar esse cenário", diz ele. Um sinal de alerta nesse fluxo são as saídas nos últimos dias. No dia 13, o saldo foi negativo em R$ 247,5 milhões, no dia 14 saíram outros R$ 233,7 milhões. Já no dia 17, houve uma pequena entrada, de R$ 10,3 milhões.