Título: Rio terá sistema para alertar moradores em caso de risco de deslizamento
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Fonte: Valor Econômico, 19/01/2011, Brasil, p. A4

Desde as chuvas torrenciais de 5 abril de 2010, que pararam o Rio e causaram mortes e deslizamentos nas encostas de morros cariocas, a prefeitura iniciou o mapeamento e a transferência de moradores de áreas de risco. Na sexta-feira, dará partida a novo sistema de alerta à população de comunidades de baixa renda. Um sistema de levantamento geotécnico, com aerolevantamento a laser, identificou não serem poucos os que convivem com o perigo. Há 18 mil imóveis em áreas de alto risco em 117 favelas.

O prefeito Eduardo Paes diz que, desde abril, 5,5 mil famílias de 80 comunidades foram reassentadas. Como esse processo demanda tempo, está sendo adotado um sistema de alerta, que começará a ser implementado sexta na favela do Turano.

No total, foram treinados pela Defesa Civil 2.175 agentes e 300 lideres comunitários, que vão atuar em todas as favelas vulneráveis. Cada agente tem um relatório de risco na sua área e um telefone celular. Vão receber mensagens da central de operações da prefeitura informando sobre a chegada de chuvas intensas. Os avisos à população serão via alto-falantes.

O prefeito reconhece que os moradores não gostam de abandonar suas casas mesmo diante do risco, preocupados em não poder voltar, mas está sendo realizado um trabalho de conscientização do perigo nas comunidades.

Paes disse que se surpreendeu com a intensidade das chuvas de abril do ano passado, e por isso, optou, no mês seguinte, por instalar um radar meteorológico próprio, com alcance de 250 km e capacidade de captar mais rapidamente a chegada de temporais, permitindo repassar a informação à população com quatro a duas horas de antecedência.

A peça fundamental em todo o sistema de monitoramento de dados é o novo Centro de Operações da prefeitura, que ficou pronto em 31 de dezembro. Construído em quatro meses, o investimento realizado foi de R$ 11 milhões.

A parceira da prefeitura na tecnologia da informação no Centro é a IBM Brasil. A empresa é responsável pelo software que processa e apresenta, em telão doado pela Samsung, imagens de câmeras e dados geológicos de toda cidade. Integra informações de 30 órgãos municipais. Acompanha o movimento do trânsito, metrô, trens, o abastecimento de luz e de água. São destinadas ao centro informações de sete estações hidrológicas, que monitoram o nível de água em rios, canais e lagoas.

A IBM está desenvolvendo ainda um sistema de alerta à população que permitirá a previsão de temporais com 48 horas de antecedência. O Rio será a primeira cidade do mundo a usar o software batizado de PMar, informa Pedro Almeida, diretor da IBM Brasil.

Almeida diz que parte do software está sendo desenvolvida no Brasil, nos laboratórios de pesquisas instalados em junho, em São Paulo e no Rio. Um protótipo foi apresentado em evento da IBM em Barcelona, no ano passado.

No Centro de Operações da prefeitura, que controla o dia a dia da cidade, e será importante em eventos como os Jogos Olímpicos de 2016, a infraestrutura de telecomunicações é da Oi e da TIM. São mais de 300 mil metros de cabos de fibras óticas, que captam imagens de 200 câmeras espalhadas pela cidade. A prefeitura determinou que os ônibus terão sistema de GPS e câmera até o final do ano.

Foi montada uma sala de gerenciamento de risco, para ser usado também em grandes eventos, como a festa do Réveillon ou shows que atraiam multidões. Opera com sistema de telepresença, doado pela Cisco, que conecta inclusive a casa da Gávea Pequena, residência dos prefeitos cariocas.

Paes diz que a prefeitura investiu R$ 300 milhões em obras emergenciais para reconstrução da cidade depois das chuvas de abril passado. Foram 300 obras de contenção de encostas em 47 bairros, 26 rios desassoreados, 610 mil metros de galerias pluviais e caixas de contenção limpas ou construídas. O plano diretor de drenagem será concluído no segundo semestre.

Ele reconhece que o Rio continuará tendo alagamentos, mas, com mecanismos de identificação dos riscos, muitos danos podem ser evitados e a população pode ser alertada para se proteger durante temporais.