Título: Marina defende refundação do PV
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 19/01/2011, Política, p. A9

A senadora Marina Silva (AC) defendeu ontem a reestruturação do PV e a revisão programática do partido ao qual está filiada há um ano e cinco meses. O PV deve retomar no fim deste mês as discussões sobre a refundação partidária e começar a destituir dissidentes nos diretórios estaduais. No meio do ano, a legenda escolherá seu novo presidente.

Marina tenta consolidar-se como terceira via na política nacional, polarizada entre PT e PSDB. "Espero que a gente possa constituir a terceira via e quero trabalhar por isso. Não necessariamente para eu ser a candidata", disse ontem.

Terceira colocada na disputa presidencial, com 19,6 milhões de votos, Marina é o nome de maior projeção política de seu partido. Para a senadora, "é fundamental o processo de reestruturação" do PV, sobretudo após o período eleitoral. "O PV já estava fazendo isso em relação à sua revisão programática e à reestruturação. É fundamental que esse processo continue", disse.

Marina acenou com a possibilidade de ajudar na depuração do partido quando migrou do PT para o PV, em agosto de 2009. É pouco provável, no entanto, que a senadora assuma o comando da legenda. No meio do ano o PV escolherá seu novo presidente. "O papel de Marina é maior do que simplesmente presidir um partido", comentou o vice-presidente da legenda, Alfredo Sirkis (RJ), eleito deputado federal. "Na tradição do PV, o presidente não é o principal líder", explicou.

Apesar de participar da refundação do partido, Marina deve concentrar suas atividades fora do PV. Às vésperas de terminar seu mandato, a senadora prepara criar o Instituto Marina Silva, em Brasília, para fomentar debates e promover cursos e palestras, prováveis fontes de renda da ex-ministra. Marina deve levar para o instituto seus principais assessores do Senado, que compõem um grupo que a acompanha desde suas ações políticas no Acre. No local a ex-ministra deve expor os prêmios que recebeu e estudos sobre sustentabilidade e ambiente.

Marina e seus assessores ainda estão discutindo como será o instituto, mas uma das exigências feitas pela senadora é que não seja financiado por governos - nem por estatais. Fora do circuito Rio Branco - Brasília, Marina deve manter ações no Instituto Democracia e Sustentabilidade, em São Paulo, do qual é sócia-fundadora e presidente.

No PV, o primeiro desafio pós-eleições será "depurar" os diretórios estaduais e isolar seus dissidentes. Os problemas estão concentrados na região Norte e na Centro-Oeste. "Não será uma sangria desatada, mas o partido tem que passar por uma reformulação", comentou Sirkis, dirigente nacional do partido. O segundo será definir sua posição frente ao governo federal. "Vamos ficar independentes. Não queremos fazer uma oposição sistemática", disse Sirkis. Na Câmara, o partido terá uma bancada de 14 parlamentares, a maioria próxima ao governo.

O principal desafio para o PV, no entanto, será aproveitar o espólio político de Marina e seus quase 20 milhões de votos. "Ela transcende muito o PV. Grande parte dos votos foram para ela, não para o partido", analisou Sirkis.

Marina deve intensificar sua participação em eventos. Ontem, a senadora teve um dia de candidata, em São Paulo e participou da Campus Party, evento de inovação tecnológica. Sempre cercada por jovens na faixa dos 20 anos, tirou fotos, distribuiu beijos, abraços e autografou até a bandeira do Brasil. A uma plateia de cerca de 200 pessoas, falou sobre a relação de sua campanha com a internet e apresentou um balanço sobre seus "seguidores" nas redes sociais: 246 mil no Twitter, 56 mil no Facebook. As citações sobre sua apresentação ganharam repercussão na rede e ela ficou em quinto lugar do ranking dos temas mais citados no mundo. Durante a palestra, recusou-se a beber a água de um copinho plástico, como forma de protesto ao uso de descartáveis. Pouco depois, no entanto, ela rendeu-se a velhas tradições, ao dizer que tinha registrado em cartório que não falaria mal de ninguém na campanha eleitoral.