Título: Disputa interna faz PSB ceder cargos no governo
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2011, Política, p. A7

A disputa política interna entre os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e do Ceará, Cid Gomes, enfraquece o PSB e faz a legenda perder espaços no governo federal. Cid Gomes sugeriu ao chefe da Casa Civil, ministro Antonio Palocci, na tarde de quarta-feira, que a diretoria-geral do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs) e a presidência do Banco do Nordeste (BNB) permaneçam, respectivamente, com PMDB e PT, mas de preferência, com indicados por políticos cearenses. O primeiro órgão, essencial para o Nordeste, está em uma Pasta ocupada pelo PSB, o Ministério da Integração Nacional. Já o Banco do Nordeste é o financiador das grandes obras da região.

O movimento de Cid busca limitar a força política de Campos no partido e na região. O governador cearense valeu-se de um recado dado pela presidente Dilma Rousseff, ao confirmar Bezerra Coelho como ministro da Integração Nacional, de que "tinha um compromisso firmado com o PMDB de não promover alterações no Dnocs". No caso do BNB, o Valor apurou que Campos quis indicar um nome para a presidência, mas Cid defende o PT local, legenda que foi essencial para sua reeleição.

Um interlocutor de Cid disse que o governador do Ceará quer impedir outras lideranças do partido de influenciar nas indicações para órgãos federais que têm sede no Ceará - caso do Dnocs e do BNB. "É um recado dele, no estilo: em meu terreiro mando eu", disse um parlamentar cearense. "Além disso, ele tentar compensar duas legendas que foram vitais para sua reeleição", completou o aliado.

Palocci não deu a Cid, contudo, nenhuma garantia de que as sugestões serão acatadas. No caso do Dnocs, existe uma disputa interna do PMDB pela presidência da autarquia. Além dos cearenses, o PMDB do Rio Grande do Norte também pleiteia a vaga. Após reunião da cúpula do PSB, na noite de quarta-feira, Cid tentou encontrar-se com o vice-presidente Michel Temer para pedir consenso na legenda. Como estava tarde, o encontro não aconteceu e uma nova conversa ainda não foi marcada.

No PMDB e no governo, contudo, existem dúvidas sobre quem vai herdar o Dnocs. Políticos que transitam com desenvoltura na base aliada afirmaram que Dilma tem resistências ao líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), padrinho do atual diretor do departamento, Elias Fernandes Neto. As divergências começaram durante a votação do projeto de partilha dos royalties do pré-sal, quando Alves costurou o voto contrário do PMDB à emenda Ibsen - que propunha uma repartição equânime dos royalties por todos os Estados - mas no plenário encaminhou voto favorável à iniciativa, "pensando na reeleição para deputado federal", segundo criticou um adversário.

O distanciamento teria se intensificado no início do mandato de Dilma, após o líder ter se tornado o principal porta-voz da insatisfação do PMDB, na disputa pelos cargos do segundo escalão. Mas pessoas próximas ao deputado confiam na habilidade política de Palocci, que sabe não ser bom para o governo ter uma liderança como Alves privada de espaços importantes na máquina pública federal.

No caso do Banco do Nordeste, está praticamente acertado que haverá mudança na cúpula do banco. Além do desejo do governo de ceder uma diretoria ao PMDB - que se somaria aos quatro diretores do PT e um do PSB - Dilma já adiantou que pretende indicar um quadro técnico para a presidência. O atual presidente, Roberto Smith, apesar de ser economista e professor universitário é afilhado do deputado José Guimarães (PT-CE).

As justificativas são difusas. Adversários de Guimarães afirmam que Dilma teme o poder político do petista cearense e uma possível vinculação ao escândalo do mensalão, em que um assessor de Guimarães - secretário estadual do PT, na época - foi flagrado com dólares na cueca. Integrantes do governo,, no entanto, dizem que as razões da presidente para a mudança são pragmáticas: uma oxigenação na direção do banco após oito anos de presidência de Smith.

Cid e Eduardo Campos também disputam o comando da bancada da Câmara. O ex-líder e senador eleito, Rodrigo Rollemberg (DF), fez uma eleição informal e a maioria dos parlamentares defendeu como futura líder a deputada Ana Arraes (PE), mãe de Eduardo Campos. Mas Cid acha que o partido está "nordestino demais" e lançou o nome do deputado recém-eleito, Gabriel Chalita (SP), para liderar a bancada na Câmara.