Título: Captação externa ultrapassa os US$ 10 bilhões
Autor: Mand, lCarolina
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2011, Finanças, p. C1

Petrobras, BR Properties, Banco Safra e Energisa lançaram ontem US$ 6,785 bilhões em eurobônus no mercado internacional. Considerando-se esse valor, o total já emitido antes, de US$ 2,780 bilhões, e duas transações em andamento de US$ 750 milhões, o valor obtido em janeiro por empresas brasileiras no exterior chega a US$ 10,315 bilhões, um aumento de 56% em relação ao mesmo mês de 2010. Segundo Marcelo Marangon, responsável pela área de global banking (o atacado) do HSBC no Brasil, as empresas brasileiras, que vinham no ano passado captando no exterior principalmente para melhorar o perfil de suas dívidas vão agora buscar recursos para investimentos.

"Os investidores externos estão comprando não apenas transações de grandes empresas de primeira linha e grau de investimento, mas também bônus de companhias mais desconhecidas, além de operações de maior risco de crédito", diz Alexei Remizov, responsável pela área de mercado de capitais para Brasil do HSBC Securities, em Nova York. "Isso mostra o interesse pelos mais diferentes aspectos da economia brasileira", diz.

"O mercado está ativo e há muita oferta de papéis de dívida de empresas no mercado", diz André Silva, responsável pela área de mercado de capitais/renda fixa do Deutsche Bank na América Latina. "Dos emergentes, foram lançados US$ 20 bilhões neste ano até o dia 19", afirma. Segundo ele, em algumas situações o excesso de oferta tem obrigado o emissor a pagar um prêmio ligeiramente maior para tentar colocar todos os títulos que deseja no mercado.

A transação da Petrobras mostra como está o apetite pelo Brasil. A empresa, que quase não emitiu eurobônus em 2010, começou o ano lançando US$ 6 bilhões em papéis em transação liderada pelo BTG Pactual, Citigroup, HSBC, Itaú BBA, J.P. Morgan Chase e Banco Santander. A demanda, segundo apurou o Valor, passou de US$ 15 bilhões e veio de mais de mil investidores.

A oferta foi dividida em três: 1) US$ 2,5 bilhões de vencimento em cinco anos com prêmio de 190 pontos básicos sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos; 2) US$ 2,5 bilhões de vencimento em 10 anos com prêmio de 195 pontos básicos e, 3) US$ 1 bilhão em papéis de vencimento em 30 anos com prêmio de 220 pontos. É uma queda considerável nos prêmios de risco da empresa, que no final de 2009 emitiu US$ 2,5 bilhões de papéis de dez anos pagando rendimento de 238,5 pontos básicos e 270,6 pontos básicos para os papéis de vencimento em 30 anos.

A BR Properties viu uma janela e levantou US$ 85 milhões em papéis perpétuos (sem vencimento final) pagando um rendimento de 9% ao ano. Pretende usar os recursos nos seus planos de expansão. É uma reabertura de transação realizada em 2010, de US$ 200 milhões, com o mesmo rendimento ao investidor.

Já o Banco Safra concluiu emissão de US$ 500 milhões em papéis de dívida subordinada, que entram como capital no balanço da instituição financeira. A operação recebeu ordens de compra de aproximadamente US$ 1,7 bilhão, 3,4 vezes superior ao valor máximo fixado para a captação, segundo informou o banco.

O prêmio foi de 335 pontos básicos sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos de mesmo prazo de vencimento de dez anos. Os líderes foram o Safra, o Bank of America Merrill Lynch, o J.P. Morgan Chase e o UBS.

"Os bancos brasileiro estão lançando papéis no exterior como uma forma de conseguir financiamento de mais longo prazo para ampliar o crédito, pois o mercado interno só provê recursos de mais curto prazo", diz Remizov. Do total captado e no mercado até agora durante este ano, US$ 3,55 bilhão são de bancos, incluindo uma captação em euros do Banco do Brasil de ¿ 750 milhões, um título de dívida subordinada de US$ 500 milhões do Bradesco e um eurobônus de US$ 500 milhões do Daycoval que ainda está à venda. Os títulos do Daycoval terão vencimento em 2016 e vão pagar rendimento de 6% a 6,25% ao ano, segundo foi proposto aos investidores. Os líderes são o Goldman Sachs, o HSBC e o Standard Chartered.

Já a distribuidora de energia Energisa lançou US$ 200 milhões em papéis perpétuos de rendimento de 9,5% não resgatáveis por cinco anos que são um híbrido de renda fixa e renda variável. A transação inovadora traz ainda mais riscos ao investidor do que um perpétuo tradicional, pois prevê o não pagamento do cupom (juros nominais) em determinadas situações. Os líderes são o Bank of America Merrill Lynch, o Morgan Stanley e o Santander.

Já o Grupo Virgolino de Oliveira, produtor brasileiro de açúcar e álcool parceiro da Copersucar, deve fechar hoje transação de US$ 250 milhões. Os líderes são o BTG Pactual, o Credit Suisse, o Itaú e o Santander. (Colaborou Cláudia Schüffner, do Rio; com agência internacionais)