Título: Emissão de debêntures e notas promissórias já alcança R$ 3,6 bi
Autor: Mand, lCarolina
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2011, Finanças, p. C1

O ano começa aquecido para as emissões de dívidas pelas empresas via debêntures e notas promissórias. Já são R$ 3,6 bilhões em ofertas anunciadas ou concluídas de papéis de renda fixa neste início de janeiro. Outros R$ 660 milhões já estavam na fila desde o fim do ano passado. O volume supera em muito a venda de títulos lançados nos primeiros dois meses do ano passado, que somou R$ 2,1 bilhão.

"O ano teve um início forte. Pode-se dizer, na verdade, que ele não parou", diz João Carlos Zani, diretor do Bradesco Banco de Investimento, que já está contratado para coordenar a oferta de R$ 2 bilhões para empresas que ainda não tornaram públicos seus planos de captação. Bancos ouvidos pelo Valor calculam que o dinheiro levantado pelas companhias via oferta de debêntures supere em 20% os R$ 67,4 bilhões do ano passado.

Os recursos estão sendo levantados tanto para a realização de investimentos quanto para a rolagem de dívida a custos mais baixos ou prazos mais longos

"As taxas estão em queda. Com recursos para emprestar, os bancos estão em uma concorrência acirrada para pegar as emissões", diz um executivo ligado à estruturação das ofertas. No Brasil, os bancos garantem às empresas que, se não houver demanda dos investidores, eles mesmos compram os papéis. Por isso, a emissão de debêntures passa pela taxa inicial que o banco cobra das companhias. No fim do ano passado, pagava-se em média 114,2% do Depósito Interfinanceiro (DI), sendo que um ano antes cobrava-se 126,6%, de acordo com números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

A incorporadora Even, por exemplo, está fazendo uma oferta de R$ 250 milhões, dinheiro que vai ser usado para pré-pagar R$ 125 milhões em dívida que vencia neste ano e em 2012 por outra que será paga só daqui a cinco e seis anos. O restante do dinheiro vai para a compra de terrenos. A rede de shoppings Iguatemi vai usar a captação de R$ 300 milhões para aquisições.

"O que se observa é que há demanda de empresas dos mais variados setores por recursos principalmente para investimentos, acompanhando o momento que o Brasil vive", diz a advogada Marina Anselmo, sócia do escritório Mattos Filho.

Em meio a esse cenário, as ofertas de notas promissórias - papéis de dívida com vencimento máximo de um ano - voltarão a ser mais usadas pelas empresas neste ano, na avaliação dos bancos. Em 2010, nenhuma empresa fez venda pública de notas promissórias. Já neste ano, devem ser mais utilizadas como uma ferramenta de se conseguir rapidamente um empréstimo para financiar fusões e aquisições. A estruturação de uma nota promissória costuma ser mais rápida do que a de uma debênture.

Um impulso maior para a emissão de debêntures e notas pelas companhias virá com os benefícios fiscais concedidos pelo governo em dezembro aos investidores que comprarem papéis de longo prazo e voltados para projetos de infraestrutura.

Nenhuma das ofertas veio ainda formatada para aproveitar dessas vantagens porque algumas questões ficaram em aberto.

Uma delas é a definição de como será calculado o prazo médio de quatro anos de duração dos papéis exigido pelo governo. "Outra é a maneira como as empresas precisarão comprovar que o dinheiro será usado para a realização de investimentos", diz Marina, do Mattos Filho. Além disso, o pacote chegou ao mercado na forma de uma medida provisória, o que ainda traz uma certa insegurança aos investidores, que preferem vê-lo na forma definitiva de lei.

Porém, mesmo depois da publicação da lei, muito da demanda dos investidores pelas debêntures vai depender da criação de uma forma de saída desses papéis de longo prazo, ou seja, um mercado de revenda, algo que ainda é incipiente no Brasil. "É um processo. Esperamos que em alguns meses possam ser dados os primeiros passos para a geração da liquidez", diz João Roberto Teixeira, diretor da Anbima.