Título: BC aumenta esforços para manter dólar acima de R$ 1,65
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2011, Finanças, p. C2

O governo vem conseguindo segurar a cotação do real frente ao dólar acima do piso de R$ 1,65, com uma postura mais agressiva de intervenção. O leilão de swap cambial reverso na sexta-feira garantiu mais uma alta da moeda americana, que fechou cotada a R$ 1,6723, valorização de 0,05%. No ano, a elevação é de 0,37%. Mas a tarefa, pelo menos no curto prazo, não será fácil.

O mercado travou uma forte batalha com o BC na sexta-feira. A autoridade monetária teve de realizar dois leilões de compra à vista, adquirindo quase R$ 1 bilhão na sexta-feira, segundo estimativas de operadores, o dobro do que vinha comprando diariamente neste início de ano. Também concluiu com sucesso a segunda colocação, novamente de R$ 1 bilhão, de swap cambial reverso, a exemplo do que havia feito no dia 14 deste mês.

Mesmo com todo esse arsenal, a moeda americana operava em baixa na sexta-feira até quase o fechamento do mercado, pouco antes das 17 horas. Surgiram, então, rumores de que o BC voltaria a ofertar swap reverso na segunda-feira, o que se concretizou no fim do dia. Começou a circular também o rumor, este não confirmado, de que o Ministério da Fazenda poderia elevar mais uma vez o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para investidores estrangeiros. Isso alterou a trajetória da moeda, que fechou em alta.

No início do ano, o Banco Central se associou à Fazenda no esforço de conter a apreciação do real. Dois dias depois de a cotação atingir a mínima do ano, a R$ 1,651, no dia 3 de janeiro, o BC instituiu o recolhimento compulsório sobre a posição cambial dos bancos no mercado à vista, como forma de reduzir a especulação contra o real. Na semana seguinte, voltou a realizar leilões de swap cambial reverso depois de quase dois anos - operação equivalente a uma compra de dólar no mercado futuro.

O BC também mudou sua forma de atuação. Ao retomar as intervenções no mercado futuro, via leilão de swap reverso, passou a adquirir menos divisas do que vinha fazendo no mercado à vista. Enquanto no ano passado ele comprou quase o dobro do fluxo, neste início do ano deixou parte dos dólares na mão dos bancos.

Quando decidiu retomar o swap cambial, o BC avaliou que não fazia sentido comprar dólares em momentos de pouca liquidez. Ao agir dessa forma, acaba estimulando a captação dos bancos no exterior para oferecer dólares ao próprio BC. Como as instituições financeiras trabalham de forma casada, a autoridade monetária apenas transferia a liquidez para o mercado futuro, onde ocorre, de fato, a definição dos preços (devido a uma distorção do mercado local).

Com a mudança, o BC retomou a prática de atuar tanto no mercado à vista como no futuro, de forma mais coerente com a atuação dos bancos brasileiros, avaliou o BC à época.

A estratégia vem se mostrando eficiente, avalia o economista do banco ABC Brasil, Luis Otavio de Souza Leal, com o câmbio mais estável e menos volátil. Como explica Leal, a atuação clássica de um banco central, que é a compra acima do fluxo, como o BC fez em 2010, tem efeito colateral no mercado brasileiro ao ampliar o cupom cambial (diferencial de taxas de juros em dólar entre o Brasil e o exterior), o que atrai mais capital internacional e pressiona ainda mais a taxa.

O embate com o mercado, no entanto, será duro para o governo, que precisará de novas medidas se quiser mudar a tendência estrutural de apreciação do real em relação ao dólar, avaliam especialistas no assunto. O Brasil, que já era atrativo por crescer acima do resto do mundo, iniciou na semana passada um novo ciclo de alta da taxa Selic, o que aumenta o diferencial de juros e reforça a entrada de divisas.

As captações de empresas e bancos no exterior também foi turbinada neste início de ano, superando US$ 10 bilhões até agora. Existe ainda a expectativa dos agentes por uma nova elevação do rating do país, ainda no primeiro trimestre. O risco país, medido pelo chamando Credit Defaul Swap (CDS), chancela uma elevação de até dois pontos da nota brasileira.

O quadro só deve mudar a partir do segundo semestre. Com a perspectiva de recuperação da economia americana, começa a aparecer no radar dos economistas a possibilidade de o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, elevar a taxa básica em 2012, hoje entre zero e 0,25%. Somente uma sinalização do Fed nesse sentido já poderia pressionar as taxas dos títulos de longo prazo daquele país (Treasuries) para um patamar acima de 4%, hoje em 3,4%. Como consequência, parte da enorme liquidez que irriga os mercados emergentes e pressiona o câmbio poderia ser revertida.

Para o economista-chefe do Banco ABC Brasil, nesse cenário o trabalho do governo seria facilitado e a cotação do dólar voltaria para um patamar próximo de R$ 1,75 no fim do ano, em linha com a previsão do Boletim Focus, do BC. (Com Bloomberg News)