Título: José Alencar recebe homenagem em São Paulo
Autor: Grabois, Ana Paula; Taquari, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2011, Política, p. A5

Homenageado ontem pela Prefeitura de São Paulo, o ex-vice-presidente José Alencar disse que continua na luta para sobreviver. Há três meses internado no hospital Sírio-Libanês, no centro da capital paulista, Alencar disse ontem que se morrer, será "um privilégio". "Se eu morrer agora, é um privilégio para mim. Não posso me queixar. A situação está tão boa que não tem como melhorar, todo mundo está rezando e torcendo por mim, tenho que continuar a minha parte, lutando para não morrer", disse.

Nos cerca de 30 minutos da cerimônia na qual recebeu a medalha comemorativa 25 de Janeiro pelo aniversário de 457 anos de São Paulo, Alencar permaneceu sentado em uma cadeira de rodas entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O ex-vice-presidente, que luta contra o câncer há mais de uma década, disse que não está totalmente bem, mas que já se recupera e segue em tratamento de quimioterapia. No discurso, lembrou que completava ontem 90 dias de internação hospitalar, período no qual passou por algumas complicações sérias, como um edema pulmonar e um infarto do miocárdio.

Liberado pelos médicos apenas para participar da homenagem, Alencar voltaria ao hospital logo após deixar a Prefeitura de São Paulo, mas seu médico, Roberto Kalil Filho, permitiu que ele dormisse ontem em sua casa, em São Paulo. Segundo Kalil, Alencar apresenta quadro estável e deve voltar ao hospital hoje.

O ex-vice-presidente disse ter chorado de emoção ao saber que Dilma e Lula participariam da cerimônia e agradeceu a Kassab pela homenagem. Lula ficou ao lado de Alencar durante toda a cerimônia e não discursou.

Alencar brincou com o público que acompanhava a solenidade. "Como me ensinou Lula, os discursos devem ser como vestido de mulher. Nem tão curtos que possam escandalizar, nem tão longos que possam entristecer", afirmou o ex-vice.

Dilma entregou a medalha 25 de Janeiro para Alencar. Disse que o ex-vice é um exemplo de dignidade na luta pela vida. Ela classificou como simbólica a homenagem em São Paulo, Estado empreendedor, assim como Alencar, empresário do ramo têxtil.

A presidente lembrou a trajetória de vida do homenageado. "Saiu de baixo e construiu um império econômico, mas não perdeu o compromisso com o país no resgate de milhões de brasileiros da miséria", afirmou.

Dilma disse que Alencar foi fundamental para o governo Lula na tarefa de fazer o Brasil voltar a crescer. "Lá de Minas, lá do fundo do nosso Estado, ele trouxe também aquela sabedoria cotidiana de perceber que o país devia, podia e ia crescer, e foi um parceiro nessa trajetória", afirmou a presidente. Ao lembrar a gestão anterior, ela destacou que Alencar foi o vice-presidente que mais ocupou o cargo de presidente das últimas décadas, em função das viagens de Lula.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, fez o discurso de entrega da medalha. "Trata-se de uma justa homenagem a um grande brasileiro, que honrou nosso país como um homem público, empreendedor e apaixonado pela vida."

Kassab, por sua vez, cometeu uma gafe ao chamar Dilma de vice-presidente. A petista foi rápida na resposta. "Ele [José Alencar] hoje é, de fato, a figura do protocolo mais importante aqui presente", disse a presidente.

Depois da entrega da medalha, Kassab foi alvo de manifestação. Na reinauguração da biblioteca pública Mário de Andrade, estudantes contrários ao aumento da tarifa de ônibus de R$ 2,70 para R$ 3, os manifestantes furaram o bloqueio da segurança e invadiram o local, interrompendo o discurso de um aliado do prefeito, o ex-governador José Serra (PSDB). Na cerimônia, Kassab disse que devia a Serra a iniciativa de reforma da biblioteca. (Com agências noticiosas)