Título: Patriota diz à UE que câmbio limita concessões industriais
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 27/01/2011, Brasil, p. A4

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, disse à União Europeia (UE) que o Brasil está empenhado em concluir logo o acordo de livre comércio Mercosul-UE, mas avisou que as dificuldades no câmbio, pela valorização do real, limitam a capacidade de concessões na área industrial. O alerta antecede a nova rodada de negociação, marcada para 17 e 18 de março, em Bruxelas, quando serão apresentadas ofertas melhoradas de liberalização em agricultura, indústria e serviços, primeiro verbalmente para depois se decidir como continuar.

"Encaramos essa negociação com seriedade, mas sinalizei também a pressão que representa a valorização do real para nosso setor exportador e dificuldades do setor industrial", afirmou, depois de encontros com o presidente da UE, Herman Van Rompuy, e a chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.

A UE é o maior parceiro comercial brasileiro, com um intercâmbio que ultrapassou US$ 74 bilhões em 2010. Os países membros da UE são responsáveis por quase metade do estoque de investimento externo direto no Brasil. A barganha para um acordo birregional será por concessões do Mercosul nas áreas industrial e de serviços, e da UE, na agricultura. Do lado brasileiro, o câmbio mudou a posição do país. Patriota admite que a situação é mais difícil na Rodada Doha, na qual os EUA exigem abertura adicional profunda por parte do Brasil, China e Índia.

Van Rompuy relatou a Patriota a tendência europeia de buscar mais acordos bilaterais. Concluiu a negociação com a Coreia do Sul, está próximo de fechar um acordo com a Índia, tem outro prestes a vigorar com a América Central e está negociando com o Canadá. Com o Mercosul, "concordaram na importância de uma conclusão bem-sucedida das negociações com a UE em 2011", afirmou Catherine.

Qualquer acordo que sair não será ambicioso, mas dará preferências que não deixam de ser significativas para os dois blocos. Fontes europeias acham que a UE tem condições de melhorar a abertura do mercado para produtos agrícolas do Mercosul desde que haja vontade política, ou seja, alguma flexibilidade dos protecionistas como França e Espanha.

A visita de Patriota a Bruxelas coincidiu com mais um ataque no Parlamento Europeu contra o acordo com o Mercosul. A Comissão de Agricultura pediu a suspensão da negociação birregional, depois de criticar duramente a Comissão Europeia pela retomada da negociação. Deputados ligados ao setor agrícola reclamam que a retomada foi feita sem um impacto de avaliação do acordo, e querem a suspensão das discussões até que a posição dos novos membros do bloco, do Leste Europeu e com forte interesse agrícola, como a Polônia, sejam incorporados.

Antes, os maiores ataques no Parlamento eram do setor de carnes. Agora, visam também a importação de proteínas vegetais do Mercosul, que inclui soja. O pedido de suspensão não foi votado ainda.