Título: Acordo com PMDB pode deixar tucanos com segundo cargo da Mesa da Câmara
Autor: Junqueira, Caio; Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2011, Política, p. A8

A negociação entre o PMDB e o PSDB para a composição da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados preocupa o Palácio do Planalto e setores do PT. Como segunda maior bancada da Casa, o PMDB tem direito a escolher o cargo que preferir depois da opção feita pelo PT, que elegeu o maior número de deputados e indicará o presidente. Nesse sentido, o líder da legenda na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), procurou o deputado federal Eduardo Gomes (PSDB-TO) - indicado pelo partido para ocupar cargo na Mesa - para informá-lo de que sua bancada avalia ficar com a primeira-secretaria, o que deixaria os tucanos com a primeira-vice presidência.

A decisão será tomada até segunda-feira, mas a tendência é de que o PMDB opte mesmo pelo posto, já ocupado anteriormente por Inocêncio Oliveira (hoje no PR), Osmar Serraglio (PR) e Geddel Vieira Lima (BA). A favorita para ocupá-lo é a deputada federal Rose de Freitas (ES).

Caso isso se confirme, o PSDB será o substituto direto do presidente da Câmara, o que deixou insatisfeitos setores do PT, principalmente na ala que se opõe ao candidato da sigla, Marco Maia (RS). Para esses, a anuência de Maia ao acordo desenhado por tucanos e pemedebistas pode gerar, no futuro, problemas ao governo.

A alusão imediata é ao que enfrentou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Senado Federal com as frequentes substituições do então vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB) ao presidente da Casa, José Sarney (PMDB). Quase sempre que assumia o cargo, Perillo tocava uma pauta diversa da pretendida pelo governo.

O grupo do PT ligado ao candidato do partido a presidente da Câmara, Marco Maia (RS), porém, disse ontem que a negociação é legítima e que não há riscos em a oposição aproveitar uma eventual substituição ficar com o segundo principal cargo da Casa. "Não há nenhum problema nisso. Não é um problema", afirmou o futuro líder do PT na Câmara, Paulo Teixeira (SP).

No Palácio do Planalto, a preferência é de que o PMDB fique com a primeira-vice presidência da Câmara e afaste o PSDB do cargo, mas há a avaliação de que não se trata de uma grande preocupação, tendo em vista que, ao contrário do Senado, as decisões da Casa são tomadas pelo Colégio de Líderes. Além disso, o tucano Nárcio Rodrigues (MG) foi vice-presidente quando Arlindo Chinaglia (PT-SP) presidiu a Câmara há dois anos e não houve qualquer problema.

O próprio Eduardo Gomes garante que, se acabar ocupando a vice-presidência e vier a assumir a presidência, sua conduta será institucional. "Eu não posso exercer o cargo de vice como oposição assim como o Marco Maia não vai exercer a presidência no papel de governo. Serei um vice da instituição, não da oposição", disse.

Segundo Henrique Alves, há diferenças entre a oposição nas duas Casas. "A oposição no Senado é diferente da Câmara. Lá há mais radicalização", disse, afirmando também que as substituições na Câmara serão muito mais raras que no Senado. "Marco Maia vem com muito vigor para o cargo", completou.