Título: Serristas reagem à manobra da bancada
Autor: Ulhôa, Raquel; Klein, Cristian
Fonte: Valor Econômico, 28/01/2011, Política, p. A9

O apoio de deputados federais do PSDB à recondução de Sérgio Guerra (PE) na presidência do partido provocou forte reação de aliados do ex-governador José Serra, aprofundando a divisão dos tucanos com vistas a 2014. "Foi um ato indigno, incompatível com a responsabilidade de um presidente do maior partido de oposição, que tem o dever de unir o partido na luta contra nossos adversários externos e não estimular divisões, criando adversários internos", afirmou o deputado Jutahy Júnior (BA), um dos mais próximos a Serra. "Ele se desqualificou como presidente do partido. Não assinei, não assinarei e nem votarei nele."

Jutahy responsabiliza Guerra por estimular a articulação que resultou na lista de apoio à sua recondução. Por causa de compromissos familiares, o deputado baiano não participou da reunião da bancada em Brasília, quarta-feira, durante a qual as assinaturas foram colhidas. A eleição da executiva nacional será em convenção marcada para maio. Aliados de Serra gostariam de vê-lo na presidência do partido, de onde poderia comandar a oposição.

A reunião em Brasília foi para homologar a escolha do líder da bancada, Duarte Nogueira (SP) - ligado ao governador Geraldo Alckmin. Guerra, que assume mandato de deputado no dia 1º, participou e fez um discurso afirmando que o partido está unido. Ontem, após as reações negativas à divulgação do apoio à sua recondução, ele negou que tenha participado de qualquer mobilização para a coleta de assinaturas a seu favor.

"Não me mobilizei para pedir assinatura de companheiro nenhum. Essa decisão foi tomada pela bancada sem a interferência de ninguém. Foi uma coisa natural, senão não teria tido tanta assinatura [mais de 50]. O resto é interpretação e sobre isso não me posiciono. O PSDB não pode viver de turbulências das personalidades. Não há nenhum gesto a favor de ninguém. O resto é paranoia", disse.

Sobre Serra, afirmou: "Sou companheiro de Serra, trabalhei por ele [na campanha eleitoral] e ponto final". Segundo o senador, o ex-governador nunca lhe disse que gostaria de ser candidato a presidente do partido. "Ao contrário. Me disse que eu deveria sê-lo."

O documento foi assinado até por aliados serristas. Mendes Thame, presidente do PSDB de São Paulo, justificou sua assinatura afirmando que a moção não significa uma rejeição a Serra. Considerou que o ato dos deputados teve como objetivo apenas "reconhecer o bom trabalho de Sérgio Guerra ao conduzir o partido e a campanha presidencial de José Serra".

"A maioria dos deputados com os quais estive não teve intenção de substituir os votos dos delegados que vão estar na eleição de maio. Muitos, aliás, nem votam. É o diretório nacional que escolherá a próxima executiva", disse Thame.

O deputado afirmou que o PSDB não pode se dar ao luxo de deixar congelado "um quadro competente como o Serra", mas também "não dá para imaginar que a presidência fique sem costura política com as maiores lideranças do partido como Alckmin, Aécio, Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e o próprio Serra".

Questionado sobre os movimentos de ocupação de espaço de Alckmin, em detrimento de Serra, Mendes Thame os considerou naturais. "Isso sempre foi feito por quem esteve no poder. Alckmin capitaliza seu momento. Mas está procurando, não está impondo", disse o deputado, cujo posto de presidente do partido em São Paulo vem sendo apontado como um dos espaços que Alckmin pretende ocupar.

O deputado estadual Pedro Tobias seria o candidato preferido do governador para as eleições no diretório estadual, que ocorrem no início de maio.

O constrangimento causado pela coleta de assinaturas a favor de Guerra levou Alckmin a declarar ontem apoio a eventual postulação de Serra para presidir o partido. A intenção foi negar que, ao lado de Aécio, estivesse por trás de articulação para isolar Serra, como foi publicado. "Nem sei se o Serra quer ser o presidente do partido, mas, se ele quiser, terá o meu integral apoio", disse.

Alckmin afirmou ter tomado conhecimento de que poderia haver indicação da bancada por parte do próprio Guerra, num telefonema para tratar do programa nacional de TV do PSDB. Para o governador, o assunto é "extemporâneo" e só deveria ser discutido em maio.

O novo líder considerou "maximizada" a repercussão da iniciativa da bancada e negou intenção de provocar confronto entre grupos partidários. Negou também que a ideia tenha sido de Aécio e Alckmin. "A lista será encaminhada à executiva nacional como uma indicação da bancada e reconhecimento do trabalho de Sérgio Guerra, que será nosso companheiro na Câmara", disse Nogueira.

Lembrou que a recondução ou não de Guerra não é uma decisão da bancada e que até maio serão ouvidos governadores, senadores, delegados dos Estados, enfim, toda a base do partido. "Vamos trabalhar para a união", afirmou.

As assinaturas foram coletadas pelo secretário-geral do PSDB, deputado Rodrigo de Castro (MG), aliado de Aécio no partido, e pelo deputado Bruno Araújo (PE). A movimentação ocorreu paralelamente aos entendimentos da bancada de senadores do partido para indicar os senadores Tasso Jereissati (CE) e Arthur Virgílio (AM), não reeleitos, a cargos na executiva nacional: respectivamente para a presidência do Instituto Teotonio Vilela (ITV) e para a diretoria de Relações Internacionais do partido.

Serra também é cotado para assumir o ITV, embora aliados do ex-governador afirmem que as especulações visam a enfraquecer seu nome para disputas de cargos mais importantes na legenda.

Alckmin defendeu a indicação de Tasso - "Eu acho o Tasso Jereissati um ótimo nome, um grande nome, três vezes governador do Ceará, senador da República, um grande nome" -, mas em seguida repetiu ressalva feita ao falar da presidência do partido: a de que o assunto deve ser discutido em maio. (Com agências noticiosas)