Título: Campos e Cid disputam liderança da bancada do NE
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2011, Política, p. A7

O mais novo episódio na disputa de poder entre os governadores do Ceará, Cid Gomes, e de Pernambuco, Eduardo Campos, ambos do PSB, está na condução da bancada do Nordeste na Câmara dos Deputados.

Cid apoia o deputado federal José Guimarães (PT-CE), que desde o ano passado já trabalha seu nome e é considerado favorito. Campos, presidente nacional do partido, estimula a candidatura de Gonzaga Patriota (PSB-PE).

"Essa coordenação já esteve com o Ceará, com o Rio Grande do Norte, com a Bahia. Agora é a vez de Pernambuco. Eduardo Campos me incentiva a ir adiante com a candidatura", diz Patriota, que apresenta outros dois argumentos pró-Pernambuco. Diz que no ano passado atendeu a um pedido do PT baiano, retirou sua candidatura a coordenador e agora espera esse mesmo gesto do PT nordestino. Afirma ainda que é mais experiente do que Guimarães. "Fui deputado constituinte e estou indo para o sexto mandato. Tenho mais tempo de Casa do que ele", diz.

Com 151 deputados, a bancada ganhou força nos últimos anos, devido aos forte crescimento decorrente de políticas de distribuição de renda e investimentos diretos que irrigaram a região, como a ferrovia Transnordestina, a transposição do rio são Francisco e refinarias da Petrobras. A função de coordenador dá visibilidade ao seu ocupante, pois ele passa a ser o elo dos deputados com o governo federal e os estaduais.

Nos últimos quatro anos, o posto ficou com Zezéu Ribeiro (PT-BA) que foi nomeado secretário de Planejamento pelo governador da Bahia, Jaques Wagner (PT). O fato de ter ficado com um petista baiano nos últimos quatro anos da gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o principal argumento de Eduardo Campos para que a coordenação fique com o PSB, mas não o único.

O governador de Pernambuco também pretende, com essa articulação, pacificar o partido dentro de seu próprio Estado. Patriota tem interesse em partir, em 2012, para sua quarta tentativa de se eleger prefeito de Petrolina, que, localizada a 714 quilômetros de Recife, é a mais importante cidade do sertão pernambucano.

A cidade é o berço político do clã do ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho, ferrenho adversário de Patriota. Nas eleições municipais de 2000 e 2004, Coelho, então no PPS, derrotou-o. Em 2008, já no PSB, Coelho partiu para um duro embate em favor de seu vice na disputa interna com Patriota, que acabou vencendo a convenção, mas teve metade do partido na campanha, o que o levou à terceira derrota para a prefeitura. Em outubro passado, o duelo entre os dois se deu em torno de quem seria o deputado federal mais votado no município: o filho do ministro, Fernando Bezerra Coelho Filho, ou Patriota, que "ganhou" com 30.737 votos contra 29.949.

São por essas razões que o apoio de Campos a Patriota no embate pela coordenação da bancada do Nordeste é tanto um aceno compensatório ao deputado, que viu seu maior adversário político virar ministro do bilionário Ministério da Integração Nacional, quanto uma tentativa de pacificar sua base política com vistas aos planos maiores que tem para 2014.

Na outra frente, porém, está Cid Gomes, insatisfeito com a condução que Campos deu ao partido nas negociações de cargos no primeiro e segundo escalões. Para piorar, teve de engolir a indicação, considerada "imposta", da deputada Ana Arraes (PSB-PE), mãe de Campos, como líder da bancada do PSB na Câmara.

Embora petista, aliados de Cid afirmam que é mais interessante para ele apoiar Guimarães do que Patriota. O deputado tornou-se um dos principais aliados do governador cearense após os desentendimentos da presidente do PT do Ceará e prefeita de Fortaleza, Luizianne Lins, com Cid e seu irmão, Ciro Gomes. Ele é também um dos elos da legenda e do governo federal com os dois.

Além de apoios diversos no PSB, o plano de trabalho de Guimarães e Patriota é diferente. O pernambucano promete atuar mais fora do Congresso, fazendo, por exemplo, a interlocução dos Executivos estaduais e da bancada com os ministérios. O cearense diz que irá propor ao próximo presidente da Câmara a criação de uma comissão permanente de desenvolvimento regional na Casa. O melhor meio, segundo ele, para por em prática sua ideia de que todo projeto em tramitação tenha o recorte regional e, principalmente, nordestino.

Em comum, têm a aversão ao conflito na escolha do coordenador. "O nome sempre foi escolhido por consenso. Não vou entrar em nenhuma guerra por ele", diz Guimarães. Patriota vai na mesma linha: "Nunca fui empecilho para a unidade. Não criarei nenhuma aresta. Se for o caso, e o governador Eduardo Campos concordar, eu abdico de concorrer."