Título: EUA querem apoio do BNDES para estreitar negócios com o Brasil
Autor: Leo, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2011, Internacional, p. A8

De Davos

O subsecretário de Estado para Assuntos de Economia, Energia e Agricultura dos EUA, Robert Hormats, um dos principais encarregados de preparar a visita do presidente Barack Obama ao Brasil, ainda não confirmada oficialmente, esperou pacientemente que o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, terminasse as conversas que se seguiram a uma apresentação de bancos de desenvolvimento, no Fórum Econômico Mundial, para levá-lo a uma conversa reservada. As empresas americanas querem o empenho do BNDES para fazer do encontro entre Obama e a presidente Dilma Rousseff um marco na cooperação entre os dois países, disse Hormats a Coutinho.

"Discutimos sobre como nossos países podem cooperar com o banco e como banco pode cooperar no planejamento para temas que levarão às conversas presidenciais", disse Hormats, propositadamente vago, ao comentar o encontro de 40 minutos com Coutinho. "Há grande interesse das empresas americanas, duas delas que estão trabalhando muito perto com o Brasil, são a IBM e a GE ", adiantou. "A questão-chave é que gostariam de trabalhar mais estreitamente com companhias brasileiras".

Antes de viajar à Suíça, Hormats teve um encontro com a Câmara de Comércio Brasil-EUA, representante de mais de 60 firmas com interesse no Brasil. "Estamos estudando as possibilidades para joint ventures entre firmas brasileiras e americanas", acrescentou o diplomata, cujas funções equivalem a de um vice-ministro. Energia e gás são dois temas de destaque no forte aspecto econômico que a visita de Obama deverá ter, adiantou.

Coutinho informou que insistiu sobre a necessidade de incluir propostas de transferência de tecnologia e demanda por produtos brasileiros nas conversas bilaterais sobre cooperação em negócios. "Combinamos fazer reuniões preparatórias para a viagem de Obama, e eu disse que é natural que se criem oportunidades para comércio e investimento americanos", relatou. "O Brasil perdeu um pouco de espaço com os americanos. Ponderei que, do nosso lado, também temos forte interesse em tecnologia e investimento direto".

O Brasil teve participação discreta no Fórum, tanto pelo pequeno (menos de 10) número de executivos e banqueiros presentes quanto nas discussões dos painéis de debate. O nome do país foi acompanhado de elogios ao êxito na distribuição de renda e alertas quanto à necessidade de controle das contas públicas.

Nos outros debates, quando mencionado, o Brasil foi associado a boas práticas econômicas e ao conjunto de emergentes, encabeçado por China e Índia. Em conversas à margem das conferências, executivos de empresas como Intel, Monsanto e Bank of America exibiam entusiasmados planos de expansão de atividades no país.

No painel dedicado ao Brasil, na sexta-feira, Coutinho e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, enviaram mensagem de cautela aos investidores. O BC está disposto a usar as ferramentas que tem para enfrentar a situação de "muita demanda", disse Tombini. Coutinho anunciou que, em breve, serão divulgadas medidas de tributação e financiamento para facilitar as exportações do país. (SL)