Título: Imagem do país ainda afeta investimento externo
Autor: Lima, Marli
Fonte: Valor Econômico, 31/01/2011, Especial, p. A12

Nem todos os brasileiros que investiram no Paraguai estão felizes. "Maldito é quem pisa aqui. Estou arrependido", disse um deles, que não quer ser identificado. Ele reclama da demora para receber matéria-prima importada e avisa que está de saída. "É melhor pagar mais impostos e produzir no Brasil. Aqui, estrangeiro se dá bem é com comércio."

Há muitas diferenças no modo de fazer negócios dos dois lados da fronteira. Algo que chama a atenção de quem vai ao Paraguai, por exemplo, é a quantidade de seguranças armados. Seja em portarias de fábricas ou na entrada de lojas, eles carregam um revólver ou pistola na cintura e uma arma longa na mão. "Assusta no começo, mas dá mais segurança, nunca vi as armas serem usadas", comenta o empresário Alexandre Bazzan, da Cortinerias del Paraguay.

Na cabeça de muitos brasileiros, a imagem do país inteiro é semelhante ao que se vê nas três primeiras quadras de Ciudad Del Este, logo depois da Ponte da Amizade - um emaranhado de lojinhas e barracas de camelôs, que vivem entupidos de brasileiros em busca de mercadorias falsificadas. Nos quatro dias que passou no país, o Valor ouviu de empresários que o "hecho en Paraguay" já não assusta os consumidores e a etiqueta é encontrada até em produtos vendidos na varejista espanhola Zara.

"Ainda é preciso trabalhar mais na mudança da imagem de que temos má qualidade e somos um país de contrabando", explica Raquel Ramirez, do Conselho Nacional da Indústria Maquiladora de Exportação. Ela diz que o Paraguai está mais aberto e o empresário estrangeiro está protegido pela lei.

Tanto Raquel como outros representantes do governo demonstram cuidado ao falar dos incentivos que oferecem. "Vendemos a "maquila" como regime de complementação. Processos que exigem menos tecnologia podem ser feitos aqui", explica ela. "A intenção do governo não é tirar empresas do Brasil."

Embora a Ley de Maquila tenha sido regulamentada em 2000, sua divulgação foi reforçada nos últimos quatro anos. Nelson Amarilla Andino, secretário de Indústria e Comércio do Departamento de Alto Paraná, ao qual pertence Ciudad Del Este, é outro que aposta que a imagem do país vai mudar e que o Brasil também será beneficiado com isso. "Não há pior vizinho que vizinho pobre", diz ele, que recebe os interessados e apresenta as vantagens da região, além de ajudar no estudo de viabilidade técnica.

O Paraguai já possui exemplos de brasileiros que cruzaram a fronteira para atuar em indústria e deram certo. Uma empresa de fiação e outra de fabricação de seringas estão em processo de implantação. Andino fala de outras que chegarão, das áreas de eletrônica, autopeças e móveis. "O brasileiro vem procurar custo menor. Mercado ele já tem", diz. (ML)